sexta-feira, 16 de abril de 2021

Genesis Trespass

Espremido entre o obscuro "From Genesis to Revelation" e o clássico "Nursery Crime", Trespass dificilmente é a primeira lembrança quando o assunto é falar sobre Genesis.

O álbum é sintetizado por muitos como "embrionário", mas seu valor vai muito além disso e uma audição mais cuidadosa revela uma verdadeira viagem sensorial, sem contar que aqui já estão presentes praticamente todos os elementos que seriam explorados ao longo da fase considerada "progressiva" pela banda e que diferente do que acontece aqui, contaria com uma formação já consolidada.
Nota-se por exemplo a predominância dos temas desenvolvidos aos violões impulsionados pela dupla Anthony Phillips e Mike Rutherford, o que dá ao álbum uma alcunha quase etérea em sua primeira metade. Anthony é um mestre nos arranjos de 12 cordas, algo que é marcante em sua carreira pós Genesis.
Mas os destaques vão bem além. A voz de Peter Gabriel embora ainda transite por um timbre mais limpo já apresenta as características marcantes que conhecemos, proporcionando momentos que vão do suave ao agressivo, sendo Looking For Someone o maior exemplo dessa "transição" que se complementa ainda mais se considerarmos a sequencia em White Mountain, sem contar que as letras entram numa crescente de complexidade, incorporando temas fantásticos.
De forma geral há uma evolução absurda se comparando ao primeiro álbum, apresentando temas bem mais elaborados mas que certamente remeteriam àquele registro, como o caso de Visions of Angels e Dusk.
A épica Stagnation funciona quase que como um protótipo do que o Genesis viria a desenvolver a partir dali, criando uma verdadeira colcha sonora de elementos que vão se complementando em diferentes seções.
Com o som da banda evoluindo para uma cada vez mais crescente complexidade sonora, nota-se claramente a falta que fazia um trabalho de bateria mais presente. Não que John Mayhew comprometa, mas seu estilo quase discreto, limita a banda em termos de opções, e pode-se facilmente imaginar o que esse álbum teria ganho se tivesse sido gravado pelo próximo e verdadeiro titular das baquetas na banda, não preciso preciso dizer quem, né?
But "all change" e no final do álbum, esse lado "pastoral" que torna Trespass o álbum mais "folk" do Genesis, se quebra por completo quando as primeiras notas de hammond introduzem The Knife. Aqui estamos diante de algo especial, e testemunhamos o último elemento que faltava, que é o encontro sonoro com a "agressividade e obscuridade" como Gabriel bem definiu na época. Há espaço inclusive para uma seção dominada pela distorção na guitarra, algo que quase não acontecia até então.
Conta-se que The Knife foi a última música que a banda compôs para o álbum, e que soou tão surpreendente que consideraram que precisaria ser refletido na arte da capa que já estava finalizada. Em decorrência disso, foi sugerido a inclusão de um corte por um punhal real à tela. A fotografia desse momento passaria para a posteridade na versão final da arte criada por Paul Whitehead. The Knife se tornou obrigatória nos shows do Genesis desde então um legado para posteridade!





Nenhum comentário:

Postar um comentário