PROFESSORA DE PORTUGUÊS DANDO AULA
(Texto de Vivian Cabrelli Mansano)
"Não sou homofóbica, transfóbica, gordofóbica.
Eu sou professora de português.
Eu estava explicando um conceito de português e fui chamada de desrespeitosa por isso (ué).
Eu estava explicando por que não faz diferença nenhuma mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos pra ser "neutre".
Em português, a vogal temática na maioria das vezes não define gênero.
Gênero é definido pelo artigo que acompanha a palavra.
Vou mostrar pra vocês:
O motorista. Termina em A e não é feminino.
O poeta. Termina em A e não é feminino.
A ação, depressão, impressão, ficção. Todas as palavras que terminam em ção são femininas, embora terminem com O.
Boa parte dos adjetivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos quanto femininos, independentemente da letra final: feliz, triste, alerta, inteligente, emocionante, livre, doente, especial, agradável, etc.
Terminar uma palavra com E não faz com que ela seja neutra.
A alface. Termina em E e é feminino.
O elefante. Termina em E e é masculino.
Como o gênero em português é determinado muito mais pelos artigos do que pelas vogais temáticas, se vocês querem uma língua neutra, precisam criar um artigo neutro, não encher um texto de X, @ e E.
E mesmo que fosse o caso, o português não aceita gênero neutro. Vocês teriam que mudar um idioma inteiro pra combater o "preconceito".
Meu conselho é: ao invés de insistir tanto na coisa do gênero, entendam de uma vez por todas que gênero não existe, é uma coisa socialmente construída.
O que existe é sexo.
Entendam, em segundo lugar, que gênero linguístico, gênero literário, gênero musical, são coisas totalmente diferentes de "gênero". Não faz absolutamente diferença nenhuma mudar gêneros de palavras. Isso não torna o mundo mais acolhedor.
E entendam em terceiro lugar que vocês podiam tirar o dedo da tela e parar de falar abobrinha, e se engajar em algo que realmente fizesse a diferença ao invés de ficar arrumando pano pra manga pra discutir coisas sem sentido."
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