quarta-feira, 28 de julho de 2021

Afinidade

 AFINIDADE - De Artur da Távola:

Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo  e  ao depois. A afinidade não é o mais  brilhante, mas o mais  sutil, delicado e penetrante  dos  sentimentos. É o mais  independente também. Não  importa  o  tempo,  a  ausência,  os  adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando  há  afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a  conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido. Ter afinidade é  muito raro. Mas  quando  existe  não  precisa  de  códigos  verbais  para  se manifestar. Existia  antes  do  conhecimento, irradia  durante  e permanece depois  que  as  pessoas  deixaram de estar juntas. Afinidade é ficar longe pensando parecido a  respeito  dos  mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar  conversando sem trocar palavras. é receber o que vem do  outro  com  aceitação anterior ao entendimento. Não é sentir nem    sentir  contra. Nem sentir para. Nem sentir por. Nem sentir pelo. Afinidade  é  sentir com. Sentir com é não ter  necessidade  de  explicar o que  está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar    do  que  falar,  ou, quando falar, jamais explicar: apenas  afirmar. Afinidade  é  ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É conversar  no  silêncio, tanto nas possibilidades  exercidas  quanto  das  impossibilidades vividas. Afinidade  é retomar a relação no ponto em que parou  sem lamentar o tempo de separação.  Porque  tempo  e  separação  nunca existiram. Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida.

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