UMA MATÉRIA de BRUNO PALMA
A tecnologia a serviço da vontade humana.
Olá a todos! Gostaria de agradecer à equipe da SANTO ANGELO pela oportunidade de contribuir mais uma vez com a galera que segue a marca, tratando de um assunto bem atual, interessante e até motivador.
Sabemos que a velocidade da informação cresceu a passos largos nos últimos anos devido à evolução tecnológica. Sobre essa evolução e como ela vem interferindo na música é o tema que dividirei com vocês.
Acredito no ser humano que luta por viver a Vida da melhor forma possível, sendo capaz de se reinventar a cada tropeço. Por isso, lembrarei alguns exemplos de músicos que assim o fizeram. Auxiliados por cientistas e certamente amantes da música, eles desenvolveram soluções para as dificuldades impostas pela Vida, para que a Música nunca parasse de fluir dos seus corações. Seja a perda de um membro, devido a acidentes ou deficiência congênita, estas dificuldades físicas não foram suficientes para desmotivá-los ou fazer com que desistissem.
Começo citando o caso do músico e baterista norte-americano Jason Barnes. Ele foi vítima de um grave acidente, quando uma descarga elétrica destruiu seu braço, quase pondo fim a sua carreira de baterista. Só que Jason viu ali uma oportunidade de se reinventar e se recusou a aceitar tal situação. Ele poderia seguir o exemplo de Rick Allen, baterista de um braço só do Def Leppard, mas preferiu utilizar a tecnologia. Rick Allen, que também foi vítima de um acidente, usa uma bateria feita especialmente para ele em suas apresentações. No instrumento adaptado, os controles de ritmo estão todos nos pés, possibilitando que o músico toque apenas com o seu único braço.
Já no caso de Jason, inicialmente foi pensada a prótese para encaixar uma baqueta no que restou de seu braço, porém o resultado não foi o esperado. A essência da arte da percussão está no pulso. Parecia não haver saída, até que um cidadão chamado Gil Weinberg entrou no caminho de Jason. Ele é o fundador do Centro de Tecnologia Musical da Georgia Tech.
Juntos, desenvolveram uma prótese robótica com sensores que detectam sinais neurais no bíceps de Jason, e movimentam a baqueta imitando o movimento do pulso. Além de repor o funcionamento do membro incluíram uma segunda baqueta. A segunda baqueta pode-se dizer inteligente, pois é capaz de entender a Música sendo tocada, analisar o ritmo e improvisar sozinha. Jason Barnes toca com três baquetas.
Ainda no mundo das baquetas, gostaria de citar um grande músico e que vive perto de nós. O baterista Brasileiro Tulio Fuzato, descendente de uma família musical italiana. Aos 10 anos (1967) teve seu primeiro contato com a bateria numa festa de escola e já saiu tocando. Cresceu ao som dos Beatles e mais tarde com sua educação musical “americanizada” passou a escutar e a tocar o que hoje se chama de Classic Rock. Em 2003 perdeu as duas pernas num trágico acidente.
Em 2004 retornou aos palcos dando a volta por cima, após reabilitação e instalação de duas próteses para andar e tocar bateria. Hoje ele tem um site e inúmeras menções no exterior, sendo um dos raros bateristas amputados no mundo, juntamente com Rick Allen, citado acima, de quem é amigo pessoal. Túlio tem uma extensa carreira como músico na noite e também em estúdio.
É de Túlio, numa entrevista ao Canal DrumChannel a seguinte citação: “Há grandes preconceitos sobre pessoas com deficiência. ‘Ah! Esse cara não vai conseguir coisa alguma!’ Mas agora, nós, pessoas com deficiência, somos uma parcela importante da sociedade moderna no mundo. Estamos exigindo (através de Leis) vaga de emprego, na universidade, na música, nas artes e em todas as esferas da vida humana. Todo o caminho de expressão. Não há outro modo. Depende de nós! Você pode desenhar com a boca. Você pode nadar sem braços. Você pode tocar os tambores sem as pernas.”
A TV Futura produziu em 2011 um documentário contando a história de superação de Tulio Fuzato, um músico que superou um enorme drama pessoal com a ajuda da bateria. Veja a seguir o documentário, agora com legendas em inglês:
Vamos mudar de instrumento e seguir para o mundo das cordas, abordando o caso de um menino colombiano chamado Diego que sonhava em tocar guitarra e que chegou lá através da tecnologia.
Uma cena do filme RoboCop que impressiona bastante é o sujeito tocando violão com próteses mecânicas. Será que ainda estamos longe de tal fato?
Diego Corredor é um menino que nasceu sem a mão direita e quer exercer o sagrado direito dos jovens de ser um grande guitarrista. Ele tem próteses que usa para manipular objetos, mas nenhuma funciona direito com uma palheta.
Para a sorte desse adolescente colombiano, um grupo chamado 3Dglück se interessou, estudou o caso e projetou um braço impresso em 3D específico para música e palhetas, com direito a decoração personalizada.
Atualmente por apenas US$ 50,00, Diego ,que sempre gostou de Música, está finalmente aprendendo a tocar.
Quando se fala em superação no mundo das cordas, um nome que me vem sempre à cabeça é o da lenda viva Jason Becker. É incrível entender e conhecer a história de Jason como guitarrista e ser humano que luta para sobreviver e consegue através da tecnologia se comunicar e continuar a escrever Música. Ele já conhecia a fama aos 16 anos por ser um guitarrista muito virtuoso e aos 20 anos foi convidado para a banda de David Lee Roth como substituto de Steve Vai. Ele começou a gravar o álbum “A Little Ain’t Enough” em 1990 e ganhou o prêmio de “guitarrista revelação” da revista Guitar Magazine naquele ano.
O futuro da carreira de Jason parecia não ter limites, graças ao seu reconhecimento como guitarrista. As coisas iam cada vez melhores até que, ainda durante as gravações de “A Little Ain’t Enough”, ele começou a mancar da perna esquerda, alegando fraqueza. Por um tempo, Becker ignorou o problema, mas após pressão de seus amigos e familiares, foi ao médico, que pediu exames mais profundos.
Constatou-se, então, a manifestação da Doença de Lou Gehrig, também conhecida como ALS — Esclerose Lateral Amiotrófica — uma doença degenerativa e incapacitante, a mesma que tirou os movimentos do físico teórico Stephen Hawking e que deu origem ao Ice Bucket Challenge. No decorrer dos anos, Jason foi perdendo os movimentos do corpo, primeiro das pernas, depois braços – obrigando-o a parar de tocar guitarra – e por fim a fala. A ALS não atingiu seu cérebro e nem sua audição ou visão, mantendo-o, portanto plenamente lúcido.
Atualmente, Jason respira com a ajuda de um aparelho que controla o funcionamento de seu diafragma e comunica-se através de um sistema desenvolvido por seu próprio pai, Gary, que dividiu as letras do alfabeto em grupos de quatro, numa tela, onde Jason direciona seus olhos, formando palavras.
No ano de 2012, o diretor Jesse Vile lançou um documentário sobre sua história, intitulado “Jason Becker: Not Dead Yet”, reunindo diversos amigos e familiares de Jason. O vídeo mostra o nascimento da paixão pela música, a revelação do talento, o sucesso, a manifestação da ALS e a batalha que Becker travou com a doença, para manter-se vivo.
Por fim, o exemplo de Jason , que como já disse é uma lenda viva da guitarra, tanto por seus projetos e o “Cacophony”, tem sido cada vez mais inspirador para mim. Da mesma forma, espero que todos esses casos mencionados possam de alguma maneira despertar-lhe o desejo de ser melhor e levar esse conhecimento a pessoas que no momento estão debilitadas. Quem sabe elas encontram na Música um motivo a mais para continuar?
Gostaria de agradecer especialmente ao Tulio Fuzato, com quem conversei através do Facebook e que me deu todo o apoio para que fizesse esse post contando sua história.
Deixo também um link da TRS, uma empresa especializada em próteses para músicos, em caso de alguém precisar de outros detalhes.
Se quiserem, comentem suas opiniões a fim de que possamos todos aprender uns com os outros. Sempre.
Um Forte abraço e até a próxima oportunidade.
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