sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A Saga Musical de um Baterista



Vamos imaginar um músico e o seu dia-à-dia, sua rotina de aulas, trabalhos de Studio, GIGS da night, viagens, apresentações! AFF nada fácil não???

Agora vamos imaginar esse mesmo músico sendo uma PCD.
Sim isso mesmo, um Def. Físico = PCD = pessoa com deficiência!

Quais seriam os obstáculos e as maiores dificuldades para essa pessoa ser bem sucedida na carreira.

Pois então trouxemos do Rio de Janeiro o Músico Baterista Tulio Fuzato.
Tulio é bi-amputado AK BK, Casado com Lia Campos, Publicitário, pai de 6 filhos (sendo 4 entiados).
Ele perdeu as pernas depois de um mal súbito que lhe causou um desmaio à beira da plataforma do metrô no Rio de Janeiro em junho de 2003.
Foi protetizado e voltou à tocar bateria!

Tulio: FALE SOBRE ESTE UNIVERSO da MUSICA e sua determinação em superar os obstáculos.

Eu fui reabilitado na ABBR - Rio, aprendí à andar, voltei à viver, conhecí a Lia (minha mulher), tudo perfeito, mas faltava algo: A música!

Durante algum tempo eu tocava pra eu mesmo, teclado, guitarra, contrabaixo, gravava, etc. Mas o Ritmo mexia comigo eu tinha muitas saudades da "BATERA".
Amigos inconformados diziam que eu deveria voltar à tocar. Eu tinha acabado de ser protetizado e foi sentando no banquinho da bateria e experimentando timidamente um pedal aqui, uma pisada alí, que eu finalmente conseguí dominar os rudimentos simples no bumbo e hi-hat (par de pratos). Conseguí sair tocando.

Os treinos me causavam caimbras, dores, pois mesmo cumprindo a carga de Fisioterapia prevista, eu tinha que fazergrande esforço para acionar o coto Femural; a coxa tocava a perna com o joelho mecânico; o joelho mecânico acionava o Pé protético; e o Pé acionava a sapata do pedal de Bumbo.
Na verdade eu usava 3 novos equipamentos para conseguir Bumbo e contra-tempo na parte inferior da bateria.
Foi dessa habilidade e a força de vontade Férrea que fizemos um show de CLASSIC ROCK numa casa noturna na zona sul do Rio.
Tudo parecia fácil comigo sentado atrás do instrumento. 
As pessoas chegavam, sentavam nas mesas reservadas e nem percebiam que na bateria havia um Def. Físico uma "PCD".
Alguns conhecidos sabiam e ao final invadiam o palco para me abraçar, falar etc ..... aqueles que me viram pela primeira vêz levantando, saindo do instrumento com um par de muletas ficavam estarrecidos pois não acreditavam que uma PCD (pessoa com Deficiência) jamais poderia estar alí tirando aquel som maravilhoso daquela batera com uma bandaça de Rock!

Certamente o mercado musical alternativo da night Carioca passou desapercebido de tudo isso, pois a função do Músico é ensaiar pra tocar perfeito no dia do Show. Até ae nada sério! só que o mundo não é adaptado ou acessivel e isso não poderia ser diferente com STUDIOS, PALCOS, GRAVADORAS, BARZINHOS, etc ....
Se o Musico já tem que "ralar" pra chegar no local levando pratos pesados, stands e caixa; imagina um def. Físico com um par de muletas???? (RISOS).
Escadas, sobrados, palcos com até 60cm de altura sem escadas, etc .... e isso nem chega perto do pré-conceito que se faz das PCD´s.

Certa feita eu estava no Studio "X,Y,Z". O carinha da técnica havia chegado atrazado e todo esbaforido começou à perguntar quem é o batera??? quem é??? Apontaram pra mim, eu que estava recostado numa parede apoiado descançando tranquilamente na muletas.
O rapaz fêz uma cara! arregalou os olhos! se retirou pra dentro da Técnica. Eu sentei na bateria, larguei as muletas, armei os pratos e começamos à ensaiar. 
Ao término do ensaio, o rapaz veio até eu com os olhos marejados, chorando, porque ele jamais teria acreditado que uma pessoa sem as duas pernas poderia um dia sonhar em estar alí como um musico profissional.

Certamente muitos outros fatos se passaram e hoje eu consigo encarar algumas situações de forma natural, mas eu sempre necessito da ajuda de amigos pra montar o kit, levar pratos, etc ... Troquei algumas experiências com Marcelo Yuka e Hebert Viana e aprendí bastante com eles e a forma como hoje encaram a dificuldade de acesso nos PALCOS dessa vida musical.
Além da bateria, um outro instrumento de trabalho é o meu Honda Fit automatico com uma adaptação Cavenaghi.
Eu posso viajar pra tudo que é lado e encarar as GIGS (GIG é trampo musical pago).
Hoje eu tenho a felicidade de ser um dos ENDORSERS da ORTOPEDIA FOLLOW-UP por intermédio do renomado Engenheiro Biomédico Mário Cesar Carvalho e Alex Santos.
Eles cuidam do meu caminhar.

Estou dando aulas, fazendo palestras, drum-Clinics e Workshops.
Toco exclusivamente nos redutos de Blues e Rock!
Me sinto pleno e realizado reconhecido Lá fora como "the amputee drummer".

Deixo uma mensagem:

Niguém está livre de uma "catástrofe" um desastre em suas vidas; sejam fortes sejam PERSEVERANTES e nunca desistam de seus sonhos!
Vão aparecer "anjos" em forma humana no teu caminho!!! ACREDITE!!!
Siga trilhando os caminhos do Bem e da Verdade!!!

Ainda que alguns sumam da tua vida e te reneguem pela falta de Amor ou pelo preconceito; crie você mesmo novas circunstâncias, você tem esse poder!

“Deus nos concede a cada dia uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocamos nela, corre por nossa conta”. Emmanuel  ........... 


tulio.fuzato@gmail.com
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