quinta-feira, 4 de abril de 2019

Patrick Moraz

QUE FIM LEVOU PATRICK MORAZ?
Yes, Vímana, Zé Ramalho, Moody Blues, etc ....














































Essa passagem do Patrick Moraz aqui pelo Brasil e seu flerte musical com a banda Vímana está detalhada nestas Linhas, no que se refere especificamente a esse período envolvendo Patrick Moraz e Músicos Brasileiros.

O universo do rock nos anos 70 no Brasil era algo tão marginal (não apenas no sentido estético, mas no social mesmo) que era impossível que todo mundo que freqüentava os shows não se conhecesse e, vez por outra, tocasse junto. 
"A sensação que eu tinha era a de que, no Rio de Janeiro, havia quinhentas pessoas que gostavam de som", lembra Lulu Santos. 
"Tinha sessão à meia noite do The song remains the same? Apareciam as quinhentas pessoas. Tinha show do Terço no Tereza Raquel? Tava lá aquele povo". E, nesse microcosmo, o Vímana acabou reinando soberano. 
Apesar de praticamente desconhecido fora do estado do Rio, o grupo chegou a tocar em festivais como o Som, Sol e Surf, em Saquarema, no verão de 1976, o Banana Progressiva, em São Paulo, em 1974; ou o Hollywood Rock, no Rio, em 1975, ao lado de Raul Seixas, Erasmo Carlos e Rita Lee. 
Mantinha curtas temporadas em teatros da capital carioca, na Ilha do Governador e no Campo dos Afonsos, e em outras cidades, como Niterói e Petrópolis. Era, tudo considerado, uma superbanda do underground da época.

O auge desse delírio progressivo foi quando o tecladista suíço Patrick Moraz, ex-integrante do Yes resolveu convidar a banda para acompanhá-lo. O músico tocara no grupo inglês em 1974, gravando o controverso Album Relayer e partindo para a carreira solo dois anos depois - já flertando com a música brasileira em seu disco Story of I, que trazia os músicos Chico Batera, Paulinho Braga, Gordinho, Jorginho e outros doze percussionistas locais. Seus dois LPs seguintes, Out of the sun e Patrick Moraz III aprofundavam mais essa "visão antropofágica" invertida de gringo que, se casou com um brasileira, bandeou-se para o Rio de Janeiro. Assistiu a um show do Vímana no Festival de Saquarema e viu no quinteto o misto de exotismo e profissionalismo que poderia desviar sua carreira do rumo mais evidente, a irrelevância.

O flerte musical com o suíço colocou o Vímana numa encruzilhada. Eram respeitados no cenário progressivo carioca, tendo um single por uma grande gravadora; mantinham-se profissionalmente e se encaminhavam para o lançamento do primeiro LP. Por outro lado, a tentação da carreira internacional era forte, e a mítica "Yes", sedutora. Apesar da pirataria cultural de Moraz (que falava em cachês de vinte dólares) e da lorota de competir mundialmente com o próprio Yes, os vímanas se decidiram por acompanhá-lo. Rescindiram o contrato com a Som Livre, que engavetou os tapes do seu primeiro LP, e, para efeitos práticos, dissolveram o grupo. O que era banda se tornou grupo de estudo, que acompanhava Moraz. O que já eram ensaios duríssimos ganhava contornos de sacerdócio. Como não fizessem mais shows próprios, os brasileiros mergulharam num período de quase um ano de intermináveis ensaios diários, complicadíssimos exercícios de virtuosismo e paciência.

De certa forma, os meninos do Vímana entraram mesmo para a alta roda: passaram a viver cercados de advogados e a receber visitas constantes de diretores de gravadoras inglesas. Chegaram a gravar alguns temas instrumentais nos estúdios da PolyGram, no Rio. Mas Moraz começou a nutrir certo ciúme de Lulu, guitarrista e cantor com domínio de palco e carisma próprio. Já o brasileiro se submetia cada vez menos ao suíço e ainda alardeava que sua primeira medida na carreira internacional seria substituir Fernando Gama pelo superbaixista americano Alphono Johnson. Moraz, que gostava de Gama, tramava demitir Lulu e incluir o jazzista Ray Gomez na banda. Gomez, por sua vez, já ticara no primeiro disco solo de Johnson, Yesterday's dream. Lobão, de trás de sua bateria, se fartou de tanta encrenca e brigou com Lulu, que acabou deixando o grupo. O percussionista Djalma Corrêa foi agregado à formação e mais semanas se passariam até que viesse à tona que Lobão estava, paralelamente às picuinhas musicais, desenvolvendo um romance tórrido com a esposa de Moraz. Aos dezenove anos, o baterista acabara de descobrir Elvis Costello e os Sex Pistols e, no frescor da juventude, entendeu o porquê de a música do todo-poderoso Moraz não deslanchar - pelo prosaico motivo do rock progressivo não existir mais. E Lobão saiu da banda "para viver", colocando nela seu ponto-final.

Cada um tomou sua própria carruagem celeste e foi cuidar da vida. Ritchie voltou a lecionar inglês e começou a preparar algumas fitas-demo com amigos, como o publicitário Bernardo Vilhena, ex-integrante da trupe de poesia e performance Nuvem Cigana, que já fazia letras para o Vímana. Lulu formou com Arnaldo Baptista e o também ex-Mutante Antonio Pedro de Medeiros uma banda chamada Unziotro (um misto de soft rock a Elton John com levadas funk), que não passou de poucos ensaios. Em seguida, arrumou um emprego na Som Livre como produtor das trilhas sonoras das novelas das TV Globo. Simas deu um cavalo-de-pau em seu destino, comprou um sítio em Mirantão, na região mais virgem de Visconde de Mauá, e passou a dedicar-se à macrobiótica - que o levaria, já nos anos 80, a estudar em Boston. Morando nos Estados Unidos com os filhos, lançaria, somente na década de 90, um disco solo, de choro. Fernando Gama foi convidado a integrar a derradeira formação dos Mutantes, de fevereiro a junho de 1978. Depois se lançou como músico de estúdio tocando com Roberto Carlos, Chico Buarque e Tom Jobim, entre outros. Chegou a lançar um compacto solo, "Saudade do futuro", em 1986, e a entrar para o Boca Livre, anos depois. Lobão se casou com Liane Monteiro, a dita ex-senhora Patrick Moraz, doze anos mais velha. Ele ganhou três enteados e passou a viver, como define, em "cárcere privado", o que o levou a tentar o suicídio misturando uísque com seus remédios para epilepsia. Esporadicamente, emprestava seus talentos nas baquetas a artistas diversos como Luiz Melodia, Walter Franco e Zé Ramalho.

Com o coração duplamente partido, Patrick Moraz se mandou de volta para a Europa e foi o único desavisado a insistir no rock progressivo. Quando o quinteto brasileiro se desfez, o estilo já era ridicularizado no mundo todo - embora, para efeitos culturais, o Brasil não fizesse parte desse "mundo todo". Como toda uma geração que cresceu nos anos 70, Lulu, Lobão, Fernando, Luiz Paulo e Ritchie não sabiam bem o que fazer, mas sabiam que alguma coisa precisava ser feita.





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