segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Cordão umbilical

"Cortar o cordão umbilical é uma prática comum nos hospitais ao redor do mundo. Como se alguma coisa fosse acontecer se o bebê não fosse separado imediatamente de sua mãe e de sua fonte de oxigênio, sangue e nutrientes. Ou é uma pressa do profissional de acabar logo e passar para o próximo?

É uma prática enraizada na nossa cultura por milênios, e é reconhecia por Michel Odent como sendo mais uma “desculpa” para a separação imediata entre mãe e bebê. Como no passado se acreditava que o colostro (o primeiro leite) era prejudicial para o bebê.

Muitos estudos científicos têm comprovado os benefícios do corte tardio do cordão umbilical. Mas se pararmos para observar o lado do bebê e até outros mamíferos, fica fácil de entender.

O cordão umbilical sai do umbigo do bebê e se liga na placenta. A placenta por sua vez, está ligada a parte interna do útero materno. Durante toda sua vida o bebê recebeu oxigênio, sangue e nutrientes filtrados pela placenta. Envolto pela bolsa d’água, ele estava protegido, aquecido e confortavelmente apertado.

O parto é uma transição muito importante tanto para a mãe quanto para o bebê. O bebê passa pelo canal vaginal, o que estimula a saída de líquido pelas vias aéreas e também é importante para imunidade do bebê. Quando ele sai seus pulmões se expandem e a temperatura muda, estimulando a respiração. Mas o cordão umbilical ainda está ligado no bebê como esteve durante 9 meses! E ainda continua pulsando, enviando oxigênio, sangue e nutrientes.

Dessa forma o bebê ainda recebe oxigênio do cordão umbilical e tem a chance de aprender a respirar sem um corte abrupto dessa fonte. O cordão pode pulsar por vários minutos, soube de um cordão que pulsou por 40 minutos ! Ele pára de pulsar naturalmente e passa de um cordão grosso e cheio de vida para fino e branco. Eu já vi bebês muito saudáveis só resmungarem, dar um chorinho, mas logo pararem… mas na minha prática com parto domiciliar só cortávamos o cordão depois de a placenta sair. Observe a foto do cordão umbilical ao longo de 15 minutos.

Se o corte é feito logo que o bebê sai, claro que ele vai dar aquele choro forte na hora, pois ele é obrigado a expandir os pulmões se não ele fica sem oxigênio! Além de também ficar sem o aporte sanguíneo que ele naturalmente deveria receber, que fica preso na placenta. Um desperdício! O bebê ganha cerca de 100 ml a mais de sangue pelo cordão umbilical até o 3o minuto de vida, o que é um volume considerável para um bebê. E esse aporte sanguíneo previne anemia no primeiro ano de vida. Há evidências suficientes para que aconteça a mudança na prática. Uma das recomendações da Organização Mundial de Saúde é o corte tardio do cordão umbilical.

Entre os outros mamíferos o corte do cordão umbilical é realizado depois da placenta ter nascido ou até mesmo horas após o parto. Pois se eles cortassem antes o filhotinho provavelmente teria uma hemorragia, pois eles não têm clamp para clampear o cordão umbilical e prevenir que saia sangue pelo coto umbilical. Então a natureza mostra que essa prática não é natural… não sei em que momento na história decidiram que cortar o cordão umbilical logo que o bebê nasce é benéfico. Mesmo o tétano neonatal poderia ser na sua grande maioria prevenido se o cordão umbilical fosse cortado algumas horas após o parto.

O cordão umbilical também tem o tamanho perfeito para o bebê ir direto para o colo da sua mãe, sem que seja cortado. E é ali que o bebê precisa estar. Do lado de fora de onde ele estava, na barriga da sua mãe. Para a mãe também é um presente ter seu tão esperado bebê em seus braços, trocar cheiro e olhares.É um momento fundamental para o vínculo entre mãe e bebê. A amamentação geralmente inicia nessa hora. É também confortante, pois o bebê estava dentro da sua barriga, então não dá aquela sensação de “vazio”. Também estimula a liberação de ocitocina materna e faz um peso no útero, evitando hemorragia e estimulando a saída da placenta.

Então, para que a pressa? A pressa é inimiga da perfeição! É tão simples, não requer mais habilidades, equipamentos ou investimento. Mas requer uma coisa: Paciência do profissional. Apenas esperar alguns minutos traz tantos benefícios!

A natureza é muito Sábia."

Por Mayra Calvette, enfermeira obstetra para o "Parto pelo Mundo"


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