(Coluna de Agostinho Vieira - 20.6.2013 – publicada no jornal O Globo)
Mudando pra onde?
Um dos cartazes mais emblemáticos das manifestações que ocuparam as ruas do país nos últimos dias dizia: “Desculpem o transtorno. Estamos mudando o Brasil”.
A expressão chegou a ser reproduzida in English, Francês e outras Línguas, em atos ao redor do mundo. Ela carrega uma dose de presunção, típica dos jovens. Compreensível e perdoável. Mas suscita também uma pergunta relativamente óbvia: Mudando pra onde?
Como o movimento não tem bandeiras claras e nem lideranças definidas, tem sido interessante acompanhar as apostas que são feitas nos jornais, revistas e, principalmente, nas redes sociais. Há quem diga que isso vai acabar no impeachment da presidente Dilma. Já tem até petição online. Alguns acham que seria uma boa oportunidade para ela se livrar do PMDB. Outros afirmam que o foco são os prefeitos e governadores. Muitos juram que não é nada disso. Os protestos são apartidários. “Não é por centavos, é por direitos”. “É contra tudo isso que está aí”.
E essa é a parte que mais me preocupa. O último que se apresentou “contra tudo isso que está aí” foi o presidente Collor, “o caçador de marajás”. E deu no que deu. Algumas gerações lutaram muito para garantir que os jovens de hoje pudessem protestar livremente nas ruas. Para que tivéssemos eleições diretas e representantes democraticamente eleitos no Congresso e nos Executivos. Tenho certeza de que muitas pessoas foram às ruas exatamente para lembrar aos PMs e seus comandantes que protestar é um direito de todo o brasileiro e deve ser garantido. Sem violência.
Os nossos políticos são ótimos? Claro que não. Mas é óbvio que não são todos bandidos. Assim como existem bons e maus jornalistas, há deputados bons e deputados ruins, manifestantes bons e ruins. Mas nenhum deles, até onde sei, tomou o poder à força. Foram eleitos de forma legítima. O jargão “não me representa” pode ser engraçado, mas não faz sentido. Será que as 250 mil pessoas que estavam na rua votaram nulo nas últimas eleições? Se o fizeram, abriram mão de um direito sagrado. E precisam respeitar a vontade da maioria. A grande vantagem desse sistema é que dá para mudar de ideia de quatro em quatro anos.
Portanto, parto do princípio de que este “novo Brasil” que estaria nascendo agora continuará sendo um país democrático. Sem golpes, ditaduras ou anarquia. E as manifestações públicas, os cartazes, os gritos de guerra, são uma parte importante deste processo que estava esquecida. E essa é a grande notícia. Diziam que os jovens de hoje eram alienados, que só olhavam para o próprio umbigo. Pensando no aqui e no agora. Talvez estivessem só dormindo até mais tarde.
Agora que acordaram e viram o poder que têm, seria bom que o usassem com sabedoria e responsabilidade. Duas palavras do vocabulário de adultos e velhos. A ideia de lutar contra o aumento do preço das passagens é boa. Os ônibus subiram 113% em dez anos, contra uma inflação de 81,7%. Mas essa reivindicação acaba ofuscada por um monte de outros interesses. Alguns razoáveis, outros nem tanto. Todo mundo quer botar o seu espetinho nesta fogueira.
Se o movimento quer mesmo se desvincular dos partidos, que tal uma pauta simples e objetiva que esteja acima das cores partidárias? Pode continuar no capítulo dos transportes, exigindo mais mobilidade urbana. Ônibus não é transporte de massa. Precisamos de trens, metrôs, barcas e BRTs. Menos carros. Quem sabe? Se o trânsito fluir melhor, naturalmente os preços vão baixar.
O valor das obras da Copa é realmente absurdo, mas a hora de dizer isso parece que já passou. Os estádios estão prontos ou praticamente prontos e ninguém vai derrubá-los. Mas garantir um padrão FIFA na saúde e na educação é uma ótima sugestão. Determinar que os royalties do pré-sal sejam investidos integralmente em educação pode ser um caminho. A proposta do governo ainda não passou no Congresso e divide os governadores.
Outro tema importante seria a universalização do saneamento. Esta é uma das grandes vergonhas nacionais. Só 46% do esgoto gerado no país são coletados e apenas 37% recebem algum tipo de tratamento. Reduziria a contaminação dos rios e diminuiria a mortalidade infantil. Itens que podem ser medidos e ajudam a determinar o sucesso ou não das manifestações.
Como diz o cartaz, é provável que o Brasil seja outro depois que os jovens resolveram sair do Facebook e do Twitter. Só não consigo ter certeza, ainda, se será melhor ou pior. Essas moças e rapazes podem entrar para a história como aqueles que fizeram o país avançar mais rápido. Também podem ser citados como inocentes úteis. Mas o pior mesmo seria a frustração de ver que nada ou quase nada aconteceu. Depende deles, exclusivamente, decidir qual será esse legado.
Gostaria de acrescentar neste comentário o seguinte:
Eu vi várias crianças de 03 ou 04 anos com cartazes (estamos mudando o Brasil) e fiquei muito feliz, porque os pais estão incentivando desde cedo os filhos a lutarem no nosso país e não estão incentivando covardemente os filhos a irem morar e lutar por outros países. O importante é que temos que nos expressar moderadamente ou exaltadamente, porque ninguém sabe o que se passa dentro de cada um e porque que estão lá lutando, talvez tenha perdido um filho na fila do hospital sem médico ou talvez tenha perdido um filho com uma bala perdida ou em um assalto, e agora nesta ocasião resolveu entrar e se expressar. Não temos que criticar. Temos que aderir cada um de sua forma e jeito .....
Resumo: Vamos a luta e cada um fala e levanta a bandeira que quiser, sem vergonha sem MEDO e com muito brasileirismo. (PATRIOTISMO)!!!
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