UMA INTERESSANTE E HISTÓRICA VIAGEM PELOS PRIMÓRDIOS DA FABRICAÇÃO DE PRATOS DE BATERIA.
Metalúrgicos experimentam com materiais para obter ligas de alto grau há mais de 3500 anos. Há descobertas arqueológicas de pratos de Bronze originários da Grécia, já com sulcos circulares, datados de há 2500 anos! Os primórdios podem ser relacionados com uma idade tão impressionante como 5000 anos!
Tal como os tambores, eram usados em cerimónias religiosas e para provocar pavor no inimigo antes duma batalha, através duma imponente massa sonora.
Até meados do séc. 19 a companhia Zildjian produzia modestamente produtos para os militares e para a Igreja. Foi em 1815 que Avedis Zildjian II chegou à Europa para mostrar os seus produtos nas feiras de Marselha, Londres e Paris. É um primeiro passo decisivo para o início da história da bateria a qual começa realmente com a invenção do pedal de bombo, atribuído a William F, Ludwig, em 1894.
Assim apareceu o baterista que foi e é o principal responsável pelo desenvolvimento moderno em geral dos pratos através das suas experiências e exigências sonoras para definir e acompanhar a inovação e evolução da música durante todo o séc. 20.
Mas até 1980 havia uma relativamente curta possibilidade de escolha. A Paiste tinha as séries 2002, Formula 602 e Sound Creation, enquanto que a Zildjian estava limitada à série Avedis. Havia mais umas companhias Italianas, UFIP e Tosco, a contribuir modestamente para o mercado de pratos. Nos anos seguintes apareceram a Sabian, Istanbul e Spizz e a Meinl começou a entrar nas gamas profissionais. Em dez anos, estas oito companhias surgiram com mais de trinta novas séries profissionais.
Em relação às ligas (alloys em inglês), temos o seguinte:
Até finais dos anos 80 usavam-se essencialmente duas ligas de bronze para pratos de gamas média e alta: a B20, com 80% de cobre e 20% de estanho e a B8, com 92% de cobre e 8% de estanho. Pequenas quantidades de outros metais podiam ser adicionados a ambas as ligas, como a prata, servindo como catalizadores, como uma "cola" entre o cobre e o estanho.
A prata ou é adicionada ou o próprio cobre já contém traços desta. Uma terceira liga foi introduzida pela Paiste em 1988, a Paiste Sound Alloy cujos ingredientes e quantidades não foram revelados.
A B20 é usada em todas as séries profissionais da Zildjian, Sabian e Istanbul, nas Formula 602 e Sound Creation da Paiste e para a maioria das topo de gama italianas.
A B8 é usada nas 2002, 3000, 2000 e Alpha da Paiste, na maioria dos Meinl e em muitas mais séries de gama média e baixa.
Cada liga pode ser preparada de muitas maneiras diferentes. Um cozinheiro com os mesmos ingredientes e receita pode fazer uma refeição diferente e mais ou menos saborosa que um outro seu colega. Em poucas palavras, é precário suportarmo-nos simplesmente nas diferentes ligas para definir diferenças no som e na qualidade do produto. Os fabricantes evidenciam mais o processo de fabrico e as características finais do prato que a liga própriamente dita.
A descrição mais objectiva e consensual é que a B8 tem um conjunto de frequências e harmónicos mais focado ou menos rico que a B20 e a Sound Alloy da Paiste. Básicamente, os pratos de B8 são mais compactos que os outros, mais duros e de resposta mais rápida. Isto deve-se a um espectro de frequências mais restrito produzido pela B8, factor directamente ligado à estrutura da liga a qual é uniformemente direccionada. A B20 é prensada e esticada em várias direcções ou moldada em rotação, criando uma estrutura molecular mais entrelaçada.
Quanto à Sound Alloy da Paiste, o que se pode dizer baseado em som, aspecto e sensação, é que é mais parecida com a B20 que com a B8.
Outra diferença notável entre as duas ligas é que a diferença de som entre pratos da B8 é, na maioria das vezes, menor que entre pratos da B20, tendo em conta medidas, tipo e série.
Existem ainda gamas baixas de pratos feitas com ligas como o latão e o níquel-prata. Têm um potencial sonoro inferior ao das ligas de bronze, com som mais compacto e menos sustain e brilho.
Elaborando um pouco mais individualmente ainda em relação às ligas e entrando nos diferentes métodos de produção de pratos, há quatro estilos essenciais:
o Turco, o Suíço-Germânico, o Italiano e o Chinês.
O estilo Turco moderno definido pela Zildjian, Sabian e Istanbul data do início do séc. 17 quando um alquimista de nome Avedis descobriu uma liga com propriedades musicais quando tentava sintetizar ouro (a Pedra Filosofal). Uma característica que se mantém é que o fabricante compõe e funde a sua própria liga.
O bronze é feito e deitado em pequenos moldes, um para cada prato. Estes moldes são depois prensados em rolos até se tornarem discos chatos. Depois a cúpula é prensada, são reaquecidos ao rubro e arrefecidos em água, martelados, escavados, recortados e transformados em
pratos. A Istanbul tem um processo absolutamente artesanal, a Zildjian mistura este com alguma tecnologia moderna e a Sabian aplica os métodos e maquinaria mais recentes.
O facto dos ingredientes serem conhecidos não altera o secretismo da fórmula, o qual não é sobre o que consiste a liga mas na forma como é preparada: quais as temperaturas aplicadas, em que ordem os metais são adicionados, etc.
A mais pequena variação nestes parâmetros pode causar grandes variações no som, aspecto e durabilidade do prato. Segundo Armand Zildjian:" O nosso segredo não está na composição. Não está escrito nem definido. É uma técnica presenciada e aprendida ao longo do tempo, com o aquele bolo que a avó fazia".
A tradição turca dita que o segredo apenas fosse transmitido ao filho mais velho da família. Ao quebrar este princípio, revelando a receita a ambos os filhos Armand e Robert, Avedis Zildjian III inconscientemente originou a cisão da família e da companhia com o mais novo, Robert, a mudar-se dos E.U.A. para o Canadá e a fundar a Sabian.
O estilo Suíço-Germânico data de cerca de 1917 e deve-se a Michael Paiste. Tudo começou realmente na Estónia, donde a família Paiste é originária. O nome do estilo é uma generalização regional já que existem grandes diferenças entre Paiste e Meinl em termos de produção.
Tradicionalmente, a liga mais usada é a B8. A razão é simples: A Paiste e a Meinl compram os discos de liga de metal já acabados a fundições especializadas, que os fazem segundo especificações estritas, mas numa liga que é mais standartizada para muitas outras aplicações industriais sendo assim mais fácil de produzir e de obter, que é precisamente a B8.
Como em qualquer material compósito, os ingredientes não fazem a história da sua qualidade e características. No caso da metalurgia e especificamente na produção de pratos de bronze, a qualidade do material depende das temperaturas durante mistura e prensagem, das pressões aplicadas, a ordem de mistura dos ingredientes, etc. Estas variantes influenciam a resistência, força, rigidez, maleabilidade, enfim, o som do produto. Portanto, B8 nem sempre é igual a B8.
A Paiste é a única companhia na sua categoria a utilizar mais duas ligas nas suas séries profissionais. Para além da B8, a sua B20 dos Sound Formula e Sound Creation é bem diferente da Turca como pode ser bem sentido e ouvido. Para a linha Paiste, por vezes chamada Paiste Signature ou Paiste Paiste é usada uma terceira liga. Segundo a Paiste, esta foi a primeira liga especialmente desenvolvida para a produção de pratos. É a Paiste Sound Alloy cujos ingredientes exactos não são conhecidos mas devem ser, essencialmente e uma vez mais, cobre e estanho.
O método Italiano é originário da cidade de Pistoia, atribuído a Tronci e remonta a 1910. As pequenas fábricas que apareceram juntaram-se e formaram a UFIP (Unione dei Fabricanti Italiani di Piati - no meu italiano cavernoso) que é a mais importante representante da indústria italiana, a par da extinta Tosco.
A liga usada é, em termos de ingredientes, idêntica ao bronze turco. Também contém uma quantidade mínima de prata. Ao contrário da fabricação turca, a receita não tem nada de secreto. A UFIP é a única fábrica onde se pode levar uma câmara e registar tudo o que houver para ver do seu processo eminentemente artesanal.
Segundo Luigi Tronci da UFIP: "Temos essencialmente duas máquinas: a mão esquerda e a mão direita". Os Italianos são os únicos pratos genuínamente moldados em fundição. O metal fundido é deitado em moldes que definem logo a forma final do prato. Segue-se depois a afinação por escavação e martelamento e o acabamento.
Fnalmente,
o método Chinês é especialmente representado pelo seu principal produtor, a Wuhan, que funciona há mais de 1900 anos!
O número de companhias produtoras de pratos na China é desconhecido. Poucos entraram nestes locais e documentaram o seu processo ancestral e em relação às ligas chinesas supõe-se que seja a tradicional B20.
Quanto a métodos, os metais são fundidos, misturados e deitados em moldes e martelados e repetidamente aquecidos e arrefecidos para se obter a espessura e o perfil típicos dum prato chinês. A mistura exacta e ingredientes são mantidos em segredo mas a sonoridade e sensação dos pratos chineses presupõe uma produção irregular e inconsistente.
Embora os chineses nâo dêem prioridade ao aspecto visual do prato, com arestas pouco acabadas e buracos por vezes descentrados, têm critérios de avaliação sonora muito restritos e há companhias em que o Inspector Chefe rejeita cerca de 40% da produção, algo que poria qualquer fábrica ocidental na falência ao fim de um mês.
Texto básicamente elaborado e sucintamente traduzido (Português PT) a partir do livro The Cymbal Book de Hugo Pinksterboer. São cerca de 200 páginas com a mais variada informação objectiva sobre pratos, resultado duma pesquisa feita durante anos, com visitas às seis principais fábricas ocidentais e conversas com os seus presidentes, projectistas, fundidores, marteladores e ainda em contactos com muitos bateristas, junto com a experiência do autor como baterista, editor de revistas de bateria, técnico de reparação de baterias e vendedor de lojas de baterias. Altamente recomendando