quarta-feira, 8 de setembro de 2010

WEB-LIVRO: Os Mensageiros (RESUMIDO)


OS MENSAGEIROS

André Luiz  (Espírito)


Obra psicografada por Francisco Cândido Xavier


1. A renovação mental - Após desligar-se dos laços inferiores que o prendiam às atividades terrestres, André Luiz estava radiante. Antes, parecia um caramujo, segregado na concha, rastejando no lodo. Agora, sentia que a dor agira em sua mente como um alvião pesado, cujos golpes não entendera de pronto. O alvião quebrara a concha e ele começou a ver mais alto. (N.R.: Alvião é o mesmo que picareta ou enxadão.) Pela primeira vez, catalogava adversários na categoria de benfeitores e via nos filhos companheiros muito caros, aos quais competia estender os benefícios do conhecimento novo. Outro amor se instalava em sua alma e notava que a vida espiritual abria-lhe seus pórticos resplandecentes. Foi então que Narcisa lhe disse que nessa fase de renovação mental extremas dificuldades espirituais nos assaltam o coração. Ela lhe sugere a meditação no Evangelho de Jesus e o empenho cada vez maior no serviço em prol dos semelhantes. (Cap. 1, pp. 11 a 15)

2. Aniceto - Instrutor no Ministério da Comunicação, Aniceto trabalhara algum tempo na Regeneração e depois em tarefas sacrificiais no Ministério do Auxílio. Seus esforços o levaram à importante função de instrutor na Comunicação, onde André Luiz aprenderia novas lições. Ao contrário de Tobias, Aniceto não se consorciara em "Nosso Lar". Vivia ao lado de cinco amigos que lhe foram discípulos na Terra, em edifício confortável encravado entre árvores frondosas e tranqüilas. Aniceto aparentava a calma refletida do homem que chegou à idade madura, sem fantasias da mocidade inexperiente. Ao aceitar a inscrição de André Luiz, o instrutor resumiu em poucas palavras as atividades de seu departamento. O serviço ali é variado e rigoroso. Só se aceitam cooperadores interessados na descoberta da felicidade de servir. Todos se comprometem a calar toda espécie de reclamação. Além dos colaboradores ativos, Aniceto tinha um quadro suplementar de auxiliares, com cinqüenta lugares para aprendizes, com três vagas no momento. Pessoas das mais diferentes profissões formavam o quadro de aprendizes e cada uma era aproveitada na sua especialidade própria (Cap. 2, pp. 16 a 19)

3. Centro de Mensageiros - Tobias conduziu André Luiz até o Centro de Mensageiros, na Comunicação. Ele ficou deslumbrado com a série de majestosos edifícios que compunham a sede da instituição. Parecia-lhe que encontrava algumas universidades reunidas, tal a enorme extensão deles. Pátios amplos, arvoredos, jardins... O Centro é muito vasto e ali estavam apenas a administração central e alguns pavilhões destinados ao ensino e à preparação em geral. O Centro prepara entidades para que se transformem em cartas vivas de socorro e auxílio aos que sofrem no Umbral, na Crosta e nas Trevas. O serviço é cópia de outros que se vêm fazendo nas mais diversas cidades espirituais dos planos superiores. Ali preparam-se numerosos companheiros para a difusão de esperanças e consolos, instruções e avisos, nos diversos setores da evolução planetária. Organizam-se turmas compactas de aprendizes para a reencarnação. Médiuns e doutrinadores saem dali às centenas, anualmente. Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para os círculos carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo Centro de Mensageiros. Mas são muito raros os que triunfam. Alguns conseguem execução parcial da tarefa, outros muitos fracassam de todo. O serviço legítimo não é fantasia; é esforço sem o qual a obra não pode aparecer nem prevalecer. (Cap. 3, pp. 21 e 22)

4. O caso Vicente - Os aspectos do maravilhoso átrio impressionavam pela beleza. Flores até então desconhecidas adornavam colunatas, espalhando cores vivas e delicioso perfume. Foi então que André ficou conhecendo Vicente, ex-médico nas esferas carnais. Era o primeiro colega de profissão, recém-chegado das esferas da Crosta, de quem se aproximava de modo direto. Semblante muito calmo, olhar inteligente e lúcido, Vicente irradiava carinho e bondade, sensatez e compreensão. Sua história tinha alguma semelhança com a de André Luiz. De família abastada, formado aos vinte e cinco anos, desposou Rosalinda, por quem nutria grande afeição. A felicidade no lar não tinha limites. Em pouco tempo, dois filhos chegaram para ampliá-la. Vicente consagrara-se à pesquisa laboratorial e Rosalinda, além de esposa, era sua primeira e melhor colaboradora. Dez anos após o casamento, Eleutério, advogado, solteiro, irmão de Vicente um pouco mais velho, passou a freqüentar sua casa. A mulher modificou-se por completo. Ela e Eleutério apaixonaram-se um pelo outro e deliberaram que Vicente deveria morrer, para deixar-lhes o caminho livre. Um vírus introduzido pela sua própria esposa numa minúscula espinha nasal, já ferida, foi a causa da infecção que o levou à morte. Rosalinda e Eleutério herdaram grande fortuna e viviam na Terra, aparentemente felizes. (Cap. 3 e 4, pp. 24 a 30)

5. A palestra de Telésforo - Antigo lidador do Ministério da Comunicação, Telésforo dirigiu sua palavra a uma platéia numerosa de aprendizes do trabalho de intercâmbio entre os dois planos. Muitos companheiros ali presentes haviam fracassado em suas tarefas na Terra. O palestrante falou sobre as causas desses fracassos e exortou a todos a uma nova atitude diante da vida, destacando a importância do trabalho como necessidade fundamental de cada espírito. "Quem não deseje servir, procure outros gêneros de tarefa", advertiu Telésforo. "Aqui, acima de trabalhadores, precisamos de servidores que atendam de boa vontade", acrescentou o instrutor espiritual. Debaixo de profunda impressão, em face das declarações incisivas de Telésforo, numerosos circunstantes choravam em silêncio. Eram servidores que haviam fracassado em suas tarefas terrestres. (Cap. 5 e 6, pp. 31 a 39)

6. Conversação sadia - Finda a preleção, Aniceto deixou-os à vontade. André Luiz, Vicente e outros ficaram a palestrar, cientes de que em "Nosso Lar" considera-se trabalho útil toda conversação sadia que concorra para enriquecer os conhecimentos e aptidões para o serviço. "Pelas nossas palestras construtivas, receberemos também a remuneração devida à cooperação normal", esclareceu Vicente. E se a conversa descambasse para temas inferiores? –  indagou André. Vicente explicou que, então, o prejuízo seria da pessoa, porque ali a palavra define o Espírito. Fugindo à palestra instrutiva, sua presença se tornaria desagradável e seu rosto se cobriria de sombra indefinível, de tal modo que os orientadores conheceriam sua atitude imediatamente. (Cap. 6, pág. 40)

7. O caso Otávio - De absoluto fracasso foi a experiência que Otávio teve em sua última romagem terrena. Após contrair dívidas enormes em outro tempo, ele fora recolhido por irmãos dedicados de "Nosso Lar", que se revelaram incansáveis para com ele. Preparou-se, então, durante trinta anos consecutivos, para voltar à Terra em tarefa mediúnica, desejoso de saldar suas contas e elevar-se na senda da perfeição. O Ministério da Comunicação favoreceu-o com todas as facilidades e, sobretudo, seis entidades amigas movimentaram os maiores recursos em benefício do seu êxito. O matrimônio não estava nas suas cogitações; seu caso particular assim o exigia. Não obstante solteiro, deveria receber aos vinte anos os seis amigos que muito trabalharam por ele em "Nosso Lar", que chegariam ao seu círculo como órfãos. No início, deveria enfrentar dificuldades crescentes; depois viriam socorros materiais, à medida que fosse testemunhando renúncia, desprendimento, desinteresse por remuneração... Sua mãe era espiritista desde moça. Aos treze anos de idade, Otávio ficou órfão de mãe e aos quinze começaram os primeiros chamados da esfera superior. O pai casou-se segunda vez e, apesar da bondade e cooperação que a madrasta lhe oferecia, Otávio se colocava num plano de falsa superioridade em relação a ela, passando a viver revoltado, entre queixas e lamentações descabidas. Levado a um grupo espírita de excelente orientação evangélica, faltavam-lhe as qualidades de trabalhador e companheiro fiel. Nutria desconfiança com relação aos orientadores espirituais e revelava acentuado pendor para a crítica dos atos alheios. E tanto duvidou, que os apelos espirituais foram levados à conta de alucinações. Um médico lhe aconselhou experiências sexuais e, aos 19 anos, Otávio entregava-se desenfreadamente ao abuso do sexo. Isso afastou-o gradativamente do dever espiritual. O pai desencarnou quando ele contava pouco mais de vinte anos. Dois anos depois, a madrasta foi recolhida a um leprosário, deixando na orfandade seis crianças. Otávio afastou-se dos pequenos, tomado de horror, abandonando-os definitivamente, sem refletir que lançava seus credores generosos de "Nosso Lar" a destino incerto. Mais tarde, casou-se e recebeu como filho uma entidade monstruosa ligada a sua mulher, criatura de condição muito inferior à sua. Seu lar passou a ser um tormento constante até que regressou, mal tendo completado 40 anos, roído pela sífilis, pelo álcool e pelos desgostos, sem nada haver feito de útil para seu futuro eterno. (Cap. 7, pp. 41 a 46)

8. O caso Acelino - Ouvindo o relato feito por Otávio, estava Acelino, que também partira de "Nosso Lar", no século passado, após cuidadosa preparação no Ministério da Comunicação. Uma das ministras da Comunicação presidiu pessoalmente as medidas atinentes à sua tarefa na Crosta. Tudo correra bem. Aos vinte anos, Acelino foi chamado à tarefa mediúnica, recebendo enorme amparo dos benfeitores espirituais. Dotado das faculdades de vidência, audição e psicografia, ele decidiu – apesar dos apelos dos benfeitores espirituais – fazer da mediunidade fonte de renda material, sem esperar os abundantes recursos que o Senhor lhe enviaria mais tarde, após seus testemunhos no trabalho. Não mais a escola da virtude, do amor fraternal, da edificação superior, e sim a concorrência comercial, as ligações humanas, os caprichos apaixonados, os casos de polícia e todo um cortejo de misérias da Humanidade. Transformara-se completamente a paisagem espiritual que o rodeava. Ao desencarnar, Acelino ficou algemado aos seus consulentes criminosos, também desencarnados, por sinistros elos mentais, em virtude da imprevidência na defesa do seu próprio patrimônio espiritual. Durante onze anos consecutivos, expiou a falta entre eles, em meio ao remorso e à amargura. (Cap. 8, pp. 47 a 50)

Frases e apontamentos importantes

9. Forçoso é reconhecer que o cérebro é o aparelho da razão e que o homem desencarnado, pela simples circunstância da morte física, não penetrou os domínios angélicos, permanecendo diante da própria consciência, lutando por iluminar o raciocínio e preparando-se para a continuidade do aperfeiçoamento noutro campo vibratório. (Emmanuel, prefácio, pág. 7)

10. Ninguém pode trair as leis evolutivas. (Emmanuel, prefácio, pág. 7)

11. A morte física não é salto do desequilíbrio, é passo da evolução, simplesmente. (Emmanuel, prefácio, pág. 8)

12. O que nos leva a grafar este prefácio não é a conclusão filosófica, mas a necessidade de evidenciar a santa oportunidade de trabalho do leitor amigo, nos dias que correm. Felizes os que buscarem na revelação nova o lugar de serviço que lhes compete, na Terra, consoante a Vontade de Deus. (Emmanuel, prefácio, pp. 8 e 9)

13. O Espiritismo cristão não oferece ao homem tão somente o campo de pesquisa e consulta, mas, muito mais que isso, revela a oficina de renovação, onde cada consciência de aprendiz deve procurar sua justa integração com a vida mais alta, pelo esforço interior, pela disciplina de si mesma, pelo auto-aperfeiçoamento. (Emmanuel, prefácio, pág. 9)

14. Não falta concurso divino ao trabalhador de boa vontade. E quem observar o nobre serviço de um Aniceto, reconhecerá que não é fácil prestar assistência espiritual aos homens. (Emmanuel, prefácio, pág. 9)

15. Para recebê-la, é indispensável lavar o vaso do coração para receber a "água viva", abandonar envoltórios inferiores, para vestir os "trajes nupciais" da luz eterna. (Emmanuel, prefácio, pág. 9)

16. Se procuras a luz espiritual, se a animalidade já te cansou o coração, lembra-te de que, em Espiritualismo, a investigação conduzirá sempre ao Infinito, tanto no que se refere ao campo infinitesimal, como à esfera dos astros distantes, e que só a transformação de ti mesmo, à luz da Espiritualidade Superior, te facultará acesso às fontes da Vida Divina. (Emmanuel, prefácio, pp. 9 e 10)

17. As mensagens edificantes do Além não se destinam apenas à expressão emocional, mas, acima de tudo, ao teu senso de filho de Deus, para que faças o inventário de tuas próprias realizações e te integres, de fato, na responsabilidade de viver diante do Senhor. (Emmanuel, prefácio, pág. 10)

18. Todos nós somos portadores da planta do Cristo, na terra do coração. (...) Quando crescemos para o Senhor, seus ensinos crescem igualmente aos nossos olhos. Vamos fazer o bem, meu caro! Encha seu cálice com o bálsamo do amor divino. (Narcisa, cap. 1, pág. 14)
19. Quando os mensageiros se esquecem do espírito missionário e da dedicação aos semelhantes, costumam transformar-se em instrumentos inúteis. (...) Assim acontece com as faculdades psíquicas e com os grandes conhecimentos. A expressão mediúnica pode ser riquíssima; entretanto, se o dono não consegue olhar além dos interesses próprios, fracassará fatalmente na tarefa que lhe foi conferida. (Tobias, cap. 3, pág. 23)

20. Todo trabalho construtivo tem as batalhas que lhe dizem respeito. São muito escassos os servidores que toleram as dificuldades e reveses das linhas de frente. Esmagadora percentagem permanece a distância do fogo forte. Trabalhadores sem conta recuam quando a tarefa abre oportunidades mais valiosas. (Tobias, cap. 3, pág. 23)

21. Nossa visão, na Terra, costuma viciar-se no círculo dos cultos externos, na atividade religiosa. Cremos, por lá, resolver todos os problemas pela atitude suplicante. Entretanto, a genuflexão não soluciona questões fundamentais do espírito, nem a mera adoração à Divindade constitui a máxima edificação. (...) É imprescindível considerar que a manutenção e limpeza do vaso, para recolhê-las, é dever que nos assiste. (Tobias, cap. 3, pág. 23)

22. Raros triunfam, porque quase todos estamos ainda ligados a extenso pretérito de erros criminosos, que nos deformaram a personalidade. Em cada novo ciclo de empreendimentos carnais, acreditamos muito mais em nossas tendências inferiores do passado, que nas possibilidades divinas do presente, complicando sempre o futuro. É desse modo que prosseguimos, por lá, agarrados ao mal e esquecidos do bem, chegando, por vezes, ao disparate de interpretar dificuldades como punições, quando todo obstáculo traduz oportunidade verdadeiramente preciosa aos que já tenham "olhos de ver". (Tobias, cap. 3, pág. 24)

23. Tudo vem a seu tempo, tanto no bem quanto no mal, Primeiro, a semente, depois os frutos. (...) A árvore, para produzir, não reclama as folhas mortas. Para nós, atualmente, meu amigo, o mal é simples resultado da ignorância e nada mais. (Vicente, cap. 4, pág. 30)

24. As transições essenciais da existência na Terra encontram a maioria dos homens absolutamente distraídos das realidades eternas. A mente humana abre-se, cada vez mais, para o contacto com as expressões invisíveis, dentro das quais funciona e se movimenta. Isto é uma fatalidade evolutiva. (Telésforo, cap. 5, pág. 32)

25. Toda expressão religiosa é sagrada, todo movimento superior de educação espiritual é santo em si mesmo. (...) Sacerdotes e intérpretes dos núcleos organizados da religião e da filosofia não percebem ainda que o espírito da Revelação é progressivo, como a alma do homem. As concepções religiosas se elevam com a mente da criatura. (Telésforo, cap. 5, pág. 33)

26. A Ciência progride vertiginosamente no planeta e, no entanto, à medida que se suprimem sofrimentos do corpo, multiplicam-se aflições da alma. (...) a estatística dos crimes humanos é espantosa. Os assassínios da guerra apresentam requintes de perversidade muito além dos que foram conhecidos em épocas anteriores. (...) Não existe em país algum preparação espiritual bastante para o conforto físico. (Telésforo, cap. 5, pp. 33 e 34)

27. Concordamos que a reverência ao Pai, a fé e a vontade são expressões básicas da realização divina no homem, mas não podemos esquecer que o trabalho é necessidade fundamental de cada espírito. (...) Precisamos oferecer, no mundo, os instrumentos necessários às retificações espirituais, habilitando nossos irmãos encarnados a um maior entendimento do Espírito do Cristo. (Telésforo, cap. 5, pp. 34 e 35)

28. Raríssimos conquistam algum êxito nos delicados misteres da mediunidade e da doutrinação. (...) pouquíssimos são os que se lembram das realidades eternas, no "outro lado do véu"... A ignorância domina a maioria das consciências encarnadas. E a ignorância é mãe das misérias, das fraquezas, dos crimes. (Telésforo, cap. 6, pág. 36)

29. Cesse, para nós outros, a concepção de que a Terra é o vale tenebroso, destinado a quedas lamentáveis, e agasalhemos a certeza de que a esfera carnal é uma grande oficina de trabalho redentor. Preparemo-nos para a cooperação eficiente e indispensável. Esqueçamos os erros do passado e lembremo-nos de nossas obrigações fundamentais. A causa geral dos desastres mediúnicos é a ausência da noção de responsabilidade e da recordação do dever a cumprir. (Telésforo, cap. 6, pág. 37)

30. Quando o Senhor vos enviava possibilidades materiais para o necessário, regressáveis à ambição desmedida; ante o acréscimo de misericórdia do labor intensificado, agarrastes a idéia da existência cômoda; junto às experiências afetivas, preferistes os desvios sexuais; ao lado da família, voltastes à tirania doméstica, e aos interesses da vida eterna sobrepusestes as sugestões inferiores da preguiça e da vaidade. Destes-vos, na maioria, à palavra sem responsabilidade e à indagação sem discernimento, amontoando atividades inúteis. Como médiuns, muitos de vós preferíeis a inconsciência de vós mesmos; como doutrinadores, formuláveis conceitos para exportação, jamais para uso próprio. (Telésforo, cap. 6, pág. 38)

31. Grandes massas batem às fontes do Espiritismo sagrado, tão só no propósito de lhe mancharem as águas. (...) São os sequiosos da facilidade, os amigos do menor esforço, os preguiçosos e delinqüentes de todas as situações, que desejam ouvir os Espíritos desencarnados, receosos da acusação que lhes dirige a própria consciência. (...) Tudo por quê, meus irmãos? Por termos esquecido, em nossos labores carnais, que Espiritismo é revelação divina para a renovação fundamental dos homens. (Telésforo, cap. 6, pág. 38)

32. O Senhor renova diariamente nossas benditas oportunidades de trabalho, mas, para atingirmos os resultados precisos, é imprescindível sejamos seguidores da renunciação ao inferior. (...) E ninguém espere subir, espiritualmente, sem esforço, sem suor e sem lágrimas!... (Telésforo, cap. 6, pág. 39)

33. As tarefas espirituais ocupam-se de interesses eternos... Os mordomos de bens da alma estão investidos de responsabilidades pesadíssimas. (Otávio, cap. 7, pág. 42)

34. Fracassos por dificuldades no lar - Dois casos de pessoas que saíram de "Nosso Lar" preparadas para tarefa mediúnica no mundo e, no entanto, fracassaram inteiramente, são apresentados por André. O caso de Mariana é um deles: ela sentia que deveria aplicar-se ao trabalho, mas Amâncio, seu esposo, nunca se conformou. Se os enfermos a procuravam no receituário comum, a neurastenia do marido se ampliava; se companheiros de doutrina a convidavam aos estudos, ele se revoltava, ciumento, e mobilizava as próprias filhas contra a esposa. Daí o seu afastamento da tarefa mediúnica e Mariana nunca deixou de reclamar quando era incompreendida pelos seus familiares. Uma outra entidade viveu experiência semelhante: também ela entendia agora não haver executado sua tarefa mediúnica em virtude da irritação que sentia pela indiferença dos familiares pelos serviços espirituais. Se o marido fazia ponderações contrárias a suas convicções, ela refutava. Não suportava qualquer parecer contrário ao seu ponto de vista, em matéria de crença, incapaz de perceber a vaidade e a tolice de seus gestos. Discussões, insultos, conflitos tornavam-se constantes, e nesse clima ela sentia-se inutilizada para qualquer trabalho de elevação espiritual. (Cap. 9, pp. 52 a 54)

35. O caso Ernestina - O medo foi a causa do fracasso de Ernestina, que se preparara convenientemente em "Nosso Lar" para a tarefa da mediunidade no mundo. As instrutoras do Esclarecimento confiavam extraordinariamente nela, mas Ernestina não vigiou como devia. Apesar dos incentivos recebidos do plano espiritual, desconfiou de tudo e de todos. Nos estudiosos encarnados, só via pessoas de má fé; nos instrutores desencarnados, enxergava apenas mistificadores, e em si mesma receava as tendências nocivas. O receio das mistificações prejudicou a oportunidade recebida. (Cap. 9, pp. 54 e 55)

36. A falta de amparo da esposa - Outra entidade atribuía seu fracasso à falta de amparo da esposa. Enquanto a teve a seu lado, verificava-se profundo equilíbrio em suas forças psíquicas. A companhia dela compensava-lhe todo gasto de energia mediúnica. Quando a morte a arrebatou, amedrontou-se por sentir-se em desequilíbrio. Não havia aprendido a ciência da conformação, nem a percorrer sozinho as estradas humanas. Casou-se segunda vez e deu-se mal. Sua segunda mulher, extremamente ligada a entidades malfazejas, arrastou-o a inúmeros desvarios e ele se perdeu, voltando ao convívio de criaturas perversas. Agora, entendia que o triunfo no mundo, mesmo no futuro, ser-lhe-á muito difícil sem a companheira amada. (Cap. 9, pp. 55 e 56)

37. O caso Joel - Outro que saiu preparado de "Nosso Lar" e fracassou no mundo é Joel. Sua tarefa mediúnica exigia sensibilidade mais apurada e, por isso, recebeu no Ministério do Esclarecimento um tratamento especial que lhe aguçou as percepções, partindo para a Terra com todos os requisitos indispensáveis ao êxito de suas obrigações. Mas, Joel, deixando-se empolgar pela curiosidade doentia, aplicou sua faculdade mediúnica somente para dilatar suas sensações. No quadro de suas tarefas mediúnicas, estava a recordação de existências passadas como expressão indispensável ao esclarecimento coletivo dos semelhantes. Existe, porém, uma ciência de recordar que ele não respeitou como devia. Sentia, intuitivamente, a vívida lembrança de suas promessas em "Nosso Lar". O coração estava repleto de propósitos sagrados. Ele trabalharia. Espalharia muito longe a vibração das verdades eternas... Contudo, a excitação psíquica, aos primeiros contatos com o serviço, fez rodar o mecanismo de recordações adormecidas e ele lembrou sua penúltima existência, quando fora Monsenhor Alejandro Pizarro, nos últimos tempos da Inquisição Espanhola. Passou a procurar, então, cada um de seus companheiros de lutas religiosas, para reconstituir os passos de todos eles, por curiosidade, sem qualquer propósito benfazejo. Exigia, assim, notícias de bispos, de autoridades políticas e de padres amigos que haviam errado tanto quanto ele mesmo. As advertências dos amigos espirituais não cessaram. Sofredores batiam-lhe às portas. Seus companheiros tinham um abrigo de órfãos em projeto, um ambulatório que começava a nascer e serviços semanais de instruções evangélicas, nas noites de terças e sextas-feiras, mas Joel só queria saber das suas descobertas pessoais, sem qualquer proveito útil. Esquecia que o Senhor lhe permitia aquelas reminiscências, não por satisfazer-lhe a vaidade, mas para que entendesse a extensão de seus débitos e se entregasse à obra de esclarecimento e conforto aos feridos do mundo. Passou, assim, a existência de surpresa em surpresa, de sensação em sensação, transformando a lembrança em viciação da personalidade. Perdera a oportunidade de redenção e o pior era o estado de alucinação em que agora vivia. Com o erro, a mente desequilibrou-se e as perturbações psíquicas passaram a constituir-lhe doloroso martírio. (Cap. 10, pp. 58 a 61)

38. Reflorescimento da esperança - Muitos dos que ali se encontravam haviam atravessado zonas purgatoriais de sombra e tormento íntimo. Uns mais, outros menos. Bastara, contudo, o reconhecimento de sua pequenez, a compreensão de seus débitos, e ali estavam eles em "Nosso Lar", reanimando energias desfalecidas e reconstituindo programas de trabalho. Via-se em todos os companheiros o reflorescimento da esperança. (Cap. 11, pág. 62)

39. O caso Belarmino - Fisionomia grave, gestos lentos, Belarmino Ferreira deixava transparecer grande tristeza no olhar humilde. Fora um doutrinador fracassado. Sua tragédia é igual à de todos os que conhecem o bem, mas não o praticam. Saíra de "Nosso Lar" com tarefa de doutrinação no campo do Espiritismo evangélico. Sua companheira Elisa acompanhou-o no serviço laborioso. Desde criança conhecera o Espiritismo cristão; mais tarde chegou à presidência de um grande grupo espiritista. Teve a seu dispor o concurso de oito médiuns dedicados. Descambou, porém, para o campo da experimentação científica, à procura de provas insofismáveis. Por vaidade, convidou pessoas para integrar seu grupo, tão-somente em virtude da falsa posição que usufruíam na cultura e na pesquisa científica. Os resultados se tornaram pífios. A dúvida instalou-se em seu coração. Perdeu a serenidade de outro tempo. Da dúvida passou à descrença. Debalde, Elisa o chamava para a esfera religiosa e edificante, mas ele passou a desprezar o próprio Evangelho, que tachava de velharia. Largou a atividade espírita, para dedicar-se à política humana e, desviado dos seus objetivos fundamentais, apegou-se ao dinheiro, transformando os próprios sentimentos. Quando desencarnou, tinha uma bela situação financeira no mundo e um corpo crivado de enfermidades, um palácio confortável de pedra e um deserto no coração. Voltara a ligar-se a antigos companheiros menos dignos de experiências carnais e colheria agora, na vida espiritual, tormentos, remorsos, expiações...(Cap. 11, pp. 63 a 66)

40. O caso Monteiro - Ele também partira de "Nosso Lar", em missão de entendimento espiritual, quase na mesma ocasião em que Belarmino voltou à carne. Monteiro tivera a própria mãe como orientadora. Sob seu controle, estavam alguns médiuns de efeitos físicos, de psicografia e de incorporação. Mas era tal o fascínio que o intercâmbio mediúnico exercia sobre ele, que acabou se distraindo por completo quanto à essência moral da doutrina. Era um doutrinador implacável. Chegara a estudar longos trechos das Escrituras, para utilizá-los na conversa com ex-sacerdotes católicos que compareciam às sessões mediúnicas em estado de ignorância e perturbação. Acendia luzes para os outros, preferindo, porém, os caminhos escuros para si, esquecendo a si mesmo. Pregava a paciência dentro do grupo, mas era impaciente lá fora. Concitava os espíritos à serenidade, mas repreendia sem indulgência as senhoras humildes que não continham o pranto de alguma criança enferma presente à reunião. E no comércio era inflexível com seus devedores. Passava os dias no escritório estudando a melhor forma de perseguir os clientes em atraso, e à noite ia ensinar o amor aos semelhantes, a paciência e a doçura, exaltando o sofrimento e a luta como estradas benditas de preparação para Deus. Na verdade, estava cego, esquecido de que a existência terrestre é, por si só, uma sessão permanente. Quando a angina o levou à morte, encontrava-se absolutamente distraído da realidade essencial. Voltou à vida espiritual qual demente necessitado de hospício. O raciocínio pedia socorro divino, mas o sentimento agarrava-se a objetivos inferiores. Viu-se, assim, rodeado de Espíritos malévolos que lhe repetiam longas frases de suas sessões mediúnicas. Eles, irônicos, lhe recomendavam serenidade, paciência e perdão e perguntavam por que ele não se desgarrava do mundo, estando já desencarnado. A revolta tomou conta de sua alma e, mais tarde, quando já estava recolhido em "Nosso Lar", exigiu explicações para o seu estado, visto que não se considerava fracassado. Veneranda, um dia, foi visitá-lo em momento que reservara a descanso. Monteiro crivou seus ouvidos de lamentações e ela o ouviu, pacientemente, por duas horas. Quando o ex-doutrinador se calou, Veneranda sorriu e disse: "Monteiro, meu amigo, a causa da sua derrota não é complexa, nem difícil de explicar. Entregou-se você excessivamente ao Espiritismo prático, junto dos homens, nossos irmãos, mas nunca se interessou pela verdadeira prática do Espiritismo junto de Jesus, nosso Mestre". Aquelas palavras, como um vulcão, mudaram por completo a atitude mental do ex-doutrinador fracassado. (Cap. 12, pp. 67 a 71)

41. Os médicos fracassados - Imensos jardins cercavam o Centro de Mensageiros. Roseirais enormes balsamizavam a atmosfera leve e límpida. André Luiz estava perplexo com tantas novidades. Vicente relatou-lhe então que no Ministério do Esclarecimento há enormes pavilhões das escolas maternais, onde milhares de irmãs comentam as desventuras da maternidade fracassada, buscando reconstituir energias e caminhos. Há ainda ali os Centros de Preparação à Paternidade, a Especialização Médica, o Instituto de Administradores... Em todos eles, os Espíritos fracassados procuram restaurar as próprias forças e corrigir os erros cometidos na mordomia terrestre. No que concerne à Medicina, os ex-médicos em bancarrota espiritual são inúmeros. Vicente relatou então o caso de um amigo, exímio cirurgião, que, atraído pelas aquisições monetárias, caiu desastradamente. Nos dias de grandes negócios financeiros, sua mente se deslocava da tarefa médica em busca dos interesses materiais. Não fosse a proteção espiritual, essa atitude teria comprometido oportunidades vitais de muita gente. A colaboração do médico tornara-se quase nula e muitos que desencarnaram nas intervenções cirúrgicas, notando a sua irresponsabilidade, atribuíram-lhe suas mortes físicas, votando-lhe ódio terrível. Dois deles, mais ignorantes e maldosos, o esperaram no limiar do sepulcro para atormentá-lo. (Cap. 13, pp. 72 a 76)

42. A oração - Aniceto transmitiu aos dois amigos uma visão inteiramente nova acerca da oração. "Não podemos abusar da oração aqui, segundo antigas viciações do sentimento terrestre", explicou Aniceto. No círculo carnal, costumamos utilizá-la em obediência a delituosos caprichos, suplicando facilidades que surgiriam em detrimento de nossa própria iluminação. Em "Nosso Lar", porém, a oração é compromisso de testemunhos, esforço e dedicação aos superiores desígnios. Toda prece, ali, deve significar, acima de tudo, fidelidade do coração. "Quem ora, em nossa condição espiritual, sintoniza a mente com as esferas mais altas e novas luzes lhe abrilhantam os caminhos", acrescentou o orientador espiritual. (Cap. 14, pág. 78)

43. Espíritos de luz - Por recomendação de Aniceto, André Luiz e Vicente recebem no Gabinete de Auxílio Magnético às percepções, anexo ao Centro de Mensageiros, determinadas aplicações espirituais que, entre outras conseqüências, dilatariam sua visão espiritual. A princípio, nada de extraordinário André notou, embora sentisse dentro do coração nova coragem e alegria diferente. Depois, quando caminhavam por uma região envolta em sombras, raios de luz passaram a desprender-se intensamente de seus corpos. Era a primeira vez que André Luiz se vestia de luz, luz que se irradiava de todas as células do seu corpo espiritual. André e Vicente ajoelharam-se, banhados em lágrimas, enviando a Deus seus agradecimentos, em votos de júbilo fervoroso, e Aniceto os contemplava, feliz. (Cap. 14, pág. 79; cap. 15, pág. 83)

44. Os caminhos para chegar à Crosta - Aniceto, André Luiz e Vicente partem, sem bagagens, para uma viagem de estudos e trabalhos na Crosta, que durariam uma semana. Seguem, porém, um trajeto diferente. Não utilizam a estrada livre mantida por ordem superior para as atividades normais dos trabalhos espirituais e trânsito dos irmãos esclarecidos, em vésperas de reencarnação. Aniceto explica que as regiões inferiores entre "Nosso Lar" e a Crosta são tão grandes que exigem uma estrada ampla e bem cuidada, requerendo também conservação, como as rotas terrestres. Na Terra, obstáculos físicos; ali, obstáculos espirituais. As vias de comunicação normais destinam-se ao intercâmbio indispensável. Os que se encontram nas tarefas de auxílio espiritual e os que se dirigem à reencarnação devem seguir com a harmonia possível, sem contacto direto com as expressões dos círculos mais baixos. A absorção de elementos inferiores determinaria sérios desequilíbrios no renascimento deles. O pequeno grupo, porém, seguiria um caminho menos fácil, porque o objetivo era aprendizado e experiência. (Cap. 14, pág. 80)

45. Uma região estranha - O pequeno grupo valeu-se, no início, da volitação. Após atravessar imensas distâncias, surgiu uma região menos bela. Nuvens espessas cobriam o firmamento e alguma coisa que André não podia compreender impedia a volitação fácil. Compreendendo a dificuldade dos companheiros, Aniceto recomendou que fossem caminhando. A atmosfera começava a pesar muitíssimo, porque eles penetravam agora a esfera de vibrações mais fortes da mente humana. Estavam a grande distância da Crosta, mas já podiam identificar a influenciarão mental da Humanidade encarnada, envolvida nos combates da 2a Grande Guerra. Daí a pouco chegaram ao cume de grande montanha, envolvida em sombra fumarenta. Trilhas diversas apareciam no solo; foi então que André Luiz viu seu corpo iluminar-se. As surpresas, porém, não cessavam. Mergulhavam num clima estranho, onde predominavam o frio e a ausência de luz solar. A topografia era um conjunto de paisagens misteriosas, lembrando filmes fantásticos do cinema terrestre. Picos muitos altos, vegetação esquisita, aves de aspecto horripilante... Rija ventania soprava em todas as direções. Aniceto explicou que aquele mundo é continuação da Terra, que os olhos humanos não podem ver, visto que a percepção humana não consegue apreender senão determinado número de vibrações. No meio das sombras, alguns vultos pareciam fugir apressados, confundindo-se nas trevas das furnas próximas. (Cap. 15, pp. 82 a 86)

46. Campo da Paz - A conselho de Aniceto, o grupo interrompeu os efeitos luminosos de seus corpos espirituais, para não humilhar os que sofrem com a exibição de seus recursos. A excursão tornou-se menos agradável. Eles desciam através de despenhadeiros de longa extensão. A sombra fizera-se mais densa e a ventania mais lamentosa e impressionante. Depois de algum tempo de marcha, viram ao longe um grande castelo iluminado: era um dos Postos de Socorro de Campo da Paz. Pesados muros cercavam o Posto. Aniceto moveu imperceptível campainha, disfarçada na muralha. Dentro do Posto, pomares e jardins maravilhosos perdiam-se de vista. A sombra aí já não era tão intensa. Eles se sentiam banhados em suavidade crepuscular, graças aos grandes focos de luz radiante. pavilhões de vulto alinhavam-se como se estivessem diante de prodigioso educandário. Árvores senhoris, semelhantes ao carvalho, se enfileiravam. Havia mais luz no céu e o vento era mais fagueiro. Aniceto explicou que a paz refletia ali o estado mental dos que viviam naquele pouso de assistência fraterna. "A Natureza é mãe amorosa em toda parte, acentuou o instrutor, mas cada lugar mostra a influenciarão dos filhos de Deus que o habitam." (Cap. 15, pp. 85 e 86; cap. 16, pp. 87 e 88)

47. O quadro de Florentino Bonnat - A sede do Posto de Socorro foi construída à maneira de formoso castelo europeu dos tempos feudais. As escadas de substância idêntica ao mármore impressionavam por sua beleza. Uma varanda extensa e enfeitada de hera florida, diferente da conhecida na Terra, dava acesso a um vasto salão mobiliado ao gosto antigo. Nas paredes, quadros maravilhosos. Uma tela de Bonnat, representando o martírio de São Dinis, o apóstolo gaulês rudemente supliciado nos primeiros tempos do Cristianismo, enfeitava o salão. André Luiz informou ao administrador do Posto de Socorro que o original daquele quadro, segundo sabia, encontrava-se no Panteão de Paris. Alfredo, o gentil anfitrião do pequeno grupo, retrucou dizendo que, na verdade, aquele quadro fora feito por nobre artista cristão, numa cidade espiritual ligada à França. Em fins do século passado, o grande pintor Bonnat, durante o sono, visitou aquela colônia e viu o quadro, depois reproduzido por ele em tela que ficou célebre no mundo inteiro. Muitas criações artísticas são obras dos homens, mas nem todas são originariamente da Terra, esclareceu o administrador do Posto de Socorro. (Cap. 16, pp. 88 a 91)
 
Frases e apontamentos importantes

48. Para trabalharmos com eficiência é preciso saber calar antes de tudo. Teríamos atendido perfeitamente aos nossos deveres, se tivéssemos usado todas as receitas de obediência e otimismo que fornecemos aos outros. (...) para bem ensinar é necessário exemplificar melhor. (Uma entidade feminina, cap. 9, pág. 53)

49. Na esfera carnal, o maior interesse da alma é a realização de algo útil para o bem de todos, com vistas ao Infinito e à Eternidade. Nesse mister, é indispensável contar com o assédio de todos os elementos contrários. Ironias, ataques, sugestões inferiores surgirão, com certeza, no caminho de todo trabalhador fiel. São circunstâncias lógicas e fatais do serviço, porque não vamos ao mundo físico para descanso injustificável, mas para lutar pela nossa melhoria, a despeito de todo impedimento fortuito. (Benita, cap. 9, pp. 54 e 55)

50. A missão do doutrinador é muitíssimo grave para qualquer homem. (...) para atingirmos uma ressurreição gloriosa, não há, por enquanto, outro caminho além daquele palmilhado pelo Doutrinador Divino. É digna de menção a atitude d' Ele, abstendo-se de qualquer escravização aos bens terrestres. (Belarmino Ferreira, cap. 11, pág. 63)

51. Na vida humana, junto aos que administram e aos que obedecem, há os que ensinam. Chego, pois, a pensar que nas esferas da Crosta há mordomos, cooperadores e servos. Muito especialmente, os que ensinam devem ser dos últimos. (Belarmino Ferreira, cap. 11, pág. 63)

52. Minha tragédia angustiosa é a de todos os que conhecem o bem, esquecendo-lhe a prática. (Belarmino Ferreira, cap. 11, pág. 64)

53. Cada homem receberá, agora e no futuro, de acordo com as próprias obras. (Belarmino Ferreira, cap. 11, pág. 65)

54. O Evangelho é livro divino e, enquanto permanecemos na cegueira da vaidade e da ignorância, não nos expõe seus tesouros sagrados. Por isso mesmo, tachava-o de velharia. (...) a escravidão ao dinheiro me transformara os sentimentos. (Belarmino Ferreira, cap. 11, pp. 65 e 66)

55. É muito difícil escapar à influência do meio, quando em luta na carne. (Monteiro, cap. 12, pág. 67)

56. A multiplicidade de fenômenos e as singularidades mediúnicas reservam surpresas de vulto a qualquer doutrinador que possua mais raciocínios na cabeça que sentimentos no coração. (...) o vício intelectual pode desviar qualquer trabalhador mais entusiasta que sincero, e foi o que me aconteceu. (Monteiro, cap. 12, pág. 68)

57. A existência terrestre, por si só, é uma sessão permanente. (Monteiro, cap. 12, pág. 69)

58. Como ensinar sem exemplo, dirigir sem amor? (...) Meu raciocínio pedia socorro divino, mas meu sentimento agarrava-se a objetivos inferiores. (Monteiro, cap. 12, pág. 70)

59. A saúde humana é patrimônio divino e o médico é sacerdote dela. Os que recebem o título profissional, em nosso quadro de realizações, sem dele se utilizarem a bem dos semelhantes, pagam caro a indiferença. Os que dele abusam são, por sua vez, situados no campo do crime. (Vicente, cap. 13, pág. 74)

60. Jesus não foi somente o Mestre, foi Médico também. Deixou no mundo o padrão de cura para o Reino de Deus. Ele proporcionava socorro ao corpo e ministrava fé à alma. Nós, porém, em muitos casos terrestres, nem sempre aliviamos o corpo e quase sempre matamos a fé. (Vicente, cap. 13, pág. 74)

61. A noção do dever bem cumprido, ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado travesseiro para a noite. (Vicente, cap. 13, pág. 75)

62. Onde exista uma falta, pode haver muitas perturbações; onde apagamos a luz, podemos cair em qualquer precipício. (André Luiz, cap. 13, pág. 76)

63. Aqui, toda a nossa bagagem é a do coração. Na Terra, malas, bolsas, embrulhos; mas, agora, devemos conduzir propósitos, energias, conhecimentos e, acima de tudo, disposição sincera de servir. (Aniceto, cap. 14, pág. 79)

64. Agradeçamos a Deus os dons de amor, sabedoria e misericórdia. Saibamos manifestar ao Pai o nosso reconhecimento. Quem não sabe agradecer, não sabe receber e, muito menos, pedir. (Aniceto, cap. 15, pág. 83)

65. É da lei que não devemos ver senão o que possamos observar com proveito. (Aniceto, cap. 15, pág. 85)

66. Os homens, de modo geral, não se modificam com a morte física, como a troca de residência não significa mudança de personalidade para a criatura comum. (André Luiz, cap. 16, pág. 87)

67. Ocultar a própria glória é do código do bom-tom nas sociedades espirituais nobres e santas. (André Luiz, cap. 16, pág. 87)

68. A Natureza é mãe amorosa em toda a parte, mas cada lugar mostra a influenciação dos filhos de Deus que o habitam. (...) Esta paz reflete o estado mental dos que vivem neste pouso de assistência fraterna. (Aniceto, cap. 16, pág. 88)

69. Efeitos da guerra - Ismália, a gentil companheira de Alfredo, administrador do Posto de Socorro, serviu aos visitantes frutos diversos. Alfredo, a uma pergunta de Aniceto, relatou que as zonas a que eles serviam estavam repletas de novidades dolorosas. Vibrações contraditórias emanadas da Crosta eram de molde a enfraquecer qualquer pessoa menos decidida. Desencarnados e encarnados empenhavam-se em batalhas destruidoras. Aumentou muito o número de necessitados que recorriam ao Posto. A produção de alimentos e remédios estava sendo integralmente absorvida pelos famintos e doentes. Apesar de contar com 500 cooperadores, eles se sentiam incapazes de atender a todas as obrigações. (Cap. 17, pp. 92 e 93)

70. O caso Alfredo - Ismália e Alfredo formavam um par feliz na última existência terrestre; no entanto, salteadores perversos espreitavam sua ventura. Com muita responsabilidade no campo dos negócios materiais, Alfredo não atendia, como devia, aos deveres para com o lar e os dois filhinhos do casal. Ismália era a providência de sua casa e sofrera, calada, o assédio de um sócio do marido, que a perseguira por alguns anos consecutivos, sem sucesso. Como vingança, o sócio começou a caluniá-la junto ao Alfredo. Dando ouvidos à calúnia, Alfredo sentiu que o relacionamento no lar tornava-se aos poucos intolerável. Em qualquer gesto da esposa, ele via maldade e tentava descobrir segundas intenções. Por fim, seu sócio subornou um homem que se ocultaria dentro da casa de Alfredo, para ser por ele visto dali saindo, em atitude suspeita. Alfredo, avisado da suposta traição da mulher, pensa que Ismália tivera um encontro com o estranho. Em extremo desespero, ele penetra os aposentos do casal, onde Ismália repousa e a acusa em voz alta. Toma depois uma arma e atira várias vezes tentando atingir aquele vulto que fugia de sua casa, esgueirando-se na sombra... Olhos congestos, vomitando insultos, quis eliminar a esposa, banhada em lágrimas a seus pés. No entanto, alguma coisa, que ele nunca pôde compreender na Terra, paralisou-lhe o braço quase homicida. Vociferando blasfêmias, Alfredo afastou-se do lar. Estava rompido o casamento. Ismália foi devolvida à casa paterna, destituída do contato com os filhos, que ficaram com o pai. Dois anos depois, entre as angústias da saudade e do abandono, Ismália seria colhida pela tuberculose, falecendo em terrível martirológio moral. Muito tempo mais tarde, Alfredo vem a saber que tudo fora uma farsa: seu ex-sócio, momentos antes de desencarnar, contou-lhe toda a história. A loucura irremediável o transtornou e foi assim que regressou ao mundo dos Espíritos, em tristes condições espirituais. Ismália o amparou nos momentos mais difíceis, mas, residindo num plano superior, ele não podia agora contar com sua presença permanente a seu lado. É preciso primeiro conhecer o preço da felicidade, para não menosprezar, de novo, as bênçãos de Deus, e é igualmente necessário aprender a subir na escala evolutiva. Esse o motivo por que não receberam ainda a devida permissão para o definitivo consórcio espiritual. (Cap. 17, pp. 93 a 96)

71. Os enfermos da Guerra - O ambiente espiritual na Terra, por causa dos combates que se desenvolviam na Crosta, era muito pesado. Alfredo sugere que Aniceto e seus companheiros pernoitem no Posto, porque os aparelhos indicavam aproximação de grande tempestade magnética para aquele dia. Os combates na Terra eram intensos e poucas pessoas cultivavam a espiritualidade superior. Natural, pois, que se intensificassem, ao longo do planeta, espessas nuvens de resíduos mentais dos encarnados invigilantes, multiplicando as tormentas destruidoras. Os Postos de Socorro de várias colônias ligadas ao Campo da Paz já estavam superlotados de europeus desencarnados violentamente. Os mentores espirituais mais elevados decidiram remover pelo menos 50% dos desencarnados na guerra para os núcleos espirituais americanos. Ali mesmo encontravam-se mais de 400 espíritos. Aniceto pergunta pelas dificuldades de linguagem e Alfredo esclarece que, para cada grupo de cinqüenta infelizes, as colônias do Velho Mundo fornecem um enfermeiro-instrutor, com quem eles se entendem de modo direto. Essa remoção visava a proteger a coletividade dos Espíritos encarnados nas regiões de origem, porque essas aglomerações de desencarnados determinariam focos pestilenciais de origem transcendente, com resultados imprevisíveis. (Cap. 18, pp. 97 a 100)

72. O farol de Bristol - O valor da prece nos tempos de guerra ainda mais se acentua. Alfredo relatou então a curiosa experiência que ele presenciou em Bristol, na Inglaterra. A cidade estava sendo sobrevoada por alguns aviões pesados de bombardeio. As perspectivas de destruição eram assustadoras. No seio da noite, destacava-se, porém, à visão espiritual, um farol de intensa luz. Seus raios faiscavam no firmamento, enquanto as bombas eram arremessadas ao solo. O grupo de Espíritos desceu ao ponto luminoso. Verificou-se então, com surpresa, que eles se encontravam numa igreja, cujo recinto devia ser quase sombrio para o olhar humano, mas altamente luminoso para os olhos espirituais. Alguns cristãos corajosos reuniam-se ali e cantavam hinos. O ministrante do culto lera a passagem dos Atos em que Paulo e Silas cantavam à meia-noite, na prisão, e as vozes cristalinas elevavam-se ao Céu, em notas de fervorosa confiança. Enquanto as bombas explodiam lá fora, os cristãos cantavam, unidos, em celestial vibração de fé viva. O chefe do grupo mandou que Alfredo e seus companheiros se conservassem de pé, diante daquelas almas heróicas, em sinal de respeito e reconhecimento. E disse "que os políticos construiriam os abrigos antiaéreos, mas que os cristãos edificariam na Terra os abrigos antitrevosos". (Cap. 18, pp. 101 e 102)

73. Sistemas de transporte - Alfredo colocou à disposição de Aniceto e seus companheiros um carro, que os levaria até a zona em que se torne possível. André fica estupefato. Mais tarde, ele  fica sabendo que os sistemas de transporte, nas zonas mais próximas da Crosta, são muito mais numerosos do que se poderia imaginar, em bases transcendentes de eletromagnetismo. (Cap. 19, pág. 103)

74. O sopro curativo - Naquele Posto utiliza-se, com freqüência, a técnica do sopro curativo. À semelhança do passe, o sopro curativo poderia ser utilizado pela maioria das criaturas, com vantagens prodigiosas. Mas o assunto requer esforço individual e longo preparo. Os técnicos do Posto não se formaram de pronto. Exercitaram-se longamente, e, para a tarefa, precisam conservar a pureza da boca e a santidade das intenções. Alfredo, ante a surpresa de André, lembrou que o sopro da vida percorre a Criação inteira. "Nunca pensaram no vento, como sopro criador da Natureza?", indagou o dirigente do Posto de Socorro. Aniceto também explicou que no Ministério do Auxílio, em "Nosso Lar", há grande instituto especializado no assunto. "No plano carnal, toda boca, santamente intencionada, pode prestar apreciáveis auxílios, notando-se, porém, que as bocas generosas e puras poderão distribuir auxílios divinos, transmitindo fluidos vitais de saúde e reconforto", acrescentou Aniceto. (Cap. 19, pp. 104 a 107)

75. As defesas do Posto - As fortificações do Posto impressionavam. Fossos que deixavam passar a água corrente, a torre de vigia, o caminho da ronda, a cisterna, as seteiras, as paliçadas e os pequenos canhões, tudo lembrava as fortificações terrestres. No cume da torre de vigia, tremulava uma enorme bandeira de paz, muito alva. Alfredo explicou que era indispensável defender o Posto, embora sua tarefa fosse de concórdia e harmonia. As entidades votadas ao mal não eram apenas ignorantes ou inconscientes. A maioria se constitui de indivíduos perversos e criminosos, entidades verdadeiramente diabólicas. Daí a necessidade de defesa permanente e a importância das fortificações. Na Crosta, os homens menos felizes lutam pela dominação econômica, pelas paixões desordenadas, pela hegemonia dos falsos princípios. Ali tem-se tudo isso em identidade de condições. Mas as balas utilizadas na defesa do Posto não são feitas de aço; são projetis elétricos, que assustam terrivelmente as entidades e podem causar a impressão de morte. Os projetis expulsam os inimigos do bem através de vibrações do medo, podendo causar a ilusão da morte ao atuar sobre o corpo espiritual denso de Espíritos muito atrasados no caminho da vida. Para ilustrar seu relato, Alfredo contou ao grupo a lenda hindu da serpente e do santo. (Cap. 20, pp. 108 a 113)

76. O serviço no Posto - Grandes botijas d'água, caldeirões de sopa, vasos de substância medicamentosa eram trazidos para o atendimento aos enfermos. Ali, víamos espíritos mais desequilibrados que propriamente perversos. (Cap. 21, pág. 114)

77. Espíritos dementados - Malaquias, um dos enfermos, reclamava com Alfredo a demora do atendimento de sua petição. Estava preocupado com suas terras e seus escravos. Alfredo lhe diz que é preciso, primeiro, cuidar da saúde e ele se acalma. Aristarco receia que os primos lhe tomem sua parte na herança dos avós e indaga se seu pedido já foi enviado ao Imperador. Alfredo o esclarece quanto aos verdadeiros bens que ele poderá alcançar diante da Vida Eterna, e lembra que os primos, quando deixarem a Terra, nada poderão levar consigo. Essa idéia acalma o enfermo. Aproxima-se então uma senhora que reclama a volta ao lar, alegando que seu marido, se ela não voltar, dissipará seus bens e perseguirá as filhas. Alfredo procura esclarecê-la, sugerindo o desapego pelos bens passageiros, para poder ganhar os eternos bens, mas a mulher afasta-se encolerizada, incapaz de qualquer compreensão. Na verdade, ela desencarnou quando pretendia envenenar o marido, às ocultas, e os outros eram tiranos em seus domínios. Depois de passarem por um longo período dormindo, julgam-se ainda encarnados, supondo que podem dissimular suas pretensões criminosas. (Cap. 21, págs. 114 a 118)

78. A ala dos que dormem - Extensas filas de leitos ao rés do chão estavam ocupados por pessoas mergulhadas em profundo sono. Muitos tinham o semblante horrendo. Em quase todos, viam-se nos olhos o extremo pavor e o doloroso desespero da morte. Os que dormiam somavam 1.980 abrigados, dos quais Alfredo havia separado os 400 mais suscetíveis de próximo despertar, para aplicar-lhes o tratamento. Os demais recebem alimento e medicação mais densos uma vez por dia. Aproximando-se de um deles, André observa o calor orgânico, a pulsação regular e os movimentos respiratórios, apesar da extrema rigidez dos membros, como num processo de catalepsia. Quem eram aqueles homens? Aniceto esclarece dizendo que se trata de criaturas que nunca se entregaram ao bem ativo e renovador em torno de si, e mormente os que acreditaram convictamente na morte, como sendo o nada, o fim de tudo, o sono eterno. Eles dormem, porque estão magnetizados pelas próprias concepções negativistas; permanecem paralíticos, porque preferiram a rigidez ao entendimento; mas dia virá em que deverão levantar-se e pagar os débitos contraídos. (Cap. 22, págs. 120 a 122)

79. O atendimento dos enfermos - Os servidores do Posto distribuíram pequenas porções de alimento líquido e medicação bucal, em profundo silêncio. Em seguida, forneceram reduzidas quantidades de água efluviada aos infelizes, com exceção, porém, de muitos que pareciam preparados a receber, apenas, caldo e remédio. Dois terços dos quatrocentos abrigados receberam passes magnéticos. Poucos receberam aplicações do sopro curador. (Cap. 22, pág. 123)

80. Pesadelos - Todos aqueles irmãos eram presas de horríveis visões íntimas. A uma ordem de Aniceto, André Luiz examinou detidamente uma mulher. À medida que se concentrava, ele ampliava sua visão espiritual. Viu então uma sombra cinzento-escura condensar-se em torno da fronte daquela criatura. Formas se movimentavam numa pequena tela sombria. Apareceu uma casa modesta de cidade humilde. Lá dentro, um quadro horrível se forma. Uma senhora de idade madura luta com um homem embriagado. Ela tenta matá-lo; ele implora piedade. "Deus não existe! Deus não existe! Morrerás, infame". E, de súbito, crivou-lhe o crânio de marteladas surdas. Depois, a cena mostra-a conduzindo o cadáver em um carrinho de mão, até os trilhos de um trem. Consumado o crime, fruto de uma paixão enceguecida, a mulher viu-se cercada de seres que pareciam bandidos de vestes negras. A assassina era a pobre mulher que André examinava... O episódio do crime constituía-lhe um pesadelo recorrente. (Cap. 23, págs. 125 a 128)

81. A prece de Ismália - No horário reservado à prece coletiva, Ismália foi convidada a orar. Os demais acompanhavam, em silêncio, a oração, mas André Luiz e Vicente –  atendendo a uma recomendação de Aniceto –  seguiam a prece, frase por frase, repetindo em pensamento cada expressão, a fim de imprimir o máximo ritmo e harmonia ao verbo, ao som e à idéia, numa só vibração. Ismália transfigurou-se. Luzes diamantinas irradiavam de todo o seu corpo, em particular do tórax, cujo âmago parecia conter misteriosa lâmpada acesa. As senhoras que acompanhavam Ismália estavam também quase semelhantes a ela, como se trajassem costumes radiosos, em que predominava a cor azul. Depois delas, em brilho, vinha a luz de Aniceto, de um lilás surpreendente. Alfredo irradiava uma luz verde suave, mas sem grande esplendor. Vicente e André mostravam fraca luminosidade, mas estavam felizes, porque a maioria dos cooperadores em serviço apresentava o corpo obscuro. (Cap. 24, págs. 129 a 132)

82. O efeito da prece - Suave calor apossava-se de todos; era intensa a sensação de conforto. Foi então que do alto grande quantidade de flocos esbranquiçados, de tamanhos variadíssimos, caiu copiosamente sobre os que oravam, mas não sobre os que dormiam. Os flocos desapareciam ao tocá-los, mas da fronte e do peito dos cooperadores começaram a sair grandes bolhas luminosas, com a coloração da claridade de que cada um estava revestido, bolhas essas que se elevavam no ar e atingiam os espíritos em sono. As luzes emitidas por Ismália eram mais brilhantes, intensas e rápidas, e alcançavam vários enfermos de uma só vez. Vinham depois as fornecidas por suas companheiras, por Aniceto e Alfredo. O alcance ia-se reduzindo, mas todos emitiam vibrações. Os servos de corpo obscuro emitiam vibrações fracas, mas também luminosas. Cada qual revelava, naquele instante, o valor próprio da cooperação que podia prestar. (Cap. 24, págs. 132 e 133)

83. Dois espíritos despertam - As luzes da prece inundaram o recinto. Uma claridade serena, doce, irradiante, diferente da luz artificial, palpitava em tudo. Os flocos radiosos que partiam dos cooperadores multiplicavam-se no ar, como se obedecessem a misterioso processo de segmentação, e caíam sobre os corpos inanimados e enrijecidos, dando a impressão de lhes penetrarem as células mais íntimas. As bolhas luminosas, que não cessavam de cair, pareciam agora dirigidas sobre as frontes imóveis. Alguns espíritos começaram a dar sinais de vida. Uns gemiam, outros falavam em voz alta. Muitos moviam pés e mãos... Dois deles se levantaram, olharam para os trabalhadores, como loucos que acabassem de acordar e dispararam a correr, espavoridos. Alfredo explica que eles pensam que estão sonhando e é melhor assim, porque, não podendo fugir às fortificações do Posto de Socorro, voltarão  mais tarde a pedir socorro e serão então recolhidos para tratamento. (Cap. 25, págs. 134 e 135)

84. Resultados do atendimento - Aniceto aproveitou a experiência que todos tinham vivido, para lembrar que dos 1.980 enfermos em sono, que recebiam diariamente alimento e medicação comuns, só 400 são atendidos com alimento e medicação especializados, por se mostrarem mais suscetíveis de justa melhora. Desses quatrocentos, apenas 2/3 (dois terços) se revelaram aptos à recepção dos passes magnéticos. Muitos não puderam receber a água efluviada, poucos foram contemplados com o sopro curativo e apenas dois se levantaram, ainda assim profundamente perturbados. Ninguém esqueça esta lição: façamos o bem, sem qualquer ansiedade, sem exigir resultados. (Cap. 25, págs. 137 e 138)

Frases e apontamentos importantes

85. Estou resgatando crimes de precipitação. Pela impulsividade delituosa, perdi minha paz, meu lar e minha devotada companheira. (...) A calúnia é um monstro invisível, que ataca o homem através dos ouvidos invigilantes e dos olhos desprevenidos. (Alfredo, cap. 17, pág. 96)

86. A Humanidade parece preferir a condição de eterna criança. Faz e desfaz os patrimônios da civilização, como se brincasse com bonecas. (Alfredo, cap. 18, pág. 98)

87. Em vão a guerra desfechará desencarnações em massa. Esses mesmos mortos pesarão na economia espiritual da Terra. Enquanto houver discórdia entre nós, pagaremos doloroso preço em suor e lágrimas. (Aniceto, cap. 18, pp. 99 e 100)

88. É da lei divina que nos entendamos e nos amemos uns aos outros. Todos sofreremos os resultados do esquecimento da lei, mas cada um será responsabilizado, de perto, pela cota de discórdia que haja trazido à família mundial. (Aniceto, cap. 18, pág. 100)

89. Todos os dias somos curados por Jesus e todos os dias conduzimo-lo ao madeiro. Nossas obras estão reduzidas quase a simples recapitulações que fracassam sempre. (Ismália, cap. 18, pág. 100)

90. Nestes tempos <ele alude aos tempos de guerra>, a prece é uma luz mais intensa no coração dos homens. Bem se diz que a estrela brilha mais fortemente nas noites sem luz. (Alfredo, cap. 18, pág. 101)

91. Às vezes, é preciso sofrer para compreender as bênçãos divinas. (Alfredo, cap. 18, pág. 102)

92. Há sempre quefazeres em toda a parte. Onde houver espírito de cooperação da criatura, existe igualmente o serviço de Deus. (Alfredo, cap. 19, pág. 104)

93. Como o passe, que pode ser movimentado pelo maior número de pessoas, também o sopro curativo poderia ser utilizado pela maioria das criaturas, com vantagens prodigiosas. (Alfredo, cap. 19, pág. 105)

94. Toda realização nobre requer apoio sério. O bem divino, para manifestar-se em ação, exige a boa vontade humana. (...) em qualquer tempo e situação, o esforço individual é imprescindível. (Alfredo, cap. 19, pág. 105)

95. Nos círculos carnais, para que o sopro se afirme suficientemente, é imprescindível que o homem tenha o estômago sadio, a boca habituada a falar o bem, com abstenção do mal, e a mente reta, interessada em auxiliar. Obedecendo a esses requisitos, teremos o sopro calmante e revigorador, estimulante e curativo. Através dele, poder-se-á transmitir, também na Crosta, a saúde, o conforto e a vida. (Alfredo, cap. 19, pág. 105)

96. As organizações dos nossos irmãos consagrados ao mal são vastíssimas. Não admitam a hipótese de serem, todos eles, ignorantes ou inconscientes. A maioria se constitui de perversos e criminosos. São entidades verdadeiramente diabólicas. (Alfredo, cap. 20, pág. 109)

97. Entre as entidades perversas e ignorantes, há cooperativas para o mal, sistemas econômicos de natureza feudalista, baixa exploração de certas forças da Natureza, vaidades tirânicas, difusão de mentiras, escravização dos que se enfraquecem pela invigilância, doloroso cativeiro dos Espíritos falidos e imprevidentes, paixões talvez mais desordenadas que as da Terra, inquietações sentimentais, terríveis desequilíbrios da mente, angustiosos desvios do sentimento. Em todo o lugar, as quedas espirituais, perante o Senhor, são sempre as mesmas, embora variem de intensidade e coloração. (Alfredo, cap. 20, pp. 110 e 111)

98. As criaturas que se agarram, aqui, às impressões físicas, estão criando densidade para os seus veículos de manifestação, da mesma forma que os Espíritos dedicados à região superior estão purificando e elevando esses mesmos veículos. (Alfredo, cap. 20, pág. 111)

99. Que valem os patrimônios terrestres, ante os patrimônios imperecíveis? (Alfredo, cap. 21, pág. 116)

100. Os laços consangüíneos são edificantes, mas, acima deles, vibra a família universal. (...) Aprenda, quanto esteja em suas possibilidades, a desfazer-se de aquisições passageiras, para ganhar os eternos bens. (Alfredo, cap. 21, pág. 117)

101. A crença na vida superior é atividade incessante da alma. A ferrugem ataca a enxada ociosa. O entorpecimento invade o Espírito vazio de ideal criador. Os que, nos círculos carnais, crêem na vida eterna, ainda que não sejam fundamentalmente cristãos, estão desenvolvendo faculdades de movimentação espiritual e podem penetrar as esferas extraterrenas em estado animador... No entanto, as criaturas que perseveram em negação deliberada e absoluta, não obstante filiadas a cultos externos de atividade religiosa, que nada vêem além da carne nem desejam qualquer conhecimento espiritual, são verdadeiramente infelizes. (Aniceto, cap. 22, págs. 121 e 122)

102. A fé sincera é ginástica do Espírito. Quem não a exercitar de algum modo, na Terra, preferindo deliberadamente a negação injustificável, encontrar-se-á mais tarde sem movimento. Semelhantes criaturas necessitam de sono, de profundo repouso... (Aniceto, cap. 22, pág. 122)

103. Para ajudar eficientemente aos nossos amigos encarnados, é necessário saibamos ver com clareza e precisão. (Aniceto, cap. 23, pág. 124)

104. Quem dorme em desequilíbrio, entrega-se a pesadelos. (Aniceto, cap. 23, pág. 125)

105. Seus pensamentos de fraternidade e paz muito auxiliaram essa irmã infeliz. Guarde a certeza disso e continue buscando a compreensão para socorrer e ajudar com êxito. (Aniceto, cap. 23, pág. 128, referindo-se a uma senhora perturbada examinada por André Luiz)

106. Não precisamos comentar qualquer episódio dessas existências vividas em oposição à Vontade Divina. Bastará lembrar sempre que a dívida, em toda parte, anda com os devedores. (Aniceto, cap. 23, pág. 128)

107. Quase todos os nossos asilados são vítimas de terríveis pesadelos, por terem olvidado, no mundo material, os vossos mandamentos de amor e sabedoria. (Ismália, em prece ao Senhor, cap. 24, pág. 131)

108. Somos simples devedores, ansiosos de resgatar imensos débitos! Sabemos que vossa vontade nunca falha e esperamos confiantes a bênção de vida e luz!... (Ismália, em prece ao Senhor, cap. 24, pág. 132)

109. Na prece encontramos a produção avançada de elementos-força. Eles chegam da Providência em quantidade igual para todos os que se dêem ao trabalho divino da intercessão, mas cada Espírito tem uma capacidade diferente para receber. Essa capacidade é a conquista individual para o mais alto. (Aniceto, cap. 24, pág. 133)

110. O trabalho da prece é mais importante do que se pode imaginar no círculo dos encarnados. Não há prece sem resposta. E a oração, filha do amor, não é apenas súplica. É comunhão entre o Criador e a criatura, constituindo, assim, o mais poderoso influxo magnético que conhecemos. (Aniceto, cap. 25, pág. 136)

111. Se a oração traduz atividade no bem divino, venha donde vier, encaminhar-se-á para o Além em sentido vertical, buscando as bênçãos da vida superior, cumprindo-nos advertir que os maus respondem aos maus nos planos inferiores, entrelaçando-se mentalmente uns com os outros. É razoável, porém, destacar que toda prece impessoal, dirigida às Forças Supremas do Bem, delas recebe resposta imediata, em nome de Deus. (Aniceto, cap. 25, pág. 136)

112. Sobre os que oram nessas tarefas benditas, fluem, das esferas mais altas, os elementos-força que vitalizam nosso mundo interior, edificando-nos as esperanças divinas, e se exteriorizam, em seguida, contagiados de nosso magnetismo pessoal, no intenso desejo de servir com o Senhor. (Aniceto, cap. 25, pág. 136)

113. O Pai visita os filhos necessitados, através dos filhos que procuram compreendê-lo. (...) Compete ao necessitado caminhar ao reencontro d' Ele. O Senhor, todavia, atende sempre a todos os homens de boa vontade, por intermédio dos homens bons, que se edificam na casa divina. Todos os nossos desejos e impulsos razoáveis são atendidos pelas bênçãos paternais do Eterno. (Aniceto, cap. 25, pág. 137)

114. Ainda que nos demoremos nas lágrimas e nas aflições, jamais permanecemos ao desamparo. Apenas devemos salientar que as respostas de Deus vão sendo maiores e mais diretas, à medida que se intensifique o nosso merecimento, competindo-nos reconhecer que, para semelhantes respostas, são utilizados todos quantos trazem consigo a luz da bondade, ou já possuem mérito e confiança para auxiliar em nome de Deus. (Aniceto, cap. 25, pág. 137)

115. Não esqueçam esta lição. Façamos o bem, sem qualquer ansiedade. Semeemo-lo sempre e em toda a parte, mas não estacionemos na exigência de resultados. O lavrador pode espalhar as sementes à vontade e onde quer que esteja, mas precisa reconhecer que a germinação, o crescimento e o resultado pertencem a Deus. (Aniceto, cap. 25, pág. 138)

116. Cooperador com saudade do lar - Alonso, um velhinho de humilde expressão, pede notícias a Alfredo sobre seus familiares. Ele responde dizendo que sua viúva continua acabrunhada e os filhos, ansiosos, por motivo da ausência paterna. Revelando a saudade que sente da família, Alonso deseja permissão para visitá-los. Alfredo não nega, mas mostra a inconveniência do pedido, relatando uma experiência ocorrida com dois trabalhadores daquele Posto, que foram rever as viúvas e abraçar os filhinhos, e nunca mais voltaram, tanto que se envolveram nos pesados fluidos do clima doméstico. Estavam lá como pássaros aprisionados pelo visgo das tentações. Alfredo temia que acontecesse com ele a mesma coisa e Alonso desistiu do pedido. (Cap. 26, págs. 140 a 143)

117. O caso Paulo - Ele parecia um louco fundamente irritado, em seu quarto. Quando André abriu a porta, Paulo fixou nele seu olhar inexpressivo e gritou estentoricamente. Aniceto adiantou-se e cumprimentou-o, atencioso: - "Como vai, Paulo?" O enfermo aquietou-se. Aniceto aproveitou o ensejo para mostrar a diferença existente, na vida espiritual, entre os que dormem, os que estão loucos e os que sofrem. Em "Nosso Lar" não há nenhum espírito situado no primeiro caso, que é o mais grave. Ele mostrou então que os que gemem e sofrem, em qualquer parte, estão melhorando. "Toda lágrima sincera é bendito sintoma de renovação", disse o instrutor. Paulo é, naquele momento, um doente a caminho de melhora positiva. Embora não possua consciência exata de sua situação, já chora, já padece com as recordações de seu passado triste. Foi ele o autor da calúnia que destruiu o lar de Ismália e Alfredo, mas seus crimes não se resumiram a isso. Ele envenenou o espírito doutras senhoras, traiu outros amigos e destruiu a alegria e a paz de outros santuários domésticos. E as imagens de seus crimes povoam a sua mente, em pesadelos constantes. Foi o próprio Alfredo que o trouxe para o Posto, quando Paulo se encontrava em região abismal. Alfredo o trata como irmão e Ismália intercedeu por ele, tendo já preparado sua volta à Terra, na condição de filho de uma de suas vítimas na última existência terrestre. (Cap. 27, págs. 144 a 148)

118. Visitas - Amigos da colônia "Campo da Paz" chegam à casa de Ismália e Alfredo. É o casal Bacelar e duas jovens, que foram transportados até o Posto em um belo carro, tirado por dois soberbos cavalos brancos. O veículo era quase idêntico aos velhos carros do serviço público do tempo de Luís XV. Do Posto até a colônia a distância era aproximadamente de três léguas. Bacelar tinha a seu cargo a chefia de turmas de assistência a criaturas em lutas na Terra, que nem sempre, por viverem sob véus de profunda ignorância, desejam tal assistência. Além disso, enfrenta também o "desculpismo" dos encarnados que prometem trabalhar, quando estão na erraticidade, mas não assumem suas obrigações, quando estão na Crosta. (Cap. 28, págs. 149 a 153)

119. "Campo da Paz" - Com o casal Bacelar também vieram em visita ao Posto de Socorro Cecília, filha do casal, e Aldonina, sobrinha. Cecília sonha com uma visita a "Nosso Lar", mas, para consegui-lo, é preciso atender a algumas obrigações importantes. A colônia "Nosso Lar" é muito avançada, comparativamente com "Campo da Paz". Seus Ministérios são verdadeiras universidades de preparação espiritual; daí a vontade imensa que a jovem tem de conhecê-la. "Campo da Paz", localizada em plena região inferior, foi fundada há mais de dois séculos por benfeitores espirituais que pretendiam criar um instituto de socorro imediato aos que são surpreendidos na Crosta com a morte física, em estado de ignorância ou de culpas dolorosas. Mas nem os Espíritos evolvidos estimam trabalhar lá. O trabalho é meritório, mas as aquisições são lentas. Bacelar ali se encontra há mais de cinqüenta anos, depois de ter sido socorrido na própria colônia. Sua esposa reuniu-se a ele mais tarde e, vinte anos atrás, Cecília e Aldonina foram atraídas à colônia, para ali dar continuidade ao lar terrestre. No momento, Cecília aguardava a chegada de alguém que ainda se encontrava encarnado na Terra. (Cap. 29, págs. 154 a 158)

120. Casamento em "Campo da Paz" - As jovens relatam o caso de Isaura, que se casou em "Campo da Paz", havia três anos, e foi residir em "Nosso Lar", em companhia do esposo, funcionário dos Serviços de Investigação do Ministério do Esclarecimento. Ele morara em "Campo da Paz", mas foi convocado a serviços em "Nosso Lar", razão de ter levado consigo a noiva. Antônio, o noivo, poderia levá-la sem qualquer formalidade, já que se encontrava em posição evolutiva superior à dela. Um dos chefes de serviço na colônia aconselhou, porém, que Isaura se preparasse por seis anos consecutivos em "Campo da Paz", antes da partida definitiva, esclarecendo que, num casamento de almas, é indispensável apurar o enxoval dos sentimentos. Isaura aceitou a sugestão e trabalhou durante todo esse tempo em "Campo da Paz", adquirindo valores culturais e aprimorando o campo do pensamento. (Cap. 30, págs. 159 a 161)

121. Centro de enfermagem - Há em "Campo da Paz" instituições de entretenimento parecidas com "Nosso Lar", mas, estando muito próxima à Crosta, as tempestades que a atingem obrigam seus moradores a serviços constantes. Lá não existem Ministérios da União Divina e da Elevação. A colônia mais se assemelha a um avançado centro de enfermagem, rodeado de perigos, porque os ignorantes e infelizes a cercam por todos os lados. De dez em dez quilômetros, nas zonas vizinhas à colônia, há Postos de Socorro que funcionam como Instituições de assistência fraternal e sentinelas ativas, ao mesmo tempo. (Cap. 30, págs. 161 e 162)

122. Assistência à infância - Cecília e Aldonina desenvolvem ali tarefas de assistência junto dos recém-encarnados. "Campo da Paz" prepara, em média, 15 a 20 reencarnações diárias e torna-se imprescindível assistir os companheiros ou tutelados, pelo menos no período infantil mais tenro, que compreende os primeiros sete anos de existência carnal. Elas vão muito à Crosta, mas sempre em grupos, usando as faculdades de volitação, que, no seu caso, são bastante adestradas. (Cap. 30, págs. 162 e 163)

123. Salão de Música - Luzes de um azul doce e brilhante iluminavam um grande recinto. Um grupo formado por 80 crianças, meninos e meninas, executava linda canção: 50 tangiam instrumentos de corda e 30 cantavam, em coro. Era uma barcarola que André nunca ouvira no mundo. Cecília, filha do casal Bacelar, executa depois, no órgão, uma melodia de Bach, acompanhada pelas crianças. Em seguida, ela canta, acompanhando-se ao órgão, uma canção que parecia sair-lhe das profundezas do coração, na qual lembra com saudade Hermínio, seu amado de outras eras, que ela nunca esquece. (Cap. 31, págs. 164 a 167)

124. A música de Ismália - A pedido de Aniceto, a esposa de Alfredo executa no órgão uma canção de sua esfera. Ela não cantava, apenas tocava, mas havia no seio da música uma prece que atingia o sublime, oração que André não escutava com os ouvidos mas recebia na alma, através de vibrações sutis, como se o melodioso som estivesse impregnado do verbo silencioso e criador. Ismália glorificava o Senhor de maneira diferente, inexprimível na linguagem humana, que tocava as recônditas fibras do coração de todos que a ouviam. Luzes jorravam do Alto sobre a fronte de Ismália, envolvendo-a num arco irisado de efeito magnético. Belas flores azuis partiam de seu coração, espalhando-se sobre os ouvintes. Ao tocá-los, desfaziam-se como se feitas de cariciosa bruma anilada. As flores fluídicas multiplicavam-se, sem cessar, no ambiente e penetravam a todos, como pétalas constituídas apenas de colorido perfume. Aniceto explicou então que a luz que jorrou sobre Ismália é a mesma que verte do plano superior para todos, mas a melodia, a prece e as flores constituíam sublime criação daquela alma santificada. (Cap. 32, págs. 169 a 173)

125. Um automóvel singular - Aniceto e seus amigos partiram do Posto de Socorro, conduzidos em um pequeno automóvel de asas, que se deslocava impulsionado por fluidos elétricos acumulados. O pequeno aparelho conduziu-os por enormes distâncias, sempre no ar, mas conservando-se a reduzida altura do solo. Quase ao meio-dia, estacionaram em humilde pouso, destinado a abastecimento e reparação de veículos como aquele. O automóvel regressaria ao Posto e o grupo faria o restante do percurso a pé. (Cap. 33, págs. 174 e 175)

126. Uma viagem difícil - Do pouso de abastecimento até a Crosta seriam quatro horas de caminhada. A paisagem era muito fria e diferente. O caminho não era trevoso, mas muito escuro e nevoento. A atmosfera tornara-se densa, alterando-lhes a respiração. Sombras os rodeavam: eram resultantes das emissões vibratórias da Humanidade encarnada  – ainda bastante inferior, em sua maioria –  bem como dos resíduos escuros, de matéria mental dos encarnados e desencarnados de baixa condição. A caminhada foi pesada e dolorosa. Monstros, que fugiam à aproximação do grupo, escondendo-se no fundo sombrio da paisagem, eram indescritíveis. Somente duas horas depois é que a luz do Sol apareceu, como se fosse madrugada clara. O espetáculo era magnífico. Calor brando começou a revigorar André e seus companheiros. Aniceto explicou que eles estavam agora entrando na zona de influenciarão direta da Crosta e poderiam utilizar a volitação, utilizando seus conhecimentos de transformação da força centrípeta. A luz que os banhava resultava do contacto magnético entre a energia positiva do Sol e a força negativa da massa planetária. (Cap. 33, págs. 175 a 177)

127. Contacto com o mar - Como André e Vicente estavam exaustos, o grupo abeirou-se do mar, para um exercício respiratório necessário. O esforço havia sido significativo. A noite estava começando e eles rumaram então para uma casa modesta, que servia como refúgio terrestre da colônia "Nosso Lar". (Cap. 33, pág. 178)
128. Uma oficina de "Nosso Lar" - O cenário nas ruas do Rio de Janeiro era surpreendente aos olhos de André Luiz. Desencarnados de ordem inferior seguiam os passos de transeuntes vários, ou a estes se grudavam, em abraço singular. Muitos dependuravam-se em veículos. Alguns, em grupos, vagavam pelas ruas, formando verdadeiras nuvens escuras que houvessem de repente baixado ao solo. O número de entidades inferiores, invisíveis aos nossos olhos, não era menor que o de encarnados. André tinha a impressão de estar mergulhado num oceano de vibrações muito diferentes, onde respirava com dificuldade. Na verdade, segundo Aniceto explicou, essas penosas sensações experimentadas por Vicente e André decorriam do fato de ser aquela a primeira vez que eles desciam à Crosta em serviço de análise mais intenso. Foi assim que o grupo chegou, entre 18 e 19 horas, à casa de Isabel, uma residência de aspecto humilde, que, entretanto, estava lindamente iluminada por clarões espirituais, como a lembrar a colônia "Nosso Lar". A casa era, na verdade, uma oficina da colônia implantada na Terra. Para entrar na casa singela, foi preciso que alguém abrisse a porta. André diz que isso não sucedia quando ele ia à sua antiga residência terrestre. As portas fechadas ali não lhe ofereciam obstáculos. Na casa de Isabel vigorava, porém, um sistema vibratório de vigilância que ele não conhecia, até então. (Cap. 34, págs. 179 a 181)

129. A senhora Isabel - A casa era chefiada por Isabel, viúva de Isidoro, desencarnado três anos antes. O casal saiu de "Nosso Lar", mais de quarenta anos atrás, com a tarefa de edificar aquela oficina. A viúva, na faixa dos 40 anos mais ou menos, vivia com uma filha de 16 anos, um rapaz de 12 e mais três crianças de 9, 7 e 5 anos de idade. Isidoro e a esposa continuavam estreitamente unidos. Graças aos seus méritos, ele tivera permissão para continuar na casa como esposo amigo, pai devotado, sentinela vigilante e trabalhador fiel. Isabel era portadora de grande vidência psíquica, mas apenas percebia uma vigésima parte dos serviços espirituais em que colaborava. Aniceto explicou que o conhecimento exato da paisagem espiritual, em que vivia, talvez lhe prejudicasse a tranqüilidade, visto que a casa-oficina era um posto de serviço que estava sempre quase repleto de entidades evolvidas, com tarefas definidas junto à Crosta. (Cap. 34, págs. 181 a 183)

Frases e apontamentos importantes

130. Nem sempre agimos no mundo com a necessária visão; mas aqui é possível sentir, de mais perto, os interesses imperecíveis daqueles que amamos. O sentimento elevado é sempre um caminho reto para nossa alma; todavia, não podemos dizer o mesmo, a respeito do sentimentalismo cultivado no círculo da Crosta. (...) A saudade que fere, impedindo-nos atender à Vontade Divina, não é louvável nem útil. (Alfredo, cap. 26, pág. 140)

131. Tenho a impressão, Alonso, de que Deus nos deixa sozinhos, por vezes, a fim de refazermos o aprendizado, melhorando o coração. A soledade, porém, quando aproveitada pela alma, precede o sublime reencontro. Além disso, você não deve ignorar que os filhos pertencem a Deus, que cada um deles precisa definir responsabilidades e cogitar da própria realização. (Alfredo, cap. 26, pág. 142)

132. Os vôos de grande altura pedem asas fortes. (Alfredo, cap. 26, pág. 143)

133. É necessário reconheçamos que os que gemem e sofrem, em qualquer parte, estão melhorando. Toda lágrima sincera é bendito sintoma de renovação. (Aniceto, cap. 27, pág. 145)

134. O criminoso nunca consegue fugir da verdadeira justiça universal, porque carrega o crime cometido, em qualquer parte. Tanto nos círculos carnais, como aqui, a paisagem real do Espírito é a do campo interior. Viveremos, de fato, com as criações mais íntimas de nossa alma. (Aniceto, cap. 27, págs. 146 e 147)

135. O dever possui as bênçãos da confiança, mas a dívida tem os fantasmas da cobrança. (Aniceto, cap. 27, pág. 147)

136. Não julguem que o marido de Ismália conseguiu essa vitória espiritual tão somente pelo fato de desejá-la. Ele desejou-a, procurou-a, alimentou-a, e, agora, permanece na realização. (Aniceto, cap. 27, pág. 148)

137. Como vêem, o ensinamento de Jesus, quanto ao "batei e abrir-se-vos-á", é muito extenso. No plano da carne, insistimos à porta das coisas exteriores, procurando facilidades e vantagens; mas, aqui, temos de bater à porta de nós mesmos, para encontrar a virtude e a verdadeira iluminação. (Aniceto, cap. 27, pág. 148)

138. É indispensável aprender a servir e passar. (Bacelar, cap. 28, pág. 151)

139. O progresso humano não é uma questão de dias. Não tenhamos ilusões. (Aniceto, cap. 28, pág. 151)

140. Os doentes comuns, na Terra, muito raramente lembram a medicina preventiva. De modo quase invariável, esperam a positivação das moléstias para buscarem o recurso preciso. Necessitam de anestésicos para o socorro do bisturi. Fogem ao regímen tão logo surja a primeira melhora. Confundem o método de tratamento, apenas se registre o primeiro sinal de cura. Detestam a dor que restabelece o equilíbrio. (Bacelar, cap. 28, pág. 152)

141. A cooperação dos encarnados é outro problema. A maioria dos irmãos que se propõem ao serviço, partem daqui prometendo, mas gostam de viver descansados, no planeta. Poucos fogem ao estalão comum. Raramente encontramos companheiros encarnados com bastante disposição para amar o trabalho pelo trabalho, sem idéia de recompensa. (...) À força de viciarem raciocínios, confundem igualmente a visão. Enxergam tormentas onde há paisagens celestes, montanhas de pedra onde o caminho é gloriosa elevação. (Bacelar, cap. 28, págs. 152 e 153)

142. E o "desculpismo"? Nesse terreno de assistência espiritual, verão, um dia, quantos pretextos são inventados pelas criaturas terrestres por fugir ao testemunho da verdade divina, nas tarefas que lhes são próprias. Os mordomos da responsabilidade alegam excesso de deveres, os servidores da obediência afirmam ausência de ensejo. Os que guardam possibilidades financeiras montam guarda ao patrimônio amoedado, os que receberam a bênção da pobreza de recursos monetários aconselham-se com a revolta. Os moços declaram-se muito jovens para cultivar as realidades sublimes, os mais idosos afirmam-se inúteis para servi-las. Os casados reclamam quanto à família, os solteiros queixam-se da ausência dela. Dizem os doentes que não podem, comentam os sãos que não precisam. Raros companheiros encarnados conseguem viver sem a contradição. (Bacelar, cap. 28, pág. 153)

143. Onde a maioria vive com a bondade, a maldade da minoria tende sempre a desaparecer. "Nosso Lar", portanto, mesmo para os que choram, possui soberanas vantagens espirituais. (Cecília, cap. 29, pág. 155)

144. Em "Nosso Lar" há muitos Espíritos sofredores, mas em "Campo da Paz", conhecemos muitos Espíritos obsessores. Lá poderá existir muita gente que ainda chora; mas em nosso meio há muita gente que se revolta. É mais fácil remediar o que geme, que atender ao revoltado. (Cecília, cap. 29, pág. 156)

145. A influência da Humanidade encarnada em nosso núcleo de serviço é vigorosa e inevitável. (Cecília, cap. 29, pág. 156, referindo-se à colônia "Campo da Paz")

146. Se o casamento humano é um dos mais belos atos da existência na Terra, por que deixaria de existir aqui, onde a beleza é sempre mais quintessenciada e mais pura? (Cecília, cap. 30, pág. 160)

147. Para possuirmos aqui essa ventura, é preciso ter amado na Terra, movimentando os mais nobres impulsos do espírito. Para colher os júbilos dessa natureza, é necessário ter amado com alma. Os que se consagram exclusivamente aos desejos do corpo, não sabem amar além da forma, são incapazes de sentir as profundas vibrações espirituais do amor... (Aldonina, cap. 30, pág. 160)

148. Num casamento de almas, é indispensável apurar o enxoval dos sentimentos. (Cecília, cap. 30, pág. 161)

149. Nossos instrutores afirmam sempre que tudo de bom deve aguardar do destino quem saiba servir ao bem e trabalhar com esperança. (Aldonina, cap. 30, pág. 161)

150. No trabalho de assistência aos outros e defesa de nós mesmos, não podemos dispensar a prática avançada e justa da cooperação sincera. (Cecília, cap. 30, pág. 163)

151. A música elevada é sublime em toda parte. (Ismália, cap. 31, pág. 165)

152. Devotar-se não é crime... O amor é luz de Deus, ainda mesmo quando resplandeça no fundo do abismo. (Ismália, cap. 31, pág. 168)

153. Cada um de nós traz, nos caminhos da vida, os arquivos de si mesmo. Enquanto os maus exibem o inferno que criaram para o íntimo, os bons revelam o paraíso que edificaram no próprio coração. (Aniceto, cap. 32, pág. 173)

154. Todo aquele que opere, e coopere de espírito voltado para Deus, poderá aguardar sempre o melhor. Não é promessa de amizade. É lei. (Aniceto, cap. 33, pág. 175)

155. Infelizmente, as emissões vibratórias da Humanidade encarnada são de natureza bastante inferior, em nos referindo à maioria das criaturas terrestres, e estas regiões estão repletas de resíduos escuros, de matéria mental dos encarnados e desencarnados de baixa condição. (Aniceto, cap. 33, pág. 175)

156. Agradeçamos ao Senhor dos Mundos a bênção do Sol! Na Natureza física, é a mais alta imagem de Deus que conhecemos. Temo-lo, nas mais variadas combinações, segundo a substância das esferas que habitamos, dentro do sistema. (...) Entretanto, é sempre o mesmo, sempre a radiosa sede de nossas energias vitais! (Aniceto, cap. 33, págs. 176 e 177)

157. A luz que nos banha resulta do contacto magnético entre a energia positiva do Sol e a força negativa da massa planetária. (Aniceto, cap. 33, pág. 177)

158. A eficiência do auxílio necessita educação persistente. Não seria possível ajudar alguém, prendendo-nos a fraquezas de qualquer espécie. (...) Diversos companheiros adiam nobres realizações, em virtude das manifestações de injustificável receio. (Aniceto, cap. 34, pág. 180)

159. O acaso não define responsabilidades nem atende à construção séria. A edificação espiritual pede esforço e dedicação. Assim como os navios do mundo necessitam de âncoras firmes para atenderem eficientemente à sua tarefa nos portos, também nós precisamos de irmãos corajosos e abnegados que façam o papel de âncoras entre as criaturas encarnadas, a fim de que, por elas, possam os grandes benfeitores da Espiritualidade Superior se fazerem sentir entre os homens ainda animalizados, ignorantes e infelizes. (Aniceto, cap. 34, pág. 183)


160. Culto doméstico do Evangelho - Nas primeiras horas da noite, Isabel abandonou a agulha e convidou os filhos para o culto doméstico. Suas filhas eram entidades amigas de "Nosso Lar", reencarnadas para serviço espiritual e resgate necessário, na Terra. Só o rapaz procedia de região inferior, o que ficou logo claro. A viúva sentou-se à cabeceira e pediu que Neli, de 9 anos, fizesse a oração inicial do culto. Todos os trabalhadores invisíveis sentaram-se, respeitosos. Isidoro e alguns companheiros mais íntimos do casal permaneceram ao lado de Isabel, sendo quase todos vistos e ouvidos por ela. As luzes ambientes se tornaram muito mais intensas, logo que começou o culto. Quando Isabel abriu o Novo Testamento, ao chamado acaso, via-se claramente que Isidoro intervinha na operação, ajudando a localizar o assunto da noite. Lido o trecho evangélico, André observou um fenômeno curioso: um amigo espiritual, de nobilíssima condição, colocou a destra sobre a fronte da generosa viúva. Era Fábio Aleto, incumbido da interpretação espiritual do texto lido. Aniceto explicou que os que estivessem nas mesmas condições do instrutor da noite poderiam "ouvir-lhe" os pensamentos; os demais receberiam seus comentários através do verbo de Isabel. Lindas lições foram trazidas à pequena comunidade pela voz da médium, que, após examinar rapidamente o caso de uma jovem suicida, comentou a passagem evangélica em que Jesus diz que o reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda. (Cap. 35, págs. 184 a 188)

161. Conversação com os filhos - A conversação que se estabeleceu após os comentários evangélicos foi de alto nível. Fábio Aleto sentou-se em plano mais elevado. Isidoro se acomodou junto da esposa. Marieta, a filha de 7 anos, pergunta então à mãe: “Se Jesus é tão bom, por que eles estavam comendo só uma vez ao dia?” A menina acrescentou que na casa da Dona Fausta eles faziam duas refeições, e que Neli lhe contou que no tempo do papai também eles faziam assim. Por que será? Isabel esboçou um sorriso algo triste e explicou: "Ora, Marieta, você vive muito impressionada com essa questão. Não devemos, filhinha, subordinar todos os pensamentos às necessidades do estômago. Há quanto tempo estamos tomando nossa refeição diária e gozando boa saúde? Quanto benefício estaremos colhendo com esta frugalidade de alimentação?" A filha mais velha interveio, dizendo que a mãe tinha toda a razão. "Tenho visto muita gente adoecer por abuso da mesa", acrescentou a jovem. Isabel depois lembrou que Jesus abençoa o pão e a água de todas as criaturas que sabem agradecer as dádivas divinas. E disse que Isidoro partiu, mas nunca lhes faltou o necessário. "Temos nossa casinha, nossa união espiritual, nossos bons amigos. Convençam-se de que o papai está trabalhando ainda por nós". Nessa altura, Isidoro enxugou os olhos úmidos e muitos Espíritos, como André Luiz, estavam comovidos. (Cap. 36, págs. 189 a 191)

162. Conceito de pobreza - Entre Isabel e suas filhas havia permuta constante de vibrações luminosas, como se estivessem identificadas no mesmo ideal e unidas numa só posição, mas o rapaz permanecia espiritualmente distante e de quando em quando sorria irônico. Valendo-se de uma pausa mais longa, ele perguntou à sua mãe o que ela entendia por pobreza. Isabel respondeu dizendo que a pobreza é uma das melhores oportunidades de elevação ao alcance do homem. E fez algumas comparações relativamente às dificuldades que as pessoas afortunadas têm, do ponto de vista moral. O rapaz, insensível às realidades que ele acabara de ouvir, disse que não podia concordar com ela, pois até os garotos do jardim de infância pensam de modo contrário. E chegou até a sugerir que o salão onde a família fazia seus cultos fosse alugado, para aumentar a renda da família. Isabel advertiu, porém, que, em respeito à memória de Isidoro, jamais aquele salão seria destinado a outra atividade e, quando o jovem quis retrucar, a luz emitida pelo tórax de sua mãe confundiu-lhe o espírito rebelde e ele acabou se calando, a contragosto, amuado e enraivecido. (Cap. 36, págs. 191 a 193)

163. Alimentação na oficina - Enquanto a família humana de Isidoro fazia frugal refeição de chá com torradas, numa saleta próxima os Espíritos faziam ligeiro repasto, entremeado de palestra elevada e proveitosa. A alimentação servida a André e seus amigos era leve e simples, sem qualquer analogia com a alimentação que os encarnados utilizam. Aniceto explicou que em oficinas como aquela era possível preservar a pureza das substâncias alimentícias. Os elementos mais baixos não encontram, naquele santuário, o campo imprescindível à proliferação. Ali tem-se bastante luz para neutralizar qualquer manifestação da treva. (Cap. 37, pág. 194)

164. Hora do sono - Algumas entidades valem-se da oficina de "Nosso Lar" para encontrar-se com familiares encarnados, durante os momentos do sono. Era o caso de Emília, servidora em "Nosso Lar", que veio ao encontro do esposo ainda encarnado. Muitas pessoas estão aptas a desenvolver esse intercâmbio espiritual, embora a maioria não tenha consciência dessa possibilidade. (Cap. 37, pág. 195)

165. Oceano de oxigênio - A pressão atmosférica sobre os encarnados é, aproximadamente, de 15 mil quilos, segundo Aniceto, mas esse peso não é sentido pelos desencarnados. O instrutor explica que isso se deve à diferença dos veículos de manifestação. Os corpos dos homens e dos Espíritos apresentam diversidade essencial. O círculo da Crosta é como se fosse um oceano de oxigênio, diz ele. As criaturas terrestres são elementos pesados que se movimentam no fundo, enquanto os Espíritos podem vir à tona, sem maiores dificuldades, pela qualidade do material de que se constituem. (Cap. 37, pág. 196)

166. Monstros nas ruas - Sempre que uma tempestade se anuncia, formas sombrias, algumas monstruosas, se arrastam na rua, à procura de abrigo conveniente. São os ignorantes que vagueiam nas ruas, escravizados às sensações mais fortes dos sentidos físicos. Encontram-se ainda colados às expressões mais baixas da experiência terrestre e, assim, os aguaceiros os incomodam tanto quanto ao homem comum, distante do lar. Eles buscam, de preferência, as casas de diversão noturna, onde a ociosidade encontra válvula nas dissipações. Quando isso não é possível, penetram as residências abertas. Para eles, a matéria do plano ainda apresenta a mesma densidade característica. (Cap. 37, págs. 196 e 197)

167. Efeitos da prece - Quando essas entidades se aproximam da casa de Isabel, fogem, em seguida, espantadas e inquietas. É que a prece do coração constitui emissão eletromagnética de relativo poder. Por isso mesmo, o culto familiar do Evangelho não é tão só um curso de iluminação interior, mas também processo avançado de defesa exterior, pelas claridades espirituais que acende em torno. O homem que ora traz consigo inalienável couraça. O lar que cultiva a prece transforma-se em fortaleza. As entidades da sombra experimentam choques de vulto, em contacto com as vibrações luminosas da casa que Isidoro e Isabel edificaram para ser uma oficina terrestre da colônia "Nosso Lar". (Cap. 37, págs. 196 e 197)

168. A felicidade do encontro afetivo - André, mal refeito de tantas surpresas, assiste a mais uma naquela noite: Isidoro e Isabel chegam até eles, de braços entrelaçados, irradiando ventura. Ela vestia-se agora lindamente e, contente ao lado do esposo, cumprimentava-os, amável. O casal teria uma excursão instrutiva naquela noite e deixava-lhes seus filhos por algumas horas. (Cap. 37, págs. 197 e 198)

169. Sonhos - De madrugada, o movimento intensificou-se na casa. Muita gente ia e vinha. Muitos ali se encontravam com os parentes desencarnados, aproveitando os instantes do sono físico. As conversações realizadas durante o sono não serão, contudo, inteiramente lembradas, em suas minúcias, ao amanhecer. Ficarão registradas apenas partes do diálogo. E a razão é simples, segundo Aniceto: o desprendimento no sono físico é fragmentário e a visão e a audição peculiares ao encarnado se encontram nele também restritas. (Cap. 38, págs. 199 a 203)

170. As oficinas de trabalho - Pelo número de trabalhadores espirituais que pernoitaram na casa humilde, André reconheceu a importância daquele núcleo de serviço, tão apagado aos olhos do mundo, registrando ainda que existem muitas oficinas de "Nosso Lar" e de outras colônias espirituais, como aquela, no Rio de Janeiro e noutras cidades do país. (Cap. 39, págs. 204 e 205)

171. Estagiários em serviço - André Luiz fica sabendo que somente alguns cooperadores de Isidoro e Isabel encontram-se em serviço naquele núcleo desde a sua fundação, ocorrida vinte anos atrás. Os demais ali não se demoram em trabalho por mais de dois anos consecutivos. O posto é como uma escola ativa em que todos aprendem muito e as atividades são inúmeras. Vieira e Hildegardo têm, por exemplo, a seu cargo a tarefa de auxiliar os irmãos ignorantes e sofredores que estejam em condições de vir até à casa, para os estudos evangélicos. Mas sua área de ação abrange apenas alguns quarteirões no centro urbano. Outros cooperadores fazem o mesmo trabalho em outros pontos da cidade. É preciso, porém, muito critério e atenção às normas doutrinárias da casa, para que não sejam levados até ali Espíritos ociosos e escarninhos, ou que se aproximam da casa alimentando intenções de natureza inferior. (Cap. 39, págs. 206 e 207)

172. Larvas mentais - Quando se dirigem ao campo, com Aniceto, para um momento de refazimento e descanso, André e Vicente observam manchas escuras na via pública. "São nuvens de bactérias variadas. Flutuam, quase sempre também, em grupos compactos, obedecendo ao princípio das afinidades", explicou Aniceto, que pede que eles observem grandes núcleos pardacentos ou completamente obscuros a envolver certos edifícios. "São zonas de matéria mental inferior, matéria que é expelida incessantemente por certa classe de pessoas. Se demorarmos em nossas investigações – diz-lhes Aniceto – , veremos igualmente os monstros que se arrastam nos passos das criaturas, atraídos por elas mesmas..." O instrutor informa ainda que a matéria mental emitida pelo homem inferior tem vida própria, como os corpúsculos microscópicos de que se originam as enfermidades corporais. Falou então da medicina do futuro, em que o homem terreno será considerado em sua natureza psicofísica. No capítulo das moléstias, "não podemos considerar somente a situação fisiológica do homem", disse Aniceto, mas também o quadro psíquico da personalidade encarnada. (Cap. 40, págs. 210 a 213)

173. O campo e suas virtudes - Aniceto leva Vicente e André Luiz a um repouso no campo, esclarecendo que, no círculo dos encarnados, em qualquer condição, o campo é o reservatório mais abundante e vigoroso de princípios vitais. Em geral, os cooperadores espirituais estimam o ar da manhã, quando a atmosfera permanece igualmente em repouso, isenta dos glóbulos de poeira convertidos em microscópicos balões de bacilos e de outras expressões inferiores. Na floresta, ao contrário, há uma densidade forte, pela pobreza das emanações, em vista da impermeabilidade ao vento. Aí, o ar costuma converter-se em elemento asfixiante, pelo excesso de emissões dos reinos inferiores da Natureza. Na cidade, a atmosfera é compacta e o ar também sufoca, pela densidade mental das mais baixas aglomerações humanas. O campo é, desse modo, o centro ideal para o repouso necessário. Reina ali a paz relativa e equilibrada da Natureza terrestre, sem a selvageria da mata virgem ou a sufocação dos fluidos humanos. (Cap. 41, págs. 215 e 216)

174. O carroceiro imprudente - Nas vizinhanças via-se grande quantidade de trabalhadores desencarnados que prestam serviços aos reinos inferiores da Natureza, preparando-se, assim, para novas encarnações no mundo. Ocorreu, no entanto, próximo de onde André estava, um fato inusitado. Duas pessoas encarnadas prestavam socorro a um homem ferido, e era grande o número de Espíritos que auxiliavam o pequeno grupo. Tratava-se de um carroceiro que havia recebido a patada de um burro. Uma entidade espiritual interpelou Glicério, perguntando-lhe como ele havia permitido semelhante acontecimento. Glicério tinha a seu cargo a vigilância e a proteção espiritual daquele trecho da estrada. O vigilante desencarnado respondeu explicando que todos os seus esforços foram improfícuos, pela imprudência do carroceiro. O infeliz não tinha o mínimo respeito pelos animais que o auxiliavam a ganhar o pão de cada dia. Não sabia senão gritar, surrar, ferir e tinha a mente fechada às sugestões de agradecimento. Naquele dia, tanto perturbou o pobre muar, tanto o castigou, que pareceu mais animalizado... Quando se tornou quase irracional, pelo excesso de fúria e ingratidão, o auxílio espiritual se tornou ineficiente. Atormentado pelas descargas de cólera do condutor, o burro humilde o atacou com a pata. Que poderia fazer? O superior entendeu perfeitamente o acontecido e deu razão a Glicério. O carroceiro fora punido por si mesmo, recebendo uma lição útil e necessária, decorrente de seus próprios atos. (Cap. 41, págs. 216 a 218)

175. Evangelho no meio rural - Ali mesmo, passado o episódio desagradável, realizou-se o estudo evangélico programado para o dia. Aniceto foi convidado a comentar um trecho do Evangelho. Logo que escolheu a página, o instrutor começou a meditar, enquanto sublimada luz lhe aureolava a fronte. O silêncio era geral. O interesse dos companheiros desencarnados, muito grande, e havia um aspecto imponente e calmo na Natureza. Um rebanho bovino acercara-se do grupo, atraído por forças magnéticas que André não conseguiu compreender. Alguns muares humildes também chegaram e as aves tranqüilizaram-se nas árvores, sem um pio. O ambiente, excetuada a rusticidade natural do campo, lembrava um pouco os salões verdes de "Nosso Lar". Aniceto leu em voz alta e comentou trechos do cap. 8 da Epístola de Paulo aos Romanos, lembrando como o homem tem oposto obstáculos ao desenvolvimento espiritual da Humanidade, com suas vaidades, suas ambições, suas viciações de sentimentos e irresponsabilidade, que geram a miséria, as guerras e todos os males que infelicitam a Humanidade terrena. No final da preleção, o instrutor conclamou todos ao entendimento e à cooperação fraternal. (Cap. 42, págs. 219 a 223)

176. A importância do nitrogênio na vida - Em seus comentários, Aniceto aludiu à importância do nitrogênio na vida humana. Organismo algum – disse ele –  pode viver na Terra sem essa substância, e embora se locomova num oceano de nitrogênio, respirando-o na média de mil litros por dia, não pode o homem apropriar-se do nitrogênio do ar. Somente as plantas conseguem retirá-lo do solo, fixando-o para o entretenimento da vida noutros seres. Cada grão de trigo é uma bênção nitrogenada para sustento das criaturas; cada fruto da terra é uma bolsa de açúcar e albumina, repleta do nitrogênio indispensável ao equilíbrio orgânico dos seres vivos. "Se o homem conseguisse fixar dez gramas, aproximadamente, dos mil litros de nitrogênio que respira diariamente, a Crosta estaria transformada no paraíso verdadeiramente espiritual", acrescentou Aniceto, explicando que mesmo na colônia "Nosso Lar" ainda estamos distantes da grande conquista do alimento espontâneo pelas forças atmosféricas, em caráter absoluto, o que somente ocorrerá mais tarde, com o progresso moral do homem. Quando isso acontecer, o matadouro será convertido em local de cooperação, onde o homem atenderá aos seres inferiores e estes atenderão às necessidades do homem. O Senhor permitir-nos-á, então, pelo menos em parte, a solução do problema técnico de fixação do nitrogênio da atmosfera. (Cap. 42, pág. 222)

Frases e apontamentos importantes

177. Estamos certos de que ninguém comete erros por amar verdadeiramente. Os que amam, de fato, são cultivadores da vida e nunca espalham a morte. (Fábio Aleto, cap. 35, pág. 186)

178. A esfera carnal onde vivemos está repleta de irreflexões de toda sorte. Raras criaturas começam a refletir seriamente na vida e nos deveres, antes do leito da morte física. (...) Há homens e mulheres, com maiores responsabilidades, em todos os bairros, que evidenciam paixões nefastas e destruidoras no campo dos sentimentos, dos negócios, das relações sociais. (Fábio Aleto, cap. 35, pág. 187)

179. Temo-nos descuidado das coisas pequeninas. Grande é o oceano, minúscula é a gota, mas o oceano não é senão a massa das gotas reunidas. Fala-nos o Mestre, em divino simbolismo, da semente de mostarda. (...) A semente de mostarda, a que se refere Jesus, constitui o gesto, a palavra, o pensamento da criatura. (Fábio Aleto, cap. 35, pág. 187)

180. Há muitas pessoas que falam em humildade, mas nunca revelam um gesto de obediência. Jamais realizaremos a bondade, sem começarmos a ser bons. Alguma coisa pequenina há de ser feita, antes de edificarmos as grandes coisas. O Senhor ensinou que o reino dos céus está dentro de nós. Ora, é portanto em nós mesmos que devemos desenvolver o trabalho máximo de realização divina, sem o que não passaremos de grandes irrefletidos. (Fábio Aleto, cap. 35, pág. 187)

181. A floresta também começou de sementes minúsculas. E nós, espiritualmente falando, temos vivido em densa floresta de males, criados por nós mesmos, em razão da invigilância na escolha de sementes espirituais. A palestra de uma hora, o pensamento de um dia, o gesto de um momento podem representar muito em nossas vidas. (Fábio Aleto, cap. 35, págs. 187 e 188)

182. Tenhamos cuidado com as coisas pequeninas e selecionemos os grãos de mostarda do reino dos céus. Lembremos que Jesus nada ensinou em vão. Toda vez que "pegarmos" desses grãos, consoante a Palavra Divina, semeando-nos no campo íntimo, receberemos do Senhor todo o auxílio necessário. Conceder-nos-á a chuva das bênçãos, o sol do amor eterno, a vitalidade sublime da esfera superior. Nossa semeadura crescerá e, em breve tempo, atingiremos elevadas edificações. (Fábio Aleto, cap. 35, pág. 188)

183. Cada qual receberá a luz espiritual conforme a própria capacidade. Há muitos companheiros nossos, aqui reunidos, que registram o comentário de Fábio com mais dificuldade que as próprias crianças. (Aniceto, cap. 36, pág. 189)

184. Quando sabemos amar e esperar, meus filhos, não nos separamos dos entes queridos que morrem para a vida física. (Isabel, cap. 36, pág. 190)

185. A pobreza é uma das melhores oportunidades de elevação, ao nosso alcance (...) Na pobreza, é mais fácil encontrar a amizade sincera, a visão da assistência de Deus, os tesouros da natureza, a riqueza das alegrias simples e puras. (...) Refiro-me aos pobres que trabalham e guardam a fé. (Isabel, cap. 36, págs. 191 e 192)

186. O homem de grandes possibilidades financeiras muito dificilmente saberá discernir entre a afeição e o interesse mesquinho; crente de que tudo pode, nem sempre consegue entender a divina proteção; pelo conforto viciado a que se entrega, as mais das vezes se afasta das bênçãos da Natureza; e em vista de muito satisfazer aos próprios caprichos, restringe a capacidade de alegrar-se e confiar no mundo. (Isabel, cap. 36, pág. 192)

187. As flores são sempre belas, mas a vida não pode prosseguir sem a bênção dos frutos. Por onde andarmos no mundo, receberemos muitos alvitres da mentira venenosa. (Isabel, cap. 36, pág. 192)

188. O Evangelho dá equilíbrio ao coração. (Aniceto, cap. 36, pág. 193)

189. O mundo pode fabricar novas indústrias, novos arranha-céus, erguer estátuas e cidades, mas, sem a bênção do lar, nunca haverá felicidade verdadeira. (Aniceto, cap. 37, pág. 194)

190. Bem-aventurados os que cultivam a paz doméstica. (Uma entidade de nome ignorado por André Luiz, cap. 37, pág. 194)

191. Com a maioria de irmãos encarnados, o sono apenas reflete as perturbações fisiológicas ou sentimentais a que se entregam; entretanto, existe grande número de pessoas que, com mais ou menos precisão, estão aptas a desenvolver este intercâmbio espiritual. (Aniceto, cap. 37, pág. 195)

192. Nossos corpos e os de nossos companheiros encarnados apresentam diversidade essencial. Imaginemos o círculo da Crosta como um oceano de oxigênio. As criaturas terrestres são elementos pesados que se movimentam no fundo, enquanto nós somos as gotas de óleo, que podem voltar à tona, sem maiores dificuldades, pela qualidade do material de que se constituem. (Aniceto, cap. 37, pág. 196)

193. Nunca poderemos enumerar todos os benefícios da oração. Toda vez que se ora num lar, prepara-se a melhoria do ambiente doméstico. Cada prece do coração constitui emissão eletromagnética de relativo poder. Por isso mesmo, o culto familiar do Evangelho não é tão só um curso de iluminação interior, mas também processo avançado de defesa exterior, pelas claridades espirituais que acende em torno. (Aniceto, cap. 37, pág. 197)

194. O homem que ora traz consigo inalienável couraça. O lar que cultiva a prece transforma-se em fortaleza, compreenderam? As entidades da sombra experimentam choques de vulto, em contacto com as vibrações luminosas deste santuário doméstico, e é por isso que se mantêm à distância, procurando outros rumos... (Aniceto, cap. 37, pág. 197)

195. Os Espíritos encarnados, tão logo se realize a consolidação dos laços físicos, ficam submetidos a imperiosas leis dominantes na Crosta. Entre eles e nós existe um espesso véu. É a muralha das vibrações. Sem a obliteração temporária da memória, não se renovaria a oportunidade. Se o nosso campo lhes fora francamente aberto, olvidariam as obrigações imediatas, estimariam o parasitismo, prejudicando a própria evolução. (Aniceto, cap. 38, pág. 200)

196. Através das correntes magnéticas suscetíveis de movimentação, quando se efetua o sono dos encarnados, são mantidas obsessões inferiores, perseguições permanentes, explorações psíquicas de baixa classe, vampirismo destruidor, tentações diversas. Ainda são poucos, relativamente, os irmãos encarnados que sabem dormir para o bem... (Aniceto, cap. 38, pág. 203)

197. Tanto assalta o homem a nuvem de bactérias destruidoras da vida física, quanto as formas caprichosas das sombras que ameaçam o equilíbrio mental. Como vêem, o "orai e vigiai" do Evangelho tem profunda importância em qualquer situação e a qualquer tempo. (Aniceto, cap. 40, pág. 211)

198. Não podemos considerar somente, no capítulo das moléstias, a situação fisiológica propriamente dita, mas também o quadro psíquico da personalidade encarnada. Ora, se temos a nuvem de bactérias produzidas pelo corpo doente, temos a nuvem de larvas mentais produzidas pela mente enferma, em identidade de circunstâncias. Desse modo, na esfera das criaturas desprevenidas de recursos espirituais, tanto adoecem corpos, como almas. (Aniceto, cap. 40, pág. 211)

199. No futuro, por esse mesmo motivo, a medicina da alma absorverá a medicina do corpo. Poderemos, na atualidade da Terra, fornecer tratamento ao organismo de carne. Semelhante tarefa dignifica a missão do consolo, da instrução e do alívio. Mas, no que concerne à cura real, somos forçados a reconhecer que esta pertence exclusivamente ao homem-espírito. (Aniceto, cap. 40, págs. 211 e 212)

200. Por isso, a existência terrestre é uma gloriosa oportunidade para os que se interessam pelo conhecimento e elevação de si mesmos. E, por esta mesma razão, ensinamos a necessidade da fé religiosa entre as criaturas humanas. (...) As ciências e as filosofias preparam o campo; entretanto, a fé que vence a morte, é a semente vital. Possuindo-lhe o valor eterno, encontra o homem bastante dinamismo espiritual para combater até à vitória plena em si mesmo. (Aniceto, cap. 40, pág. 212)

201. Todos precisamos saber emitir e saber receber. Para alcançarem a posição de equilíbrio, nesse mister, empenham-se os homens encarnados e nós outros, em luta incessante. E já que conhecemos alguma coisa da eternidade, é preciso não esquecer que toda queda prejudica a realização, e todo esforço nobre ajuda sempre. (Aniceto, cap. 40, pág. 212)

202. Enquanto os homens, herdeiros de Deus, cultivarem o campo inferior da vida, haverá também criações inferiores, em número bastante para a batalha sem tréguas em que devem ganhar os valores legítimos da evolução. (Aniceto, cap. 40, pág. 213)

203. Os desencarnados, embora não se fatiguem como as criaturas terrestres, não prescindem da pausa de repouso. Em geral, nossas operações, à noite, são ativas e laboriosas. Apenas um terço dos companheiros espirituais, em serviço na Crosta, conserva-se em atividade diurna. (Aniceto, cap. 41, pág. 214)

204. O dia terrestre pertence, com mais propriedade, ao serviço do Espírito encarnado. (...) O dia e a noite constituem, para o homem, uma folha do livro da vida. A maior parte das vezes, a criatura escreve sozinha a página diária, com a tinta dos sentimentos que lhe são próprios, nas palavras, pensamentos, intenções e atos, e no verso, isto é, na reflexão noturna, ajudamo-la a retificar as lições e acertar as experiências, quando o Senhor no-lo permite. (Aniceto, cap. 41, págs. 214 e 215)
205. A Natureza nunca é a mesma em toda parte. Não há duas porções de terra, com climas absolutamente iguais. (...) É forçoso reconhecer, porém, que o campo, em qualquer condição, no círculo dos encarnados, é o reservatório mais abundante e vigoroso de princípios vitais. (Aniceto, cap. 41, pág. 215)

206. O reino vegetal possui cooperadores numerosos. (...) muitos irmãos se preparam para o mérito de nova encarnação no mundo, prestando serviço aos reinos inferiores. O trabalho com o Senhor é uma escola viva, em toda parte. (Aniceto, cap. 41, pág. 216)

207. A cólera é punida por suas conseqüências. Ao mal segue-se o mal. (...) ninguém pode educar odiando, nem edificar algo de útil com a fúria e a brutalidade. (Aniceto, cap. 41, pág. 218)

208. Altamente surpreendido, reparei na grande serenidade do nosso orientador e comecei a compreender que ninguém desrespeita a Natureza sem o doloroso choque de retorno, a todo tempo. (André Luiz, cap. 41, pág. 218)

209. Há milênios a Natureza espera a compreensão dos homens. Não se tem alimentado tão-somente de esperança, mas vive em ardente expectação, aguardando o entendimento e o auxílio dos Espíritos encarnados na Terra... Entretanto, as forças naturais continuam sofrendo a opressão de todas as vaidades humanas. (...) Muitos de vós aqui permaneceis, como em múltiplas regiões do planeta, ajudando a companheiros encarnados, acorrentados às ilusões da ganância de ordem material. (Aniceto, cap. 42, pág. 220)

210. Se o homem conseguisse fixar dez gramas, aproximadamente, dos mil litros de nitrogênio que respira diariamente, a Crosta estaria transformada no paraíso verdadeiramente espiritual. (Aniceto, cap. 42, pág. 222)

211. Ensinemos aos nossos irmãos que a vida não é um roubo incessante, em que a planta lesa o solo, o animal extermina a planta e o homem assassina o animal, mas um movimento de permuta divina, de cooperação generosa, que nunca perturbaremos sem grave dano à própria condição de criaturas responsáveis e evolutivas. (Aniceto, cap. 42, pág. 223)


212. Preparativos da reunião - Um pouco antes das dezoito horas, o salão da casa de Isabel já estava repleto de trabalhadores espirituais. Os preparativos da reunião eram intensos. Irmãos dividiam a sala de modo singular, utilizando longas faixas fluídicas, destinadas a limitar a zona de influenciarão dos sofredores que seriam trazidos à reunião. O próprio ar era magnetizado pelos Espíritos, impregnando o ambiente de elementos espirituais necessários ao êxito do trabalho. Isabel e Joaninha limparam o recinto e puseram uma toalha muito alva sobre a mesa, além de pequenos recipientes de água pura. Vigilantes se espalharam em derredor da moradia singela. Pouco depois começaram a chegar os necessitados desencarnados. Rostos esqueléticos causavam compaixão; pareciam cadáveres erguidos do túmulo. As entidades chegavam seguidas de orientadores fraternais. Muitos estampavam no rosto profunda angústia. Senhoras em pranto eram numerosas. Alguns mantinham as mãos no ventre, calcando regiões feridas. Não eram poucas as que traziam ataduras e faixas. Diante dos olhos tinha-se uma autêntica reunião de "coxos e estropiados", conforme a alusão evangélica. O quadro consternava. Aniceto explicou então que não seriam admitidas no recinto entidades perversas, porque a casa de Isabel e Isidoro não estava preparada para atendê-las. (Cap. 43, págs. 224 a 226)

213. Passes de reconforto - O cenário lembrava o ambiente das Câmaras de Retificação da colônia "Nosso Lar". Começam então os passes de reconforto aos enfermos desencarnados. André é conclamado a esse serviço pela primeira vez. Aniceto deixa aos seus cuidados um grupo de seis enfermos. Uma senhora profundamente abatida e cega foi a primeira a ser atendida por André Luiz. O tracoma tirara-lhe a visão. (N.R.: Tracoma é doença contagiosa que se assenta, de preferência, na conjuntiva palpebral e atinge também a córnea.)  À medida que André se dispôs ao serviço do passe, uma claridade diferente começou a iluminar e a aquecer-lhe a fronte. Reparou então que enorme placa de sombra pesava sobre a fronte da mulher. Pronunciando palavras de animação, às quais ligava a melhor essência de suas intenções, concentrou suas possibilidades magnéticas de auxílio naquela zona perturbada. Em poucos instantes, a enferma desencarnada desferiu um grito de alegria: "Vejo, vejo – grande Deus! grande Deus!" E ajoelhando-se, dirigiu-se feliz a André, que não conseguia, por sua vez, dominar as próprias emoções. A luz daquela dádiva mostrava-lhe mais fortemente o fundo escuro de suas imperfeições e o pranto inundou-lhe as faces, até que Aniceto aproximou-se delicadamente e disse, em voz baixa, que a excessiva contemplação dos resultados pode prejudicar o trabalhador. (Cap. 44, págs. 229 a 232)

214. Resultados dos passes - Aniceto lembrou a André que todo o bem procede do Senhor e que nós somos apenas seus instrumentos nas tarefas do amor. André recomendou então à enferma que não se impressionasse em demasia com a visão dos aspectos exteriores e voltasse o poder visual para dentro de si mesma, a fim de consagrar ao Senhor da Vida os sublimes dons da visão, e passou a atender a um irmão que falecera vitimado pelo câncer. Depois, atendeu dois ex-tuberculosos, uma senhora que desencarnara em conseqüência de um tumor maligno e um rapaz que falecera num choque operatório. Nenhum dos quatro últimos manifestou, porém, qualquer alívio. Persistiam neles as mesmas indisposições orgânicas e os mesmos fenômenos psíquicos de sofrimento. Aniceto esclareceu que as atividades de assistência se processam assim: alguns se sentem curados, outros acusam melhoras, mas a maioria parece continuar impermeável ao serviço de auxílio. O que nos deve interessar, portanto, é a semeadura do bem; os resultados pertencem ao Senhor – acrescentou o instrutor espiritual. Vicente estranhou o número de entidades perturbadas. Aniceto informou que esmagadora percentagem desses padecimentos se deve à falta de educação religiosa – essa educação íntima e profunda que o homem nega sistematicamente a si mesmo. (Cap. 44, págs. 232 e 233)

215. Uma mente enferma - A reunião se destinava também aos encarnados. Um deles, pessoa aprumada e bem posta, mantinha-se em conversa com o senhor Bentes, doutrinador do grupo. Era Dr. Fidélis, um cavalheiro rodeado de sombra –  pequenas nuvens –  ao longo do cérebro. Cético, ele se dizia desalentado porque há muito que procurava, nas reuniões espíritas, algo que o satisfizesse. Para ele, a Metapsíquica havia reduzido o mediunismo em suas proporções, e aludia, ainda, às fraudes produzidas por médiuns na Europa e na América. A tudo, Bentes respondia com serenidade, explicando que o Espiritismo se dirige, sobretudo, ao coração dos homens e que a revelação não compactua com as leis de menor esforço, sendo preciso que cada um busque nessa fonte sublime e pura a água da renovação própria. Fidélis replicou dizendo esperar ainda a mensagem dos seus familiares com os sinais iniludíveis da sobrevivência após a morte. Os comentários de Aniceto a respeito do caso não se fizeram esperar. Há muitas pessoas assim, disse o instrutor. São pesquisadores de superfície que tudo esperam dos outros, sem nenhum esforço próprio, sem se dar ao trabalho das obras, sem atender à responsabilidade. Vivendo no torvelinho das libações, agarrados aos interesses inferiores e à satisfação dos sentidos físicos, eles ainda aguardam mensagens espirituais... (Cap. 45, págs. 234 a 238)

216. A assembléia invisível - A preleção evangélica da noite foi feita por Bentes, colaborador de Isabel naquele trabalho. A assembléia visível aos olhos humanos era formada por 35 pessoas; no entanto, o número de necessitados excedia de duas centenas, porque, agora, o grupo estava acrescido de muitas entidades desencarnadas que formavam o séquito perturbador da maioria dos encarnados ali presentes. Para tais entidades organizou-se uma divisão especial, que pareceu a André constituída por elementos de maior vigilância. Num ângulo da mesa havia numerosas indicações de receituário e assistência. Muitos nomes ali se enfileiravam. Pessoas pediam conselhos médicos, orientação, assistência e passes. Quatro médicos desencarnados se moviam diligentes e, secundando-lhes o esforço, quarenta cooperadores diretos iam e vinham, recolhendo informações e enriquecendo pormenores. Vicente pergunta se todas as pessoas nominadas receberão o que solicitam. Aniceto informa que receberão aquilo de que precisam. Quanto aos que pedem a cura do corpo, os mentores estudam até que ponto lhes podem ser úteis, no particularismo dos seus desejos. Outros pedem orientações diversas, e os Espíritos têm todo o cuidado para não lhes tolher a liberdade individual. Nesse sentido, a maior parte dos pedidos são desassisados. (Cap. 46, págs. 239 e 240)

217. A preleção - A palestra de Bentes, que era inspirado por uma entidade de nobre posição, era recebida com respeito geral, no círculo das entidades desencarnadas. Não se notava, porém, o mesmo traço de harmonia na esfera dos encarnados. Nesses, o pensamento era instável, a expectativa ansiosa dos presentes perturbava a corrente vibratória e o palestrante parecia, às vezes, perder "o fio das idéias". Então colaboradores ativos restabeleciam o ritmo, quanto possível. Alguns irmãos encarnados se mantinham irrequietos, em demasia. Principalmente os mais novos em conhecimentos doutrinários exibiam enorme irresponsabilidade; a mente lhes vagava muito longe dos comentários edificantes; viam-se-lhes distintamente as imagens mentais. Alguns se prendiam aos problemas domésticos, outros se impacientavam por não lograrem a realização imediata dos propósitos que os haviam levado ali. André reconhecia que os benefícios imediatos da doutrinação de Bentes eram muito mais visíveis entre os desencarnados. Entre estes, não havia um só que não recebesse consolações diretas e sublime conforto. (Cap. 47, págs. 243 a 245)

218. Dois pedidos negados - Pouco antes de Isabel entregar-se ao trabalho do receituário, uma senhora desencarnada se aproximou de Isidoro, consultando-o sobre a possibilidade de se comunicar, através de Isabel, com sua filha, presente à reunião. Anselmo, o instrutor mais graduado da reunião, não julgou viável o pedido, asseverando que a filha não estava em condições de receber tal bênção. No estado evolutivo em que se encontrava, a jovem se agarraria excessivamente ao auxílio da mãe afetuosa e sensível, com prejuízo para ambas. Isidoro promete-lhe, entretanto, favorecer o seu encontro com a filha, em sonho, no dia seguinte. Uma outra entidade também se acercou de Isidoro, solicitando-lhe interceder junto dos receitistas para que fornecessem novas indicações médicas a Amaro, seu sobrinho, que necessitava de amparo à saúde física. Isidoro nega-se a isso, lembrando a rebeldia de Amaro ao tratamento já indicado anteriormente, em cinco ocasiões diferentes. Ele não adquire os medicamentos receitados, e quando os obtém, por obséquio de amigos, despreza os horários e julga-se superior ao método, além de criticar mordazmente as indicações recebidas e delas servir-se com desprezo. Isidoro falava, porém, com uma inflexão de bondade fraternal, que afastava todos os característicos da franqueza contundente. E acrescentou: "Se Amaro pedir e os receitistas cederem, tudo estará muito bem", ou seja, a iniciativa deve partir do interessado, não dos outros. (Cap. 47, págs. 245 a 247)

219. Razões da presença de enfermos desencarnados - Por que se reuniam ali tantos desencarnados? Se eles recebiam assistência espiritual, por que não congregar-se em lugares igualmente espirituais? Aniceto esclareceu o fato dizendo que grande número de criaturas, na passagem para o mundo espiritual, sentem-se possuídas de "doentia saudade do agrupamento", como acontece aos animais, quando sentem a mortal "saudade do rebanho". Para fortalecer as possibilidades de adaptação desses Espíritos ao novo "habitat", o serviço de socorro é mais eficiente, ao contacto das forças magnéticas dos irmãos que ainda se encontram nos círculos carnais. O calor humano está cheio dum magnetismo de teor mais significativo para eles. Nesse contacto, experimentam o despertar de forças novas. E todos os encarnados do recinto, inclusive os preguiçosos, dorminhocos e invigilantes, davam alguma coisa de si, sem o saber... Davam calor magnético, irradiações vitais proveitosas aos benfeitores espirituais, que manipulam os elementos dessa natureza, distribuindo-os em valiosas combinações fluídicas às entidades combalidas e inadaptadas. Grande número de vezes, além de ministrar medicação aos corpos doentes, os Espíritos também orientam os desencarnados presentes. E nesse trabalho conta-se com o esforço não apenas dos familiares desencarnados dos enfermos, mas com companheiros que se consagram a cuidar de tuberculosos, cegos, aleijados, leprosos, perturbados e moribundos. (Cap. 48, págs. 248 a 250)

220. O caso da noiva medrosa - Aniceto e seus companheiros vão, a convite de uma entidade amiga, atender a um caso no necrotério local, onde defrontaram um quadro interessante. O cadáver de uma jovem, de menos de trinta anos, ali jazia gelado e rígido, tendo ao lado uma entidade masculina, em atitude de zelo. A desencarnada estava unida aos despojos; parecia recolhida a si mesma, sob forte impressão de terror. O desprendimento espiritual já ocorrera, fazia seis horas, mas ela não saía dali, com medo do Espírito ao lado, seu próprio noivo, que a esperava há muito no plano espiritual. Aniceto aplicou-lhe um passe reconfortador e ela adormeceu quase imediatamente. Em seguida, entregou-a aos cuidados do rapaz que, utilizando a volitação, carregou consigo o fardo suave do seu amor. Pela bondade natural do coração e pelo espontâneo cultivo da virtude, a jovem não precisaria de provas purgatoriais. Seu medo se devia à falta de educação religiosa. Em breve tempo, porém, ela se adaptaria à nova vida, visto que os bons não encontram obstáculos insuperáveis – explicou Aniceto. (Cap. 48, págs. 250 a 252)

221. Desenlace difícil - Aniceto atendeu, em seguida, Fernando, um cavalheiro de sessenta anos, que a leucemia aniquilava morosamente. O atendente espiritual explicou que o enfermo se encontrava em coma havia muitos dias, havendo necessidade de mais forte auxílio magnético, para facilitar o desprendimento. Duas senhoras desencarnadas – a mãe de Fernando e uma parenta próxima – estavam no aposento, onde vários familiares encarnados davam mostras de grande aflição. A alma se retirava lentamente através de pontos orgânicos insulados. No centro do crânio, André notou que havia um foco de luz mortiça. "A luz que você observa –  disse-lhe Aniceto –  é a mente, para cuja definição essencial não temos, por agora, conceituação humana." Com o auxílio de Aniceto, que impôs a destra em sua fronte, André passou a ter uma visão extraordinária do corpo enfermo, que se ampliou consideravelmente, possibilitando a André o exame meticuloso de todo o funcionamento daquela máquina magnífica, nos mais íntimos detalhes. O agonizante retraía-se aos poucos e só não abandonara a carne, por falta de educação mental. Seu organismo combalido mostrava que ele vivera bem distante da disciplina de si mesmo. (Cap. 49, págs. 253 a 257)

222. A desencarnação - A mãe do moribundo pediu a Aniceto ajudasse no desprendimento de seu filho. A aflição dos familiares encarnados, ali presentes, dificultava a ação. Todos eles emitiam recursos magnéticos em benefício do agonizante. De fato, André notou que uma rede de fios cinzentos e fracamente iluminados parecia ligar os parentes ao enfermo quase morto, e era preciso, pois, neutralizar essas forças. Foi o que fez Aniceto. Com aplicações magnéticas, o instrutor conseguiu que o moribundo apresentasse inexplicável melhora. O médico encarnado anunciou que a pulsação estava quase normal e a respiração tendia à calma. Foi o suficiente para os encarnados darem uma trégua em suas preocupações. Aniceto aproveitou a serenidade ambiente e começou a retirar o corpo espiritual do morto, desligando-o dos despojos, iniciando a operação pelos calcanhares e terminando na cabeça, à qual, por fim, parecia estar preso o moribundo por extenso cordão, tal como se dá com os nascituros terrenos. Aniceto cortou o cordão com esforço. O corpo do falecido deu um estremeção. A operação não fora curta nem fácil. Demorara-se longos minutos, durante os quais Aniceto empregou todo o cabedal de sua atenção e talvez de suas energias magnéticas. A mãe do desencarnado prestou ao filho os socorros necessários. Daí a instantes, enquanto os familiares encarnados choravam sobre o cadáver, uma pequena comitiva constituída por três entidades saía conduzindo Fernando a um instituto de assistência, caminhando como simples mortais. (Cap. 50, págs. 258 a 262)

223. A visita dos comparsas - Pouco antes do desligamento de Fernando, o moribundo, alguém abriu a vidraça do quarto e três rostos horríveis surgiram, de repente, no peitoril, e interrogaram em voz alta: –  "Como é? Fernando vem ou não vem?" Ninguém respondeu. André notou, porém, que Aniceto lhes dirigiu significativo olhar, compelindo-os, tão só com essa medida, a desaparecer. Depois, ele esclareceu que os comparsas do moribundo só não penetraram o aposento porque a nobre presença maternal impedia tal assédio. Fernando estimava os companheiros desregrados. Não era, pois, estranhável que eles tivessem vindo esperá-lo na volta ao mundo real, porquanto cada criatura cultiva, na vida, as afeições que prefere, tendo, pois, como conseqüência, o séquito invisível a que se devota na Terra. (Cap. 50, págs. 261 e 262)

224. Nova visão da arte de curar - Ao contacto das revelações de Aniceto, nos domínios da eletricidade e do magnetismo, André reformara todos os seus antigos conhecimentos de medicina. A ascendência mental no equilíbrio orgânico, as forças radioativas, o campo das bactérias, a visão mais ampla da matéria organizada, compeliam-no a nova conceituação científica na arte de curar os corpos enfermos. Alargara-se, sobretudo, em sua alma, o entendimento acerca do Médico Divino que restabelece a saúde do Espírito imortal. Ele tinha agora mais largo conhecimento de Jesus e compreendia que a fé não constitui uma afirmativa de lábios, mas é, sim, uma fonte de água viva, a nascer espontaneamente em sua alma e a traduzir-se em reverência profunda, aliada ao mais alto conceito de serviço e responsabilidade, diante das sublimes concessões do Eterno Pai. “Quando o instrutor nos convidou a regressar – diz André Luiz –, sentia-me positivamente outro. Guardava a impressão de haver encontrado as notícias diretas do Senhor Jesus, na descoberta do meu próprio mundo interior.” No momento das despedidas foi muito difícil para ele e Vicente conterem as lágrimas que insistiam em cair de seus olhos úmidos de reconhecimento por todas as lições recebidas do devotado orientador. (Cap. 51, págs. 263 e 264)

Frases e apontamentos importantes

225. Realizar uma sessão de trabalhos espirituais eficientes não é coisa tão simples. Quando encontramos companheiros encarnados, entregues ao serviço com devotamento e bom ânimo, isentos de preocupação, de experiências malsãs e inquietações injustificáveis, mobilizamos grandes recursos a favor do êxito necessário. (Aniceto, cap. 43, pág. 224)

226. Quem não deseje cuidar de semelhantes obrigações, com a seriedade devida, poderá esperar fatalmente pelos espíritos menos sérios, porquanto a morte física não significa renovação para quem não procurou renovar-se. Onde se reúnam almas levianas, aí estará igualmente a leviandade. (Aniceto, cap. 43, pág. 224)

227. Em todos os setores evolutivos, é natural que o trabalhador sincero e eficiente receba recursos sempre mais vastos. Onde se encontre a atividade do bem, permanecerá a colaboração espiritual de ordem superior. (Aniceto, cap. 43, págs. 224 e 225)

228. Já os sacerdotes do antigo Egito não ignoravam que, para atingir determinados efeitos, é indispensável impregnar a atmosfera de elementos espirituais, saturando-a de valores positivos da nossa vontade. Para disseminar as luzes evangélicas aos desencarnados, são precisas providências variadas e complexas, sem o que, tudo redundaria em aumento de perturbações. (Aniceto, cap. 43, pág. 225)

229. Se fosse concedida à criatura vulgar uma vista de olhos, ainda que ligeira, sobre uma assembléia de espíritos desencarnados, em perturbação e sofrimento, muito se lhes modificariam as atitudes na vida normal. Nessa afirmativa, devemos incluir, igualmente, a maioria dos próprios espiritistas, que freqüentam as reuniões doutrinárias, alheios ao esforço auto-educativo, guardando da espiritualidade uma vaga idéia, na preocupação de atender ao egoísmo habitual. (André Luiz, cap. 43, pág. 226)

230. Demoramo-nos todos a escapar da velha concha do individualismo. A visão da universalidade custa preço alto e nem sempre estamos dispostos a pagá-lo. Não queremos renunciar ao gosto antigo, fugimos aos sacrifícios louváveis. Nessas circunstâncias, o mundo que prevalece para a alma desencarnada, por longo tempo, é o reino pessoal de nossas criações inferiores. (Aniceto, cap. 43, pág. 227)

231. Toda competência e especialização no mundo, nos setores de serviço, constituem o desenvolvimento da boa vontade. Bastam o sincero propósito de cooperação e a noção de responsabilidade para que sejamos iniciados, com êxito, em qualquer trabalho novo. (Aniceto, cap. 44, pág. 229)

232. Nunca te negues, quanto possível, a auxiliar os que sofrem. Ao pé dos enfermos, não olvides que o melhor remédio é a renovação da esperança; se encontrares os falidos e os derrotados da sorte, fala-lhes do divino ensejo do futuro; se fores procurado, algum dia, pelos espíritos desviados e criminosos, não profiras palavras de maldição. Anima, eleva, educa, desperta, sem ferir os que ainda dormem. Deus opera maravilhas por intermédio do trabalho de boa vontade. (Narcisa, cap. 44, págs. 229 e 230)

233. A excessiva contemplação dos resultados pode prejudicar o trabalhador. Em ocasiões como esta, a vaidade costuma acordar dentro de nós, fazendo-nos esquecer o Senhor. Não olvides que todo o bem procede d'Ele, que é a luz de nossos corações. Somos seus instrumentos nas tarefas de amor. O servo fiel não é aquele que se inquieta pelos resultados, nem o que permanece enlevado na contemplação deles, mas justamente o que cumpre a vontade divina do Senhor e passa adiante. (Aniceto, cap. 44, págs. 231 e 232)

234. As atividades de assistência se processam conforme observam aqui. Alguns se sentem curados, outros acusam melhoras, e a maioria parece continuar impermeável ao serviço de auxílio. O que nos deve interessar, todavia, é a semeadura do bem. A germinação, o desenvolvimento, a flor e o fruto pertencem ao Senhor. (Aniceto, cap. 44, pág. 233)

235. Devemos esmagadora percentagem desses padecimentos à falta de educação religiosa. Não me refiro, porém, àquela que vem do sacerdócio ou que parte da boca de uma criatura para os ouvidos de outra. Refiro-me à educação religiosa, íntima e profunda, que o homem nega sistematicamente a si mesmo. (Aniceto, cap. 44, pág. 233)

236. Concordo em que o Espiritismo não deva fugir a toda espécie de considerações sérias; contudo, creio que a doutrina é um conjunto de verdades sublimes, que se dirigem, de preferência, ao coração humano. É impossível auscultar-lhe a grandeza divina com a nossa imperfeita faculdade de observação, ou recolher-lhe as águas puras com o vaso sujo dos nossos raciocínios viciados nos erros de muitos milênios. Ao demais, temos aprendido que a revelação de ordem divina não é trabalho mecânico em leis de menor esforço. (Bentes, cap. 45, pág. 235)

237. Primeiramente, devemos construir o receptáculo; em seguida, alcançaremos a bênção. A Bíblia, sagrado livro dos cristãos, é o encontro da experiência humana, cheia de suor e lágrimas, consubstanciada no Velho Testamento, com a resposta celestial, sublime e pura, no Evangelho de Nosso Senhor. (Bentes, cap. 45, pág. 235)

238. Estaríamos laborando em erro grave, se colocássemos toda a responsabilidade doutrinária nas organizações mediúnicas. Os médiuns são simples colaboradores do trabalho de espiritualização. Cada um responderá pelo que fez das possibilidades recebidas, como também nós seremos compelidos a contas necessárias, algum dia. (...) A doutrina é uma fonte sublime e pura, inacessível aos pruridos individualistas de qualquer de nós, fonte na qual cada companheiro deve beber a água da renovação própria. (Bentes, cap. 45, pág. 237)

239. Muitos solicitam a cura do corpo, mas somos forçados a estudar até que ponto lhes podemos ser úteis, no particularismo dos seus desejos; outros reclamam orientações várias, obrigando-nos a equilibrar nossa cooperação, de modo a lhes não tolher a liberdade individual. (Aniceto, cap. 46, pág. 240)

240. A existência terrestre é um curso ativo de preparação espiritual e, quase sempre, não faltam na escola os alunos ociosos, que perdem o tempo ao invés de aproveitá-lo, ansiosos pelas realizações mentirosas do menor esforço. Desse modo, no capítulo das orientações, a maior parte dos pedidos são desassisados. (Aniceto, cap. 46, pág. 240)

241. A solicitação de terapêutica para a manutenção da saúde física, pelos que de fato se interessem pelo concurso espiritual, é sempre justa; todavia, no que concerne a conselhos para a vida normal, é imprescindível muita cautela de nossa parte, diante das requisições daqueles que se negam voluntariamente aos testemunhos de conduta cristã. O Evangelho está cheio de sagrados roteiros espirituais e o discípulo, pelo menos diante da própria consciência, deve considerar-se obrigado a conhecê-los. (Aniceto, cap. 46, pág. 240)

242. Diante de determinadas solicitações dos companheiros encarnados, devemos recorrer, muitas vezes, ao silêncio. Como recomendar humildade àqueles que a pregam para os outros; como ensinar a paciência aos que a aconselham aos semelhantes, e como indicar o bálsamo do trabalho aos que já sabem condenar a ociosidade alheia? Não seria contra-senso? (Aniceto, cap. 46, págs. 240 e 241)

243. Ler os regulamentos da vida para os cegos e para os ignorantes é obra meritória, mas, repeti-los aos que já se encontram plenamente informados, não será menosprezo ao valor do tempo? Alma alguma, nas diversas confissões religiosas do Cristianismo, recebe notícias de Jesus, sem razão de ser. Ora, se toda condição de trabalho edificante traduz compromisso da criatura, todo conhecimento do Cristo traduz responsabilidade. (Aniceto, cap. 46, pág. 241)

244. Muitas entidades desencarnadas estimam o fornecimento de palpites para as diversas situações e dificuldades terrestres, mas esses pobres amigos estacionam desastradamente em questões subalternas, incapazes de uma visão mais alta, em face dos horizontes infinitos da vida eterna... (Aniceto, cap. 46, pág. 242)

245. Muitos estudiosos do Espiritismo se preocupam com o problema da concentração, em trabalhos de natureza espiritual. (...) Entretanto, quem diz concentrar, forçosamente se refere ao ato de congregar alguma coisa. Ora, se os amigos encarnados não tomam a sério as responsabilidades que lhe dizem respeito, fora dos recintos da prática espiritista, se, porventura, são cultores da leviandade, da indiferença, do erro deliberado e incessante, da teimosia, da inobservância interna dos conselhos de perfeição cedidos a outrem, que poderão concentrar nos momentos fugazes de serviço espiritual? (Aniceto, cap. 47, pág. 244)

246. Boa concentração exige vida reta. Para que os nossos pensamentos se congreguem uns aos outros, fornecendo o potencial de nobre união para o bem, é indispensável o trabalho preparatório de atividades mentais na meditação de ordem superior. A atitude íntima de relaxamento, ante as lições evangélicas recebidas, não pode conferir ao crente, ou ao cooperador, a concentração de forças espirituais no serviço de elevação, tão só porque estes se entreguem, apenas por alguns minutos na semana, a pensamentos compulsórios de amor cristão. (Aniceto, cap. 47, pág. 244)

247. Não há tempo para conviver com os que estimam a brincadeira. Além disso, não será caridade o ato de dar aos que não querem receber. (Isidoro, cap. 47, págs. 246 e 247)

248. Para fortalecer as possibilidades de adaptação dos desencarnados dessa ordem ao novo "habitat", o serviço de socorro é mais eficiente, ao contacto das forças magnéticas dos irmãos que ainda se encontram envolvidos nos círculos carnais. Esta sala  <referindo-se à casa-oficina de Isabel>,  em momentos como este, funciona como grande incubadora de energias psíquicas, para os serviços de aclimação de certas organizações espirituais à vida nova. (Aniceto, cap. 48, pág. 248)

249. Os irmãos, nas condições a que me refiro, ouvem-nos a voz, consolam-se com o nosso auxílio, mas o calor humano está cheio dum magnetismo de teor mais significativo para eles. Com semelhante contacto, experimentam o despertar de forças novas. Por isso, o trabalho de cooperação, em templos desta espécie, oferece proporções que você, por agora, não conseguiria imaginar. (Aniceto, cap. 48, pág. 249)

250. Os bons não encontram obstáculos insuperáveis. (Aniceto, cap. 48, pág. 252)

251. Há muita afinidade entre o corpo físico e a máquina moderna. São ambos impulsionados pela carga de combustível, com a diferença de que no homem a combustão química obedece ao senso espiritual que dirige a vida organizada. É na mente que temos o governo dessa usina maravilhosa. (Aniceto, cap. 49, pág. 256)

252. A mente humana, ainda que indefinível pela conceituação científica limitada, na Terra, é o centro de toda manifestação vital no planeta. Cada órgão, cada glândula (...) integra o quadro de serviço da máquina sublime, construída no molde sutil do corpo espiritual preexistente e, por isso mesmo, chegará o tempo em que a ciência reconhecerá qualquer abuso do homem como ofensa causada a si mesmo. (Aniceto, cap. 49, pág. 256)

253. Cada criatura, na vida, cultiva as afeições que prefere. Fernando estimava os companheiros desregrados. Não é, pois, estranhável que tenham vindo esperá-lo na estação de volta à existência real. Paulo de Tarso, no capítulo 12 da Epístola aos Hebreus, afirma que o homem está cercado de uma grande "nuvem de testemunhas". (...) Cada um, pois, tem o séquito invisível a que se devota na Terra. (Aniceto, cap. 50, pág. 262)

254. A fé não constitui uma afirmativa de lábios, nem uma adesão de ordem estatística. (...) Era, sim, uma fonte d'água viva, nascendo espontaneamente em minha alma. Traduzia-se em reverência profunda, aliada ao mais alto conceito de serviço e responsabilidade, diante das sublimes concessões do Eterno Pai. (André Luiz, cap. 51, pág. 264)

255. Aceitar os mandamentos divinos e guardá-los, tornar o ouvido atento e o coração esclarecido, pedir entendimento e inteligência alçando a voz acima dos objetivos inferiores, buscar os tesouros do Cristo e procurar-lhe o programa de serviços, representa o esforço nobre daquele que, de fato, deseja a Divina Sabedoria. (Aniceto, cap. 51, pág. 265)


GEEAG - Grupo de Estudos Espíritas Abel Gomes

Astolfo Olegário de Oliveira Filho
Os Mensageiros.doc

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