quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Che Guevara bacaninha





“Não preciso de prova para executar um homem – apenas de prova acerca da necessidade de executá-lo.” Che Guevara (apud ORTEGA, 1970, p.179).

Aconteceu durante os últimos dias de dezembro de 1959; na escuridão da minúscula cela, dezesseis de nós dormiam no chão, enquanto outros dezesseis ficavam de pé, para que então pudessem descansar. Mas ninguém pensava nisso. Pensávamos somente no fato de estarmos vivos e que isso era o mais importante. Vivíamos hora por hora, minuto por minuto, sabendo que qualquer segundo poderia ser o último.

Certa manhã, quando o som o horripilante daquela porta de aço enferrujada que enquanto abria nos pôs de pé, os guardas do Che empurravam um novo prisioneiro para dentro da cela. Era um menino com no máximo uns 12 ou 14 anos. Seu rosto estava manchado de sangue. 'O que você fez?', perguntamos-lhe, horrorizados. 'Tentei defender o meu pai', balbuciou o menino sujo de sangue. 'Mas eles o mandaram para o paredão!'".

Todos se entreolharam como se para encontrar as palavras certas, a fim de consolar o menino, mas não as encontramos. Estávamos saturados dos nossos próprios problemas. Havia dois ou três dias que não executavam ninguém, e tínhamos cada vez mais esperança de que isso chegaria ao fim. As execuções são cruéis, tiram-lhe a vida quando mais você precisa dela para si e para os outros, sem levar em consideração seus protestos ou anseios de vida.

Nossa alegria não durou muito. Quando a porta se abriu, chamaram dez detentos para fora, entre os quais o menino que acabara de entrar. Estávamos errados, pois aqueles que eram chamados nunca mais eram vistos.

Como é possível tirar a vida de uma criança dessa forma? Seria possível estarmos equivocados e fossem nos soltar? Próximo do sangrento pavilhão onde conduziam as execuções, com as mãos na cintura, um homem perambulava de um lado para o outro: o abominável Che Guevara!

O Che deu a ordem para primeiro trazer a criança e cuspiu suas ordens no menino: 'Ajoelhe!'.

Nós todos gritávamos de nossa cela para que ele não cometesse esse crime e nos oferecemos a nós mesmos em seu lugar. O garoto o desobedeceu com uma coragem inexprimível em palavras e lhe respondeu com esta infame afronta: 'Se vocês vão me matar', disse ele, 'vão ter de fazê-lo enquanto ainda estou de pé. Homens morrem de pé!'.

Che posicionou-se atrás do garoto e sussurrou: 'Então você é um rapaz corajoso...'. Vimos Guevara sacar sua pistola. Ele encostou o cano atrás do pescoço do menino e disparou. O tiro quase arrancou sua cabeça.

Nós nos inflamos: 'Assassinos, covardes miseráveis!'. Che finalmente olhou para cima, em nossa direção, apontou-nos o revólver e esvaziou o pente. Não sei quantos de nós foram mortos ou feridos. A partir desse horrível pesadelo, do qual jamais conseguiremos despertar, embora feridos e na clínica universitária do hospital Calixto Garcia, uma coisa ficou clara: a única regra do jogo era escapar, a única esperança de sobrevivência.


Notas

O artigo acima do ex-prisioneiro Pierre San Martín pode ser encontrado na Revista Autogestión, n° 61, 28/12/2005.

O relato traduzido aqui também pode ser lido no excelente livro de Humberto Fontova, O Verdadeiro Che Guevara e os Idiotas Úteis que o Idolatram, É Realizações Editora, São Paulo, 2009, páginas 125-6.

Disponível em: http://www.trenblindado.com/Sanmartin.html (Inglês)
Disponível em: http://www.cubaeuropa.com/historia/Che/Che6.htm (Espanhol)
Citações
BRAVO, Marcos. La Otra Cara Del Che. 1. ed. Bogota: Editorial Solar, 2004. 558 p.
ORTEGA, Luis. Yo Soy El Che!. Mexico: Ediciones 
Monroy-Padilla, 1970.

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