terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Carl Palmer no CCBB - Rio




O show de Carl Palmer no CCBB-Rio: 

o baterista desceu o braço e as diferenças etárias no palco e na plateia desapareceram como em passe de mágica.

Resenha de Antonio Ernesto Martins, 
especial para a Coluna do LAM















No sábado passado (18 jan. 2014) a Carl Palmer Band 
aterrissou na tenda montada ao lado do CCBB do Rio de Janeiro 
para um show dentro da programação da Mostra
Internacional de Rock Progressivo. 

Oportunidade única para os aficionados desse estilo que, 
depois do auge nos anos 70, caiu no descrédito em tempos 
de música previsível, preguiçosa e de fácil digestão, com
pouca – ou nenhuma - elaboração rítmica e conceitual.

Já nos arredores do evento era possível identificar os
cabelos longos – dos que conseguiram conservá-los - e 
grisalhos que se esparramavam timidamente sobre as 
indefectíveis t-shirts com estampas de grupos como Yes, 
Pink Floyd, Gentle Giant, Jethro Tull e outros jurássicos 
dando um clima de deja vu que só era contestado pela 
presença também significativa de jovens e até crianças 
que, provavelmente, acompanhavam seus pais, tios e avôs. 

Lotação esgotada, casa cheia e muita expectativa até 
que Carl Palmer subiu ao palco acompanhado dos 
jovens músicos Paul Bielatowicz (guitarra) e Simon 
Fitzpatrick (baixo). Em uma forma física invejável 
para um senhor prestes a completar 64 anos, Palmer 
desceu o braço e as diferenças etárias no palco e
na plateia desapareceram como em passe de mágica.

O entrosamento da banda e o virtuosismo dos músicos 
que acompanhavam Palmer já puderam ser constatados 
nos primeiros acordes, mas não diminuíram a expectativa 
dos fãs do Emerson, Lake & Palmer que esperavam ver 
um revival do repertório da banda, um dos mais 
vitoriosos e marcantes grupos de rock progressivo de 
todos os tempos. 
Mas o Power trio montado por Palmer foi além.

Números como Knife Edge (ELP-1970) e Hoedown
(Trilogy-1972) mostraram o franzino Paul Bielatowicz
se agigantando em novos arranjos sem a pretensão de
ocupar espaços deixados pela ausência do órgão 
Hammond e do sintetizador Moog de Keith Emerson 
que foram a marca registrada do som do ELP. 
E a opção de partir para um som mais pesado e original, 
embora ainda marcado pelas tradicionais convenções
extraídas da música clássica, parece que foi a 
escolha certa. 
Foi possível confirmar isso a partir da execução 
primorosa do movimento O Fortuna da ópera Carmina 
Burana, que levantou os primeiros aplausos realmente 
enlouquecidos da plateia.

E as gratas surpresas continuaram com o solo do
excepcional baixista Simon Fitzpatrick que 
contemplou o público com uma versão emocionante 
de Stairway to Heaven do Led. 
Falar sobre a bateria de Palmer é um desafio, 
pois nela a levada e o solo se confundem e nunca 
conseguimos adivinhar para onde o músico vai antes que 
ele chegue lá.
E é exatamente isso que fez com que o show na 
tenda do CCBB se transformasse em um dos shows que 
vou guardar na prateleira dos melhores que já assisti. 
O show foi mais curto do que todos esperavam, mas o bis 
com Fanfare for the Common Man, com direito a solo 
apoteótico e irreverente de Mr. Palmer compensou.
Nota 10 também para o som extremamente bem equalizado.



Para os que acreditam que o rock progressivo é um estilo superado 
e chato, com suas suítes lisérgicas intermináveis e estéreis, a Carl 
Palmer Band mostrou aos cariocas que diante de tanta 
mediocridade  que reina na música mundial, uma progressive 
band pode fazer algo muito importante e necessário: 
surpreender-nos positivamente, com um virtuosismo que não é 
uma simples masturbação musical, mas que se comunica com o 
público e nos tira do conforto e do lugar comum. Showzaço 
onde Carl Palmer exibiu talento e simpatia, autografando 
pôsteres e CDs após a apresentação. Única resalva foi a ausência, 
apesar de inúmeros pedidos urrados pela plateia e por mim, de 
pelo menos um trecho do álbum Tarkus (1971), em minha 
opinião, o melhor do ELP.

Nenhum comentário:

Postar um comentário