quarta-feira, 14 de julho de 2010

TOCOU ATÉ O DIA DA MORTE

TOCOU ATÉ O DIA DA MORTE ....
acho que comigo vai ser assim também ..... ehehehehe ....

Aos 77 anos, morre o arranjador e compositor Paulo Moura
Músico é considerado um dos grandes instrumentistas da história da música popular brasileira

Essa semana (12/07/2010), o incomparável Paulo Moura nos deixou. Mas dois dias antes (10/07/2010), os seus grandes amigos músicos maravilhosos como ele fizeram uma singela e emocionante despedida na varanda da clínica onde ele se encontrava internado. Mesmo sem forças, ele fez questão de se juntar aos músicos e tocar pela última vez a música "Doce de Coco" de Jacob do Bandolim, acompanhado ao piano por Wagner Tiso. Uma bela despedida. É difícil não se emocionar. Viva Paulo Moura e vivam para sempre os grandes músicos da música brasileira.

“Paulo Moura nos dá força para saber que, aos 70 anos, tudo pode começar”, desabafa, emocionado, o violonista Yamandu Costa, ao falar do amigo e parceiro, que morreu segunda-feira, no Rio de Janeiro, aos 77 anos, vítima de câncer linfático. O corpo do músico será cremado hoje à tarde, em cerimônia restrita à família, depois do velório no salão nobre do Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes, no Rio.

Segundo Yamandu Costa, que gravou com ele o CD El negro del blanco, de 2004, Paulo foi um artista completo em todos os sentidos, e deixa uma grande influência, principalmente, sobre os mais jovens. “Nos últimos dias, diante do estado de saúde do Paulo, todos os músicos que faziam contato comigo eram meninos. Todos na faixa dos 30 anos, no máximo”, orgulha-se o violonista gaúcho. “Paulo era dono de uma brasilidade única, até pela época em que surgiu, quando a música americana influenciava a todos, inclusive ele”, acrescenta Yamandu.

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Para o pianista norte-americano Cliff Korman, que também gravou com o clarinetista brasileiro (Gafieira jazz, de 2006), Paulo Moura nunca foi limitado, musicalmente, em termos de gêneros e categorias. “E ele lutou para isso. Não era fácil, em algumas épocas, se manter assim”, ressalta Cliff, que, radicado no Rio de Janeiro, vem a Belo Horizonte semanalmente, para ministrar aulas na Escola de Música da UFMG. “A música brasileira sempre foi, digamos assim, a praia do Paulo, mas ele também buscou conexões com outras tradições e inovações”, acrescenta Cliff Korman. “Ele viveu e nos mostrou a possibilidade da música, o que a música tem de fazer.”

Um dos últimos músicos mineiros a tocar ao vivo com Paulo Moura, em Belo Horizonte, em 4 de junho, na Praça Nova da Pampulha, dentro da programação da Festa da Música, o violonista Juarez Moreira lembra que o clarinetista gravou duas faixas de Bom dia, o disco de estreia dele. “Paulo foi aquele cara atuante, amante da música, que mantinha um respeito e devoção pela música impressionantes”, diz Juarez. Ele salienta que o instrumentista do interior paulista (São José do Rio Preto) teve a oportunidade de comparecer e tocar todos os gêneros do choro, big band e gafieira.

“Depois ele fez bossa nova, convivendo com todos os grandes do gênero, chegando até Milton Nascimento, Wagner Tiso e Rafael Rabello. “É impressionante a energia, a versatilidade do Paulo, que também se exercitou na música erudita, tocando em orquestra sinfônica”, conclui Juarez. Quando da última passagem pela cidade, Paulo revelou que havia muito vinha sentindo necessidade de resgatar repertório que flertava com o interior brasileiro, com o resgate de clássicos de Tom Jobim, Angelino de Oliveira e Mário de Andrade, entre outros.

Aluno de um curso de verão ministrado por Paulo, em 1981, em Nova York, Cliff Korman diz que ali ele aprendeu com o mestre a grande lição: “Como músico, ele eliminou vários caminhos que eu não conhecia antes”, afirma, lembrando a luta mantida pelo brasileiro para fazer música instrumental, além de incluir nela o improviso. “Paulo estava sempre à procura de novas fronteiras”, garante o norte-americano. Também ex-aluno de Paulo, no Rio, o saxofonista Cleber Alves diz que Paulo Moura é a própria história da música popular brasileira. “O cara responsável pela articulação do saxofone brasileiro”, ressalta Cleber, lembrando que, além da clarineta, o músico paulista se exercitou no sax.

Muitos amigos, alunos e discípulos lamentaram a morte de Paulo Moura, destacando, além do grande músico, a figura humana. Para Nivaldo Ornelas, Paulo Moura não deu apenas aulas de música, mas de vida. “Há músicos admirados só do palco para fora, mas ele era para dentro também.” Leo Gandelman lembra que, no fim da vida, o clarinetista se importava com o sofrimento que poderia trazer aos amigos: “Doente, Paulo se preocupava com os outros, não queria que sofressem por ele, tentava minimizar”. Talvez por isso, pelo desejo de ser delicado, o músico tenha escolhido um choro para se despedir. Sábado, ao cair da tarde, tocou pela última vez na clínica onde estava internado, no Rio de Janeiro.

Homenagem
A TV Cultura (canal pago) reprisa nesta quarta-feira, às 23h, a edição especial do programa Ensaio com a participação de Paulo Moura. Na atração, gravada em 2006, o apresentador Fernando Faro recebe também João Donato – na época, os dois haviam lançado o álbum Dois panos pra manga.

Despedida from Eduardo Escorel on Vimeo.

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